Nesta terça-feira (6), o príncipe Harry compareceu ao Tribunal Supremo de Londres para testemunhar no processo contra o Mirror Group Newspapers, empresa dona de tabloides britânicos como o Daily Mirror, Sunday Mirror e Daily Express. Na ação, o Duque de Sussex alegou que o grupo hackeou suas ligações e usou de meios ilegais para coletar informações sobre sua vida pessoal.
No depoimento de mais de 55 páginas, publicado na íntegra pelo The New York Times, Harry afirmou: “Genuinamente sinto que em todos os relacionamentos que já tive – seja com amigos, namoradas, com a família ou com o exército – sempre houve um terceiro indivíduo envolvido, ou seja, a imprensa sensacionalista”.
Além de abordar o relacionamento tenso da imprensa com sua falecida mãe, a princesa Diana, ele culpou a mídia por seu término com a ex-namorada de longa data, Chelsy Davy, e pelos questionamentos sobre sua paternidade.
Polêmica de paternidade
Nos anos 1990, o ex-oficial da cavalaria britânica, James Hewitt disse ter vivido um affair com Diana durante seu casamento com o agora rei Charles. Ele também alegou ser o pai biológico de Harry, o que causou alvoroço nos tabloides da época.
“Vários jornais reportaram um boato de que meu pai biológico era James Hewitt, um homem com quem minha mãe teve um relacionamento depois que eu nasci”, escreveu Harry. “Na época deste artigo e de outros semelhantes a ele, eu não sabia que minha mãe só conheceu o major Hewitt depois de nascer”, esclareceu o príncipe.
Harry confessou ter enfrentado problemas emocionais devidos às dúvidas sobre sua paternidade e reforçou que o timing em que a história veio à tona conseguiu prejudicá-lo ainda mais. “Na época, eu tinha 18 anos e havia perdido minha mãe apenas seis anos antes. Histórias como essa pareciam muito prejudiciais e muito reais para mim. As matérias foram dolorosas, mesquinhas e cruéis. Sempre fiquei questionando os motivos por trás das histórias. Os jornais estavam ansiosos para colocar dúvidas na mente do público para que eu pudesse ser expulso da família real?”, destacou.
Término com Chelsy Davy
Sobre a separação com a jovem, o príncipe alegou que a invasão da imprensa colocou “uma enorme quantidade de estresse e tensão desnecessários” no namoro, que durou de 2004 a 2010. Ele também relembrou uma viagem com Chelsy a Bazaruto, uma ilha em Moçambique, na qual jornalistas e fotógrafos do Mirror Group, bem como de outras agências, conseguiram fazer reservas no hotel antes da chegada do casal.
“Acredito agora que eles divulgaram nossos detalhes de voo e reservas de hotel e/ou interceptaram nossas mensagens de voz”, afirmou Harry. “Nunca estivemos sozinhos e pudemos aproveitar a companhia um do outro longe dos olhares indiscretos dos tabloides”, acrescentou.
O duque enfatizou que a pressão da mídia forçou Chelsy a colocar um fim prematuro no romance. “Isso a levou a tomar a decisão de que uma vida na realeza não era para ela, o que foi incrivelmente perturbador para mim na época”, lamentou o príncipe, que hoje é casado com Meghan Markle.
O caso de Harry, que foi arquivado em 2019 e retomado recentemente, envolve 148 notícias publicadas entre 1996 e 2010, nos quais detalhes sórdidos da vida do príncipe foram expostos. Segundo a BBC, as novas acusações vieram à tona um mês depois que o Mirror Group Newspapers pediu desculpas publicamente ao Duque de Sussex, por uma única ocorrência de coleta ilegal de informações no início do julgamento.
“A MGN pede desculpas sem reservas por todas essas instâncias e garante aos reclamantes que tal conduta nunca será repetida”, disse a declaração do editor, escrita em um processo judicial de 10 de maio. A empresa acrescentou que a violação em questão, que não faz parte do novo processo de Harry contra a MGN, “merece indenização”.
Princesa Diana acreditava que suas mensagens privadas eram ouvidas
Por fim, nas declarações, Harry revelou que a princesa Diana acreditava que suas mensagens privadas foram ouvidas por meio de métodos ilegais, nos meses que antecederam sua morte, em agosto de 1997. O príncipe admitiu que a mera noção de que a mãe passou por isso o faz “se sentir fisicamente surpreso, enojado e chocado”.
Em certo trecho do depoimento, ele citou uma carta escrita de próprio punho por Lady Di, em março de 1997. No recado, a loira revelou ao amigo, o comediante britânico Michael Barrymore, que a imprensa estava ciente de detalhes privados de sua amizade.
“Fiquei arrasada esta noite ao saber que o Daily Mirror telefonou para o meu escritório para perguntar detalhes sobre seis reuniões que deveriam ter ocorrido entre nós. Ninguém ao meu redor sabia dos nossos planos de domingo à noite (…) Eu nunca faria nada para causar-lhe qualquer angústia e só me resta dizer o quanto lamento profundamente que o que considerava um assunto privado e precioso se tornou propriedade pública”, escreveu Diana.
Sobre a exposição, Harry afirmou que “só pode presumir que essas informações foram obtidas por meio de interceptação de mensagens de voz e/ou outra coleta ilegal de informações, como escutas telefônicas ao vivo”. De acordo com The Guardian, o jornal The Mirror rebateu a acusação sobre as mensagens de Diana, afirmando que tudo é “especulação total sem qualquer base de evidência”.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques