A Polícia Civil de São Paulo apura as circunstâncias do óbito da atriz mirim Millena Brandão, de 11 anos, que teve morte encefálica confirmada na última sexta-feira (2). Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o caso foi registrado como “morte suspeita” e está sob responsabilidade do 101º Distrito Policial, no Jardim Imbuias, que instaurou inquérito e solicitou laudos periciais.
Millena apresentou dores intensas de cabeça por nove dias e foi atendida em três diferentes unidades de saúde: uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) municipal e dois hospitais da rede estadual. Ela foi internada no Hospital Geral do Grajaú, onde veio a óbito.
“Nos dias seguintes, ela continuou a sentir-se mal, sendo levada à UPA Dona Maria Antonieta e, posteriormente, transferida ao Pronto-Socorro Geral do Grajaú. No hospital, foi submetida a uma tomografia que apontou uma mancha, mas não resistiu e morreu. O caso foi registrado como morte suspeita pelo 101º Distrito Policial (Jardim Imbuias), que requisitou exames periciais”, informou a SSP, ao UOL.

O inquérito policial foi instaurado após os pais da atriz, Thays e Luiz Brandão, registrarem boletim de ocorrência no sábado (3). Em entrevista ao g1, eles relataram que buscam respostas sobre o que aconteceu com a filha, e pediram que a polícia investigue a atuação das equipes médicas da UPA e dos hospitais que atenderam a menina.
“Sem apresentar melhora clínica, foi solicitada às 7h59, do dia 29 de abril, a transferência via Sistema Informatizado de Regulação do Estado de São Paulo (Siresp). Após sinalização da equipe para a regulação sobre gravidade do caso, às 10h54, a vaga foi concedida pelo Hospital Geral do Grajaú e a paciente foi transferida. A direção da unidade permanece à disposição para o que for necessário”, afirmou a Secretaria Municipal de Saúde.
O advogado da família, Antonio Carlos Toninho, apontou que a prioridade no momento é respeitar o luto dos pais, mas que todas as medidas cabíveis estão sendo estudadas: “Por ora, estamos respeitando o luto da família. Já estamos direcionando os próximos passos. Antes de tomar qualquer decisão, estamos revisitando todos os fatos, levantando todos os documentos. Essa semana irei me reunir com a família para pontuar todo o ocorrido. De todo modo, pontuo que tudo será feito conforme o desejo da família”.
Durante o período de atendimento, Millena passou pelo Hospital Geral Pedreira, pela UPA Maria Antonieta e, por fim, pelo Hospital Geral do Grajaú. Segundo os pais, houve uma série de falhas e contradições nos diagnósticos: inicialmente, suspeitou-se de dengue, que acabou sendo descartada após exames. Em seguida, os médicos indicaram infecção urinária. Só no último hospital, após a realização de uma tomografia, levantou-se a hipótese de um tumor cerebral, ainda não confirmado.

Thays e Luiz relataram que, mesmo com as queixas persistentes da filha, em alguns atendimentos ela foi medicada com dipirona e liberada para repousar em casa. Eles também afirmaram que Millena apresentou sonolência, perda de apetite, desmaios e dores nas pernas, além de ter sofrido 13 paradas cardíacas.
“Os médicos ainda não disseram o que realmente minha filha teve e o que a matou. Não sabemos o que a matou”, disse Thays. O casal também tem uma filha de dois anos.
O atestado de óbito da atriz traz o termo “morte a esclarecer” e menciona a necessidade de “exames complementares”. “Ficou um ponto de interrogação”, resumiu a mãe. As secretarias municipal e estadual de Saúde informaram que instauraram sindicâncias internas para apurar a conduta das equipes médicas que atenderam a atriz. Até o momento, entretanto, as pastas não esclareceram o diagnóstico da paciente nem a causa exata da morte.

Inicialmente, a equipe médica tentou transferir Millena para o Hospital das Clínicas, em São Paulo, na tentativa de garantir um tratamento mais especializado. No entanto, segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a gravidade do quadro impossibilitou a transferência: “A paciente chegou à unidade, no dia 29/04/2025, em estado crítico, com sinais de comprometimento neurológico grave. Embora a regulação tenha sido inicialmente autorizada, a equipe médica avaliou que o transporte representava alto risco à vida da criança naquele momento. A equipe multiprofissional do hospital presta total assistência à família, oferecendo acolhimento e todas as informações necessárias”.
O esclarecimento da causa ficará a cargo do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), que está analisando o caso. O resultado será informado aos pais e repassado à polícia, que poderá usar o laudo para determinar se houve falhas no atendimento prestado.
Na declaração de óbito, assinada por um médico do Hospital Geral do Grajaú, consta que a menina sofreu “morte súbita, sem causa determinante aparente”. Já a guia de encaminhamento de cadáver registra que ela estava internada havia quatro dias, chegou ao hospital em estado de coma e apresentava quadro de “choque circulatório”.

O histórico clínico também indica que Millena sofria de cefaleia havia seis dias e estava em coma há pelo menos um. Segundo a tomografia feita no dia 29 de abril, havia um “processo expansivo” no Sistema Nervoso Central (SNC), com possibilidade de diagnóstico diferencial neoplásico (formação de um novo tecido anormal, que pode ser benigno ou maligno, como um tumor), ainda não confirmado.

Carreira profissional
Millena atuava como modelo e influenciadora, com mais de 180 mil seguidores nas redes sociais. No audiovisual, fez figuração na novela “A Infância de Romeu e Julieta”, do SBT, e participou da série “Sintonia”, da Netflix. Ela também integrou a Cia Artística En’cena em espetáculos de teatro musical.
Durante a internação, o pai de Millena organizou uma vaquinha virtual para ajudar com os custos do tratamento. Mais de R$ 13 mil foram arrecadados para ajudar a família, que relatou dificuldades com alimentação e transporte.
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