A ação criminal movida contra Sean ‘Diddy’ Combs, e obtida pelo New York Times neste domingo (22), apontou o cerne do caso. Conforme os documentos, o governo segue a premissa de uma “empresa criminosa” que o cantor supostamente comandava para organizar os “freak-offs”, conhecidos como maratonas sexuais. Ela também teria o objetivo de encobrir qualquer dano aos quartos do hotel, ou às pessoas, quando terminassem.
De acordo com as autoridades, esses encontros poderiam durar dias e eram filmados. Na descrição, eles também são definidos como “performances sexuais elaboradas e produzidas”, que envolviam uso abundante de drogas e sexo forçado, “deixando os participantes tão exaustos e esgotados que recebiam fluidos intravenosos para se recuperarem”.
O governo salientou, ainda, que Diddy transformou os vídeos que havia gravado em “armas para evitar que os participantes fizessem quaisquer reclamações”. “A atividade ‘freak-off’ é a cerne deste caso, e os ‘freak-offs’ são potencialmente perigosos”, declarou a promotora Emily A. Johnson, em uma audiência na semana passada.
Os autos enfatizaram que essas maratonas sexuais eram como um evento, coordenado por uma equipe de facilitadores que trabalhavam para o artista. Os promotores destacaram que testemunhas presenciaram violência “durante e em conexão” com os freak-offs, algo negado pela defesa.
Os responsáveis pelo caso também citaram a lei do crime organizado, usada há anos contra mafiosos e chefes do tráfico de drogas. Para eles, Combs possuía os subordinados para cumprir seus comandos, esperava “lealdade absoluta” e comandava tudo com ameaças de violência. “Combs não fez isso sozinho”, afirmou Damian Williams, procurador dos EUA para o Distrito Sul de Nova York, em uma coletiva de imprensa na semana passada.
“Ele usou seu negócio e funcionários desse negócio e outros associados próximos para conseguir o que queria. Esses indivíduos incluíam supervisores de alto escalonamento no negócio, assistentes pessoais, equipe de segurança e equipe doméstica”, pontuou Williams. Ele acrescentou que as investigações seguem em andamento.
Vídeos dos freak-offs
Os promotores salientaram que foram inúmeras as vítimas, embora a acusação mencione apenas uma. Em uma audiência judicial, eles ofereceram trechos de mais evidências com mulheres acusando Diddy de usar as gravações para chantageá-las. “Ele me ameaçou com os vídeos de sexo que ele tem de mim em dois telefones. Ele disse que iria me expor. Vale ressaltar que estou drogada nesses vídeos”, declarou uma delas.
A ação judicial e os relatos de Cassie Ventura, ex do artista, desencadearam outras acusações contra ele. A grande maioria foi apresentada por mulheres, trazendo um histórico semelhante ao da cantora, com petições de encontros sexuais coagidos e com elas sendo drogadas. O rapper contesta todas as imputações no tribunal.
O juiz Andrew L. Carter Jr. destacou sua preocupação de que Combs obstruísse a Justiça ao interferir nos depoimentos das testemunhas. Os promotores disseram que, por meses, ele vinha “alimentando vítimas e testemunhas com narrativas falsas”, enquanto tinham conversas comprometedoras a seu respeito. Os advogados do artista, por sua vez, afirmaram que ele estava apenas informando aos seus contatos de que ele seriam chamados por seus representantes.
No tribunal, ainda foi revelado o relato inesperado de uma mulher, cuja identidade foi mantida em sigilo. O episódio foi contato três dias após a ação de Cassie ser apresentada, em novembro. “Sinto como se estivesse lendo meu próprio trauma sexual. Me deixa mal como três páginas sólidas, palavra por palavra, são exatamente minhas experiências e minha angústia”, escreveu ela, segundo o Times.
Os promotores informaram que Diddy ligou para a mulher duas vezes, enquanto um cúmplice gravava a conversa em outro telefone. “Ele a manipulou e tentou convencê-la de que ela havia participado voluntariamente de atos sexuais com ele. Mas ela resistiu”, concluiu Emily Johnson.
Depoimento de Cassie, ex de Diddy
De acordo com Cassie, seu ex comandava os encontros sexuais frequentemente, em hotéis de luxo ao redor de todo o país. Nesses “eventos”, ela descreveu que era orientada a derramar quantidades “excessivas” de óleo sobre si mesma e dizer onde tocar nos prostitutos enquanto Combs filmava e se masturbava.
“Ele tratou o encontro proposto como um projeto de arte pessoal, ajustando as velas que usava para iluminação para enquadrar os vídeos que ele fazia”, mencionou a ação judicial.
Advogados do cantor rebatem
Os advogados de Sean ‘Diddy’ Combs apresentaram uma visão completamente diferente dos freak-offs em tribunal. Eles relataram que os encontros entre Ventura e o rapper eram consensuais, apesar do relacionamento complicado e problemático. Foi dito, ainda, que eles “não envolveram agressão sexual, força, fraude ou coerção”, como exige a principal lei federal de tráfico sexual.
“Todo mundo tem experiência em ser íntimo dessa maneira? Não. É tráfico sexual? Não, se todos quiserem estar lá”, argumentou Marc Agnifilo, um dos advogados do réu, em uma audiência judicial na última terça-feira (17). Os profissionais que representam Diddy se declararam inocentes das acusações de tráfico sexual e conspiração de crime organizado que enfrentam.