O dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa morreu na manhã desta quinta-feira (6) em São Paulo. Ele estava internado na UTI do Hospital das Clínicas desde a manhã de terça (4) após sofrer queimaduras por conta de um incêndio em seu apartamento no Paraíso, Zona Sul da capital paulista.
Ao longo do dia de ontem, o estado de saúde do diretor teatral passou por um agravamento, de acordo com a médica Luciana Domschke, que o acompanha há anos. Aos 86 anos, Zé teve falência múltipla de órgãos.
O incêndio teria sido causado por um aquecedor elétrico no quarto do dramaturgo, de acordo com o depoimento de vizinhos. Os outros três moradores da casa, incluindo o marido de Zé, Marcelo Drummond, não tiveram ferimentos, mas ficaram em observação no hospital pela inalação de fumaça. Os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt também estavam no local. O apartamento foi interditado e as investigações seguem em andamento.
Considerado um dos principais dramaturgos do país, Zé Celso participou da fundação e liderou o Teatro Oficina, em São Paulo, nos anos 1960. Ele ainda encenou duas peças de sua autoria: “Vento forte para papagaio subir” (1958) e “A incubadeira” (1959). Já em 1963, exibiu “Os pequenos burgueses”, de Máximo Górki, que foi sucesso de crítica e tinha Rosamaria Murtinho e Tarcísio Meira no elenco.
Após um incêndio no Teatro Oficina em 1967 e a reformulação do local, ele realizou a montagem de “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, que o consagrou como um dos “pais do Tropicalismo”. Em sua primeira experiência fora do projeto, Zé dirigiu “Roda-Vida”, de Chico Buarque.
No cinema, Zé Celso assinou o roteiro de “Prata Palomares”, de 1972, atuou em “Um Homem Célebre” e dirigiu o curta-metragem “O Parto”, em 1975. No ano de 2015, voltou a atuar no filme “Ralé”. Seu maior êxito no cinema foi a adaptação de “O Rei da Vela”, que arrematou os prêmios de “Melhor Montagem” e de “Melhor Trilha Sonora” do Festival de Gramado.
Um dos maiores críticos da ditadura militar, ele foi detido e exilado em 1974, sendo obrigado a morar em Portugal. Em 2010, o diretor foi anistiado pelo Estado brasileiro, recebendo também uma indenização de R$ 570 mil.
Durante quatro décadas, Zé Celso e o Teatro Oficina viveram um duro impasse com Silvio Santos, que é dono do terreno e tentava construir prédios ao redor do teatro no bairro do Bixiga. Já o artista, brigava para que fosse construído um parque público no local.
Zé Celso deixa o marido, Marcelo Drummond, ator do Oficina, com quem viveu durante 37 anos. Eles se casaram há menos de um mês, em uma cerimônia considerada uma verdadeira performance coletiva. A comemoração foi realizada no próprio Teatro Oficina, e teve performances de Daniela Mercury e Marina Lima, além de apresentação de indígenas guarani. Deixamos registrados os nossos sentimentos para a família, amigos, alunos e fãs de Zé Celso.
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques