Alec Baldwin: Entenda como funciona uma arma cinematográfica, os perigos, e o que pode ter acontecido em caso fatal

Tiro vitimou diretora de fotografia e feriu diretor do longa. (Foto: Getty/Reprodução)

O set de filmagem de “Rust”, longa protagonizado por Alec Baldwin, foi palco de uma tragédia nessa quinta-feira (21). Durante uma das cenas, o ator disparou uma arma cenográfica, culminando na morte de Halyna Hutchins, diretora de fotografia de 42 anos. O diretor do filme, Joel Souza, de 48 anos, também foi atingido no ombro, mas recebeu alta hospitalar nessa manhã (22).

O caso, cujas circunstâncias vêm sendo investigadas pela polícia de Santa Fé, levantou questionamentos: como uma arma cenográfica poderia causar um estrago fatal? É, de fato, seguro trabalhar com esse tipo de equipamento? Na maioria das produções, as armas são carregadas com balas de festim – estas não possuem pojétil, parte da munição que atinge o alvo. A intenção é simular o barulho, recuo da arma e clarão que ocorrem num disparo real.

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De acordo com Raul Guterres, produtor cinematográfico, especialista em cenas como essas, é de suma importância que se verifique a procedência das balas usadas. Quando a arma é de verdade, como nesse caso do Alec Baldwin, usam-se balas de festim. Elas não deixam de ser balas de verdade, apenas não têm o projétil, o chumbo, na ponta. Mas elas têm pólvora, em quantidade reduzida, e todos os ingredientes de uma bala de verdade. O cartucho é o mesmo, por isso, é muito delicado e importante saber quem produziu essa bala de festim. Ela possui uma quantidade de pólvora necessária para causar o efeito de som de um tiro, mas, ao mesmo tempo, não pode haver perigo de explosão, que é o que acontece nesses casos de acidente”, explicou o profissional ao hugogloss.com.

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Após o acidente, Alec prestou depoimento à polícia e foi visto “perturbado e às lágrimas”, em frente a uma delegacia. Em seu Twitter, o ator lamentou, se dizendo “chocado e de coração partido” com a tragédia que matou Halyna e feriu Joel. (Foto: Getty/Reprodução/IMDB)

Apesar de não possuir projétil, as balas de festim podem sim, causar ferimentos. Guterres, inclusive, especulou sobre o que pode ter acontecido nos bastidores de “Rust”, ocasionando a morte de Hutchins. “Ainda não está muito claro o que houve nesse caso especificamente, mas muito provavelmente, não devem ter cumprido as regras de segurança de distância. A vítima, que foi a diretora de fotografia, provavelmente estava muito próxima a Alec, e ele deve ter apontado para a câmera para fazer a cena”, avaliou, mencionando ainda algumas medidas de segurança a serem seguidas, ao trabalhar com tal munição.

“Quando fazemos cenas com balas de festim, com dois atores um de frente pro outro, é muito comum a gente falsear. Não colocamos um ator apontando a arma diretamente para o outro, exatamente para não ter esse direcionamento, porque a bala de festim pode queimar, machucar uma pessoa, mesmo a uma distância relativamente longa. Então, ela é extremamente perigosa. É muito delicado fazer cenas de ação com armas por conta disso, porque é fácil haver um acidente desses. A fatalidade, graças a Deus, não é tão comum, mas é muito normal pessoas se machucarem, se queimarem…”, relatou o produtor, que atualmente roda um filme de ação com o astro da Marvel, Anthony Mackie, na Arábia Saudita.

Diante do perigo, Raul tomou o hábito de verificar ele próprio as condições das armas usadas. “Ano passado, gravei um filme de suspense no Brasil, chamado ‘A Cerca’, que tinha muitas armas. Quando fizemos este filme, me certifiquei pessoalmente de que essas armas eram seguras, porque eram armas de verdade. Esse caso (envolvendo Alec) é uma tragédia. É importante que todos nós que fazemos cinema tomemos cuidado, cada vez mais, com a procedência dessas balas de festim e com os procedimentos de segurança”, frisou.

A morte de Halyna Hutchins levantou debate entre personalidades de Hollywood sobre o uso de balas de festim em produções cinematográficas. O diretor de “Mare of Easttwon”, Craig Zobel, por exemplo, se manifestou no Twitter, afirmando ser favorável à exclusão dessa prática. “Não há mais razão para ter armas carregadas com balas de festim ou qualquer coisa no set. Deviam ser totalmente proibidas. Temos computadores agora. Os tiros em ‘Mare of Easttown’ são todos feitos digitalmente. Dá pra perceber, mas quem liga? É um risco desnecessário”, afirmou.

Essa não é a primeira vez que um profissional do cinema morre com tiro acidental nas gravações de um filme. Nas redes, o caso de Brandon Lee veio à tona e foi comparado ao acidente envolvendo Alec. O filho de Bruce Lee morreu em 1993, durante as filmagens do longa “O Corvo”, após ser atingido na barriga por um disparo de arma de fogo. O item cenográfico, que deveria estar carregado com bala de festim, possuía munição verdadeira, que causou a fatalidade. Ninguém havia checado a pistola antes da cena.