Nego Di quebrou o silêncio após ser condenado a 11 anos e 8 meses de prisão em regime fechado pelo crime de estelionato. Em entrevista a Roberto Cabrini, exibida neste domingo (15) no “Domingo Espetacular”, ele alegou que também foi vítima do sócio Anderson Bonetti, e questionou a desigualdade judicial. O ex-BBB ainda negou a intenção de cometer os delitos e compartilhou seus momentos de dificuldade na prisão.
A dupla foi presa em julho de 2024 após ser acusada de não entregar produtos vendidos abaixo do valor de mercado através da loja virtual “TADIZUERA”. Nego Di obteve um habeas corpus em novembro e permanece em liberdade desde então, sob medidas cautelares. A condenação foi proferida pela juíza Patrícia Pereira Tonet, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Canoas, que apontou um inquérito policial contendo 370 crimes de estelionato.
Questionado por qual motivo se dizia dono da loja virtual e agora alega não ter vínculo com a empresa, Nego Di justificou que era responsável apenas pelo marketing do negócio. “A loja não era minha. Eu confiei numa pessoa que eu não conhecia direito, ele é um estelionatário profissional, não dá golpezinho. Eu queria que as pessoas comprassem porque eu também acreditava nele. Ele tinha feito uma proposta para que eu fosse sócio dele, mas nunca me mandava os contratos“, relatou.
“Quando eu descobri que era um golpe, eu coloquei a cara dele nas redes, porque ninguém conhecia, ele não era uma pessoa pública como eu. Eu botei a cara dele, falei onde ele morava, expus a esposa dele, aí ele parou de me responder. Todo mundo me chamou de golpista, de estelionatário, e três anos depois, ele vem pedir desculpas e falar que foi sem querer?“, questionou. Bonetti recebeu a mesma condenação, mas segue em prisão preventiva.

Ele alegou que também foi enganado por Bonetti e que não tinha a intenção de burlar os clientes da loja virtual. “Não faria sentido eu acordar um dia e decidir ‘vou dar um golpe nos meus seguidores“, destacou. “Eu tenho consciência de que, através de mim, um estelionatário acabou enganando pessoas. E eu gostaria de dizer que sinto a dor dessas pessoas porque eu vim do mesmo lugar dessas pessoas“, declarou.
“Isso é um fantasma que me acompanha desde 2022, quando se deu o fato da loja. Eu não consigo não pensar nisso quando estou na rua. Quando uma pessoa me olha, eu não sei se é um fã, se é alguém que comprou um produto… Quando alguém quer me ofender, me chama de estelionatário e de ex-presidiário. Eu preciso ser tratado com justiça“, desabafou. Segundo Nego Di, todas as pessoas que estão no processo foram ressarcidas. “Só uma pessoa não quis receber“, revelou.
Prisão
Na entrevista, o humorista citou a origem humilde. “Eu comecei a minha vida no fundo do poço. Sou filho único, de mãe solteira. Morei a vida inteira de aluguel, fui despejado várias vezes. Consegui ascender e, quando eu achei que estava no meu melhor momento, e realmente estava, a minha vida desabou“, lamentou.
O ex-BBB também relembrou a prisão no passado. “Eu estava sendo transportado numa viatura, algemado, vendo o mundo pelo vidro de um camburão. Pra mim, aquilo foi uma vergonha. Eu fui para o pior lugar que o ser humano pode ir, que é a prisão. Pior que isso, acho que só o cemitério“, falou ele, revelando ter emagrecido 33 quilos. “Eu cheguei a ficar 72 horas seguidas sem comer nada. Eu estava deprimido, tinha que tomar remédio pra dormir e remédio pra acordar“, disse.
