O príncipe Harry ofereceu, nesta terça-feira (28), uma declaração como testemunha no processo contra a Associated Newspapers Ltd (ANL), editora do “Daily Mail” e “Mail on Sunday”. O duque de Sussex afirmou que o Palácio de Buckingham omitiu dele informações sobre o grampo em seu telefone feito pelo jornal. Ele ainda revelou detalhes sobre a relação da sua família com a mídia e disse que era obrigado a adotar a política de não contestar a imprensa britânica.
“Após a morte de minha mãe, em 1997, quando eu tinha 12 anos e o tratamento dela estava nas mãos da imprensa, sempre tive uma relação difícil com a mídia”, disse ele, de acordo com a People, ao se referir à sua mãe, a princesa Diana. “No entanto, como membro da Instituição, a política era ‘nunca reclamar, nunca explicar’. Não havia alternativa, fui condicionado a aceitá-la. Na maioria das vezes, aceitei o interesse visando o desempenho de minhas funções públicas”, acrescentou.
No entanto, Harry falou que os questionamentos do seu relacionamento com a mídia se intensificaram após o início do namoro com Meghan Markle. Segundo a publicação, ele ficou “cada vez mais preocupado com a abordagem de não agir contra a imprensa após ataques persistentes e cruéis, assédio e artigos intrusivos, às vezes racistas, sobre Meghan”. O ruivo acrescentou que “a situação piorou” com a gravidez de Meghan e o nascimento de seu primeiro filho, o príncipe Archie Harrison, em maio de 2019.
O duque, então, declarou que soube de uma suposta invasão ao seu telefone feita pelo News Group Newspapers (NGN) em 2018, similar à realizada pelo Daily Mail. Ele acusou o Palácio de Buckingham de não mantê-lo ciente do ocorrido. “A instituição estava, sem dúvida, omitindo informações de mim por um longo tempo sobre a invasão de telefone da NGN e isso só ficou claro nos últimos anos, quando eu busquei [fazer] minha própria reclamação com diferentes conselhos e representações legais”, expôs ele.
“Não é exagero dizer que a bolha estourou em termos do que eu sabia em 2020, quando saí do Reino Unido”, analisou. O príncipe Harry e Meghan se mudaram para o estado natal da duquesa de Sussex, a Califórnia, em 2020, depois de deixarem o cargo de membros seniores da família real.
“Até hoje, há membros da família real e amigos meus que podem ter sido alvos da NGN e não tenho ideia se eles apresentaram ou não reivindicações”, continuou ele. “Nunca houve uma discussão centralizada entre nós sobre quem apresentou as reivindicações, já que cada escritório da instituição está isolado. Há esse equívoco de que estamos todos em constante comunicação uns com os outros, mas isso não é verdade”, declarou.
O duque ainda desabafou sobre o motivo para ter feito as alegações sobre as irregularidades nos tabloides. “Estou fazendo essa reclamação porque amo meu país e continuo profundamente preocupado com o poder, a influência e a criminalidade incontroláveis da [Associated Newspapers Ltd]”, disse ele. “As evidências que vi mostram que os jornalistas [do conglomerado] são criminosos com poderes jornalísticos que devem preocupar cada um de nós. O público britânico merece saber toda a extensão dessa cobertura e sinto que é meu dever expô-lo”, concluiu.
O processo
De acordo com a Reuters, o príncipe Harry entrou com uma ação no ano passado contra Associated Newspapers Ltd, junto com o cantor Elton John, seu marido David Furnish, as atrizes Sadie Frost e Liz Hurley, o ex- legislador Simon Hughes, e a ativista Doreen Lawrence, cujo filho foi assassinado em um ataque racista.
Eles alegam que foram vítimas de “numerosos atos ilegais” feitos por jornalistas ou investigadores particulares que trabalhavam em nome da Associated, do Daily Mail e do Mail on Sunday. Segundo os advogados e os documentos do caso, essas ações realizadas pelos tabloides incluem o grampo de mensagens de telefone celular, a escuta de chamadas telefônicas, a obtenção de informações privadas por engano e “designar a invasão e entrada em propriedade privada” durante um período de 25 anos.
À BBC, a ANL negou as acusações e declarou serem “difamações absurdas”. A Reuters informou que a editora está tentando arquivar o caso, com o argumento de que as reivindicações estariam fora do prazo para uma ação legal e que algumas delas violariam uma ordem feita durante um inquérito público de um ano sobre os padrões de imprensa iniciado em 2011.