No ano passado, Armie Hammer foi acusado de canibalismo e estupro por uma série de ex-parceiras. Desde então, muito se fala sobre o histórico sombrio da família do ator. Em entrevista ao UOL Universa, publicada hoje (31), Casey Hammer, tia do astro, falou sobre as denúncias, bem como os abusos que sofreu na infância, que serão explorados na série documental “House of Hammer: Segredos de Família“, prestes a estrear no Discovery+.
A produção, na qual Casey trabalhou como consultora, revela que todos os homens da família Hammer teriam um passado perturbador de violência. Em três episódios, a série relembra as denúncias contra a estrela de “Me Chame Pelo Seu Nome”, eclodidas após um depoimento de Effie, que manteve um relacionamento com o ator por quatro anos. A mulher relatou que foi estuprada por ele de forma violenta por quatro horas ininterruptas, enquanto Hammer batia a cabeça dela na parede, deixando-a coberta de hematomas.
Sem surpresas
A tia de Armie contou ao veículo que não se surpreendeu quando as denúncias de canibalismo, conteúdos sexuais explícitos, atitudes violentas e fantasias sexuais perturbadoras, incluindo pedidos para beber o sangue das parceiras, foram expostas sobre o sobrinho. “Minha mãe morreu há 14 anos e, até aquele momento, ela tentava nos manter juntos, como uma família disfuncional. Quando ela morreu, seguimos caminhos diferentes. Não tenho nenhuma relação com o Armie. [No entanto] Não fiquei chocada quando comecei a vê-lo na mídia por mau comportamento. Não me choco muito por causa das minhas experiências pessoais e a forma como cresci em minha família. Foram gerações de homens abusivos”, lamentou.
Casey apontou que a exposição de Armie a motivou a procurar justiça pelo que ela e outras pessoas sofreram nas mãos de seus familiares. “Para mim, uma vez que se tornou público, tínhamos que responsabilizar os culpados e colocar um fim nisso. Chegamos ao limite. Estou dizendo isso há 61 anos, que vejo o comportamento em minha família. Chegou a hora de parar”, declarou.
Apesar de aliviada em ver a verdade vindo à tona, Hammer se frustrou com a forma como o caso repercutiu na imprensa. “Mesmo quando as vítimas começaram a falar, a mídia e as manchetes estavam focadas na carreira de Armie, mas deveriam estar focadas nas vítimas. São elas que têm que viver com o que aconteceu, com as cicatrizes dos abusos sexuais, físicos, mentais e emocionais. Elas passaram por controle mental e manipulação. Eram mulheres fortes e poderosas que, falando sobre o que passaram na série, ajudam a mostrar para outras vítimas que elas não estão sozinhas”, alfinetou a tia.
A decepção foi a força motriz para se envolver na série documental, que expõe conversas das vítimas com Hammer, nas quais ele admite ser “100% canibal” e afirmar querer “fazer churrasco” com a costela de um de seus affairs. Os episódios trazem, também, depoimentos aterrorizantes de duas ex-namoradas de Armie: Courtney Vuckovich, fundadora de um aplicativo de beleza Flashd, e a artista Julia Morrison.
Abuso nas mãos do próprio pai
Para a designer de interiores, os relatos das vítimas do sobrinho operaram como um gatilho, já que lhe lembraram de todos os abusos que sofreu na infância. Casey recordou, especificamente, um episódio em que encontrou fotos de atos sexuais do pai com outras mulheres quando ela era uma criança. “Tenho certeza que é difícil ver o que é mostrado na série para qualquer pessoa. (…) Eu assisti e, mesmo sabendo o que eu vivi na minha família, já adulta, revejo aquilo e sinto os gatilhos e os traumas. Não consigo acreditar que quando eu era criança deixava meu pai atirar em uma lista telefônica enquanto eu a segurava”, lamentou. “Quando crescemos, ficamos surpresos em como insistimos em um relacionamento tóxico porque estamos buscando o amor de alguém para validar nossa existência. É muito triste. Estou aqui para contar minha história e para que as vítimas não se sintam sozinhas”, disse a designer.
De acordo com Casey, ela foi estuprada pelo próprio pai, Julian Hammer. Outros membros da família também teriam sido abusados por ele. “Falo isso no livro que escrevi, “Surviving My Birthright” (em tradução literal, “Sobrevivendo ao meu Direito de Família”). Ainda é muito difícil falar sobre isso e é algo que eu procuro ajuda para lidar. Vocês veem na série quando falamos de cenas de estupro. A situação se torna tão real que dá um clique e você percebe que, sim, é vida real. As menores coisas acabam se tornando gatilhos. Isso me mostrou que eu precisava de ajuda ou não aguentaria mais ficar nesse mundo. Escolhi procurar apoio”, confessou.
Sedenta por justiça, Casey reforçou que movimentos como o “Me Too” [protesto contra o assédio sexual e a agressão sexual em Hollywood] deveriam ir além dos sets de filmagem. “Abusadores tentam te isolar e manipular, para que você sinta que tudo é sua culpa, e que não tem nenhum poder. Está na hora de responsabilizar os homens ricos e poderosos por isso”, apontou ela. “Quando o movimento Me Too surgiu, ele estava focado no ambiente de trabalho, mas precisamos de um desse para os ambientes familiares. É necessário responsabilizar os abusadores. Seus pais dão à luz e dizem que te amam, mas não quer dizer que podem fazer o que quiserem com sua vida. Você tem o direito de escolha e de dizer não, de colocar um ponto final e pedir dignidade e respeito”, concluiu.