Nego Di ainda falou sobre sua pena de 11 anos e oito meses. “Eu vou sair [da cadeia] depois dos meus 40. Eu perco uma parte da minha vida por um crime que eu não cometi. Tem dias que eu acordo e penso: ‘Quando esse pesadelo vai acabar?’. Hoje eu vivo praticamente de nada, tive minhas contas bloqueadas, o restaurante que eu tinha fechou, estou impedido de aparecer nas redes sociais. Quem me sustenta é minha esposa, que é microinfluenciadora e faz algumas publicidades”, compartilhou.

Doações fraudulentas
Cabrini também questionou o ex-BBB sobre a suposta doação de R$ 1 milhão que ele alegou ter feito às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado. Mais tarde, as movimentações de suas contas apontaram que ele havia doado apenas R$ 100.
“Essa história precisa ser contextualizada. Porque causou mais impacto na minha vida do que minha prisão. Me processaram por uso de documentos falsos, sendo que não existe alguém lesado por isso“, se esquivou ele. “Teve uma ideia de criar um comprovante simbólico de R$ 1 milhão. Eu doei metade desse valor e acordei de pagar o resto parcelado“, alegou.
“Pega mal pra mim, eu admito, mas do jeito que o estado estava, com pessoas embaixo d’água, perdendo a dignidade, a vida… Em uma semana, a vaquinha saiu de R$ 50 milhões para R$ 80 milhões. Pode ser que eu tenha me precipitado, mas foi uma mentira que fez uma diferença no estado. E eu não fiz da minha cabeça, eu conversei com os organizadores da vaquinha, e eles aceitaram“, justificou.
Assista à entrevista:
Defesa se manifesta
Após a entrevista, Nego Di questionou a desigualdade judicial e pediu um julgamento imparcial. Segundo a defesa, Bonetti possui “ficha extensa em crimes da mesma natureza“, “confessou a autoria do crime em juízo” e “admitiu que enganou o próprio Dilson (Nego Di), que também acabou se tornando vítima no esquema“. Além disso, destacou casos de outras “figuras públicas” que não tiveram inquéritos instaurados, e citou que a decisão judicial não seja pautada pela “pressão midiática“.
Leia a íntegra:
“Após a veiculação da entrevista no Domingo Espetacular, Dilson Alves da Silva Neto (Nego Di) decidiu tornar público um posicionamento formal sobre o processo judicial que enfrenta. O humorista foi condenado ao lado de Anderson Bonetti, que além de possuir ficha extensa em crimes da mesma natureza, confessou a autoria do crime em juízo e admitiu que enganou o próprio Dilson, que também acabou se tornando vítima no esquema.
A juíza responsável pelo caso, em sua própria sentença, reconheceu que as condutas de ambos foram completamente diferentes. Dilson se apresentou espontaneamente à polícia, participou de todas as audiências, reembolsou voluntariamente diversas vítimas com recursos próprios e entregou provas materiais de que desconhecia o golpe em curso. Bonetti, por outro lado, segue preso, teve todos os recursos negados e assumiu a autoria das fraudes.
Ainda assim, a Justiça aplicou a mesma pena a ambos (11 anos e 8 meses de prisão), o que gerou indignação e levanta um questionamento: por que a diferença de tratamento diante de casos semelhantes envolvendo outras figuras públicas?
Durante a entrevista e em posicionamento da sua defesa, Nego Di menciona casos de outros influenciadores que representam e possuem empresas, e que mesmo com diversas reclamações muitas delas por não entregar produtos há meses. Ainda assim, nenhum inquérito foi instaurado. ‘Não estou pedindo privilégio. Só quero um julgamento justo, imparcial e baseado nas provas, não no personagem Nego Di’, afirma o humorista.
Dilson destaca ainda que está há mais de um ano impedido de exercer sua profissão, frequentar redes sociais e até mesmo tirar fotos com fãs. Sem rendimentos desde então e com a imagem pública comprometida por uma decisão que, segundo sua defesa, foram pautadas pela pressão midiática e não pela realidade do processo, Nego Di alega enfrentar dificuldades para garantir a dignidade da sua família, pagar pensão do seu filho menor e até mesmo sobreviver“.
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