O corpo de Cid Moreira foi velado nesta sexta-feira (4), no Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro. Durante a cerimônia, sua esposa, Fátima Sampaio, revelou ao “Encontro” detalhes dos últimos desejos do jornalista, que faleceu aos 97 anos.
Entre os pedidos, Cid disse que gostaria de sepultado em Taubaté, São Paulo, sua cidade natal, ao lado da primeira esposa, Nelcy Moreira, da filha Jaciara, e do neto Alexandre, que faleceram anteriormente. Além desse desejo pessoal, Fátima também compartilhou a vontade do jornalista de destinar parte de sua herança para causas sociais.
Em vida, Cid dedicou anos à narração completa da Bíblia, um projeto pelo qual ele tinha grande carinho. “Duas coisas muito legais, que são para serem tratadas um pouquinho mais tarde dos desejos dele: uma é que a parte da Bíblia que ele tem em sociedade, ele vai doar para uma instituição chamada ADRA [Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais], que cuida de crianças abandonadas, crianças que têm problemas familiares graves, essa instituição faz parte dos adventistas do Brasil”, revelou Fátima. “É uma forma de devolver para eles o carinho, porque o Cid conseguiu gravar a Bíblia completa, sem apoio comercial nenhum, mas com apoio desse pessoal maravilhoso. A organização é linda, então é legal que a gente possa estar devolvendo isso para eles”, completou.
Outro desejo de Cid Moreira envolvia a expansão de seu legado para além do Brasil. Fátima explicou que, pouco antes de sua morte, o jornalista assinou um contrato com uma instituição americana de inteligência artificial, que permitirá que sua narração da Bíblia seja traduzida para diferentes idiomas ao redor do mundo. “O Cid vai ser eternizado não só em português, mas em todas as línguas, com aquela voz linda dele, preciosa“, destacou a viúva.
A esposa de Cid também relembrou o amor que o marido tinha por São Francisco e disse que realizar o velório no dia do santo foi algo simbólico. “Ele amava São Francisco, sempre foi devoto, e é uma honra poder fazer essa despedida hoje, no dia de São Francisco. Ele está indo para outro plano, e só posso agradecer por todo o carinho que estamos recebendo”, comentou, com a voz embargada.
Fátima também compartilhou o impacto da perda, afirmando que ainda está processando a morte de Cid, com quem viveu por 51 anos. “Eu tô anestesiada, num estado esquisito. Vou voltar para essa dimensão só daqui uns dias. Daqui eu vou para Taubaté, ficar com meus irmãos, organizar minha cabeça para rever minha vida aqui, porque não estava no projeto isso. Eu tinha combinado com ele pelo menos a festa de 100 anos, e ele não cumpriu a parte dele”, desabafou.
Após a cerimônia de despedida no Rio de Janeiro, o corpo de Cid Moreira será levado para Taubaté, conforme seu desejo, onde será sepultado junto de seus familiares. “Ele sempre amou Taubaté e Petrópolis. Esses foram os dois lugares que ele mais amou na vida”, concluiu Fátima.
Morte de Cid Moreira
Cid Moreira morreu, nesta quinta-feira (3), aos 97 anos. O ícone da televisão brasileira estava internado no Hospital Santa Teresa, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro. À Globo, o médico responsável pelo jornalista informou que a causa do óbito foi falência múltipla dos órgãos.
Dono de uma das vozes mais marcantes da TV, Cid fez história ao apresentar o “Jornal Nacional” durante 26 anos. Ele ancorou o jornalístico cerca de 8 mil vezes. A sua estreia aconteceu em 1969, ao lado de Hilton Gomes, com quem dividiu a bancada por dois anos.
Contudo, a parceria mais lembrada foi com Sérgio Chapelin. Juntos, eles trabalharam por mais de uma década. Nascido na cidade de Taubaté, no Vale do Paraíba, o jornalista iniciou a carreira no rádio, em 1944. Naquela época, ele foi incentivado por um amigo a fazer um teste de locução na Rádio Difusora de Taubaté.
Cid narrou comerciais até 1949, quando se mudou para São Paulo e passou a trabalhar na Rádio Bandeirantes. Em 1951, o locutor partiu para o Rio de Janeiro, onde foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga. Entre 1951 e 1956, ele teve as primeiras experiências na televisão, apresentando comerciais ao vivo em programas, como “Além da Imaginação” e “Noite de Gala”, na TV Rio.
A estreia de Moreira como locutor em noticiários aconteceu em 1963, no “Jornal de Vanguarda”, marcando o início de sua carreira no jornalismo de TV. A partir daquele ano, ele consolidou a sua presença na televisão, passando ainda por outras emissoras, como Tupi, Globo, Excelsior e Continental.
Em 1969, o jornalista retornou para a Globo e foi escalado para lançar o “Jornal Nacional”, primeiro telejornal transmitido em rede no Brasil. Na emissora, Cid também participou do “Fantástico” e deixou a sua voz ainda mais famosa com o quadro de Val Valentino, conhecido como Mr. M, em 1999.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques