A sequência em que Raquel volta a vender sanduíches na praia marcou o capítulo desta quarta-feira (27) em “Vale Tudo“. No entanto, o que chamou atenção do público não foi só a reviravolta. Em entrevista ao repórter Patrick Monteiro, da Quem, Taís Araujo, que interpreta a protagonista, demonstrou abertamente sua frustração com os rumos da personagem — que, após sofrer um golpe de Odete Roitman (Debora Bloch) e ser traída por Celina (Malu Galli), retorna ao ponto de partida da história.
“Esse momento da Raquel voltar a vender sanduíche na praia, confesso que recebi com um susto. Porque não era a trama original. Então, para mim, a Raquel ia numa curva ascendente. Quando vi aquilo, falei: ‘Ué, vai voltar para a praia, gente’. Aí eu entendi que também falei: ‘OK, mas ela está escrevendo uma parte da história’. Vamos embora fazer”, contou a atriz.
No enredo, Raquel chegou ao Rio de Janeiro e conquistou o prêmio de R$ 1 milhão em um reality show. Com o dinheiro, investiu na Paladar e expandiu os negócios com a ajuda financeira de Celina — que, mais tarde, vendeu sua parte para Odete em troca de proteger Heleninha (Paolla Oliveira). A bilionária encerrou a sociedade, deixando Raquel com dívidas e sem perspectiva, o que a levou de volta à praia para vender lanches.

Taís disse que entende a decepção do público, especialmente da audiência negra, com o destino da personagem. Ela acreditava que Raquel iria continuar subindo na vida. “Também tinha a esperança disso e gostaria muito de vê-la assim. Como mulher negra, como artista negra, de ver uma outra narrativa sobre mulheres negras”, afirmou.
A atriz lembrou que a versão original de “Vale Tudo”, exibida em 1988, mostrava a trajetória vitoriosa de Raquel, vivida por Regina Duarte: “Estou vendo tudo que as pessoas tão falando, tá, gente? Vendo, escutando, lendo, entendendo. Me alio para caramba com vocês nesse sentimento. Inclusive, às vezes de frustração. De querer um outro movimento. Gostaria muito mesmo que a batalha que ela tivesse, o conflito em si, fosse de outra ordem. Conflitos éticos com Odete, por exemplo. E aí quando não tem, a gente tem que lidar com o que tem. E o que tem é isso”.
Para a protagonista, a narrativa oferecia uma chance de reescrever os caminhos da representatividade feminina negra na teledramaturgia. “Quando peguei a Raquel para fazer, falei: ‘Cara, a narrativa dessa mulher é a cara do Brasil. E ela vai ter uma ascensão social a partir do trabalho. Vai ser linda, e ela vai ascender e ela vai permanecer. Isso vai ser uma narrativa muito nova do que a gente vê sobre representação da mulher negra na teledramaturgia brasileira’. Quando vejo que isso não aconteceu, como uma artista que quer contar uma nova narrativa de país, e a dramaturgia proporciona isso, confesso que fico triste e frustrada”, lamentou.
Mesmo sem concordar com os rumos da trama, Taís reforçou o compromisso com a personagem e com todas as mulheres que ela representa: “E com respeito enorme a todas as mulheres que Raquel representa. Vou até o final defender essa personagem, porque acredito nessa mulher negra, que trabalha para manter uma família, que acende socialmente, que se dedica, que é uma mulher séria, capaz, competente”.
Ela também destacou o cuidado em interpretar a personagem sem vitimismo, reforçando o valor da reação e da força diante das adversidades. “Ela não ia ficar chorando, ela ia levantar e trabalhar. É o que as mulheres desse país fazem. As que estão na base da pirâmide. Elas levantam e são bravas, são valentes, são corajosas, elas vão trabalhar. Eu gostaria muito que a Raquel tivesse uma curva ascendente, poderosa, que a batalha dela fosse outra e não a batalha pela sobrevivência”, disse.

Ainda restam muitos capítulos até o fim da novela, e Taís afirma que mantém a esperança de uma reviravolta positiva. “Raquel é um exemplo de mulher. Ela é um exemplo para mim. Sempre vou deixá-la absolutamente humana e ainda falta novela aí. Torço para que ela consiga reverter a situação, que ela consiga se estabelecer financeiramente, colocar em prática tudo o que ela tanto quanto fala e se dedica”, reforçou.
Ela concluiu com um olhar sobre o papel da ficção na construção de possibilidades e sonhos. “Espero realmente que a vida devolva a ela o que ela dá para a vida. Porque aí a gente vai ter uma narrativa que é muito interessante. Aí a gente vai ter uma narrativa que acho ser uma narrativa contemporânea. Está na hora da gente ver a população negra nesse lugar. A vida do empreendedor não é fácil. Mas a gente conhece muitas histórias de sucesso. E para além das histórias que a gente conhece, a ficção, ela serve para a gente se sentir possível, para sonhar. Ela tem um trabalho de responsabilidade sim na construção da narrativa, de um país. E como o país entende um povo. Então, acho que é sobre isso também”, finalizou. Assista:
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaquesTaís Araújo faz análise sincerona sobre reviravolta de Raquel em #ValeTudo pic.twitter.com/Cq9nFTRODF
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