Hugo Gloss

Greve dos atores em Hollywood: entenda o movimento e os filmes e séries já impactados

Nesta quinta-feira (13), foi oficializada a greve do SAG-AFTRA, sindicato dos EUA que representa mais de 160 mil atores de cinema e televisão, bem como outros profissionais de entretenimento em todo o mundo. A decisão veio à tona após 11 semanas de greve do WGA (Writers Guild of America), sindicato dos roteiristas de Hollywood, contra a AMPTP (Aliança de Produtores de Filmes e Televisão), que representa os grandes estúdios e serviços de streaming.

Desde o dia 2 de maio, os roteiristas interromperam os trabalhos e estão protestando por contratos e pagamentos mais justos. No início de junho, o sindicato dos atores abriu voto entre seus integrantes para a aprovação de uma greve conjunta. Após o vencimento do contrato do SAG-AFTRA com a Aliança dos Produtores, em 30 de junho, os atores decidiram adiar a paralisação por duas semanas, em uma tentativa de dialogar com a AMPTP.

No entanto, depois de 12 dias de negociação, eles não chegaram a um acordo e a paralisação foi confirmada, ontem (13), pela atriz Fran Drescher, atual presidente do Screen Actors Guild. A ação marca um momento histórico em Hollywood, já que essa é a primeira greve dos atores desde 1980, e a primeira vez em 63 anos que eles paralisam os trabalhos juntamente com os roteiristas.

Em seu discurso, a estrela de “The Nanny” condenou a ganância dos produtores e alegou que eles teriam “enganado” os sindicatos em uma tentativa de divulgar seus “filmes do verão (no hemisfério norte)”, “Barbie” e “Oppenheimer“. “Entrei [nas negociações] pensando seriamente que poderíamos evitar uma greve. A gravidade dessa mudança não passou despercebida por mim, nosso comitê de negociação ou nossos membros do conselho. (…) E foi com muita tristeza que chegamos a esta encruzilhada. (…) Estamos sendo vitimizados por uma entidade muito gananciosa. Estou chocada com a maneira como as pessoas com quem trabalhamos estão nos tratando. (…) Como eles alegam pobreza, que estão perdendo dinheiro a torto e a direita, enquanto dão centenas de milhões de dólares a seus CEOs? É nojento”, declarou ela.

Fran apontou, ainda, que as “respostas da AMTP às propostas foram insultantes e desrespeitosas”. “Todo o modelo de negócios foi alterado por streaming, digital e inteligência artificial. (…) Você não pode mudar o modelo de negócios tanto quanto ele mudou e não esperar que os contratos mudem também. Não vamos continuar fazendo mudanças incrementais em um contrato que não honra mais o que está acontecendo agora com esse modelo de negócios que nos foi imposto. O que estamos fazendo… mexendo nos móveis do Titanic? É louco. (…) Somos trabalhadores e nos destacamos e exigimos respeito e sermos honrados por nossa contribuição. Você compartilha a riqueza porque não pode existir sem nós”, finalizou.

Reivindicações dos atores e roteiristas

Entre as exigências aos estúdios, a WGA pede o aumento da remuneração mínima em todas as áreas da mídia, aumento dos residuais (direitos autorais e de imagem, toda vez que a produção seja exibida na TV), recebimento maior de lucros gerados pela transmissão das produções por streaming, compensação adequada para escritores de séries de TV da pré e pós-produção, aumento das contribuições para planos de pensão e saúde, fortalecimento dos padrões profissionais e proteções gerais para escritores.

Os integrantes da mobilização dizem, ainda, que enfrentam dificuldades com as remunerações estagnadas diante da inflação nos EUA, enquanto os grandes executivos dos estúdios acumulam lucros e aumentam as remunerações de seus dirigentes.

Os atores, por sua vez, pedem que os gigantes do streaming concordem com uma divisão mais justa dos lucros e melhores condições de trabalho. Também foram exigidas a criação de leis contra o uso de inteligência artificial, para proteger os atores de serem “usurpados por réplicas digitais” e garantias de que a inteligência artificial (IA) e os rostos e vozes gerados por computador não serão usados ​​para substitui-los.

Posicionamento da AMPTP

Em resposta, a Aliança dos Produtores se recusou a chegar a um acordo tanto com os roteiristas, quanto com os atores, alegando que é necessário reduzir os gastos devido às pressões econômicas atuais. Em um primeiro momento, um executivo afirmou, em entrevista anônima ao Deadline, que a AMPTP pretende deixar as greves correrem, até que os roteiristas estejam falidos o suficiente para aceitar qualquer acordo.

“O objetivo final é permitir que as coisas se arrastem até que os membros do sindicato comecem a perder seus apartamentos e suas casas”, disse a fonte. Após repercussão negativa, a AMPTP se manifestou publicamente, negando que essa seria sua intenção. “Essas pessoas anônimas não estão falando em nome da AMPTP ou das empresas associadas, que estão comprometidas em chegar a um acordo e colocar nossa indústria de volta ao trabalho”, disse um porta-voz da organização.

Em outro comunicado, também divulgado ontem, eles lamentaram a decisão do SAG-AFTRA pela paralisação. “Uma greve certamente não é o resultado que esperávamos, já que os estúdios não podem operar sem os intérpretes que dão vida a nossos filmes e séries de TV. O Sindicato infelizmente escolheu um caminho que levará a dificuldades financeiras para milhares de pessoas que dependem da indústria”, afirmou a nota dos estúdios.

A associação alegou que as propostas dos estúdios recusadas pelo SAF-AFTRA incluíam “o maior aumento de salários mínimos em 35 anos“, bem como um crescimento de “76% de lucros residuais em exibições por serviços de streaming no exterior” e ainda “aumentos substanciais em contribuições de pensão e planos de saúde“. Por fim, também teria sido feita uma proposta “sem precedentes” que envolve a imagem digital dos atores.

No entanto, durante o anúncio da greve, o negociador-chefe e diretor executivo nacional do Sindicato dos Atores, Duncan Crabtree-Ireland, revelou detalhes da proposta em questão. “A ‘inovadora’ proposta de IA que eles nos deram ontem… eles propuseram que nossos artistas de fundo pudessem ser escaneados, receber o pagamento de um dia, e sua empresa deveria possuir essa digitalização, sua imagem, sua semelhança e ser capazes de usá-lo pelo resto da eternidade em qualquer projeto que quiserem, sem consentimento e sem compensação”, disse Crabtree-Ireland.

Efeito dominó em Hollywood

Hollywood começou a sentir as consequências das greves recentemente. Nesta quinta-feira, minutos após a confirmação da paralisação dos atores, o elenco de “Oppenheimer” – Emily Blunt, Cillian Murphy, Florence Pugh, Matt Damon e Robert Downey Jr – abandonou a première do longa em Londres, no Reino Unido.

Segundo o diretor Christopher Nolan, as estrelas decidiram se unir aos protestos em frente aos grandes estúdios espalhados pelos EUA. De acordo com o Deadline, os membros do elenco jantaram separadamente de Nolan e do restante da equipe, devido aos regulamentos do SAG-AFTRA sobre aceitar hospitalidade dos estúdios durante a greve.

Além disso, as premières de “Barbie” em Berlim e Nova York devem continuar, mas não contarão com a presença de Margot Robbie, Ryan Gosling ou o restante do elenco. Durante a greve, atores e outros membros dos sindicatos devem seguir uma série de regras que os proíbem de atuar em qualquer capacidade, conceder entrevistas ou promover qualquer tipo de trabalho, participar de convenções ou eventos de fãs e firmar acordos para projetos futuros. Caso façam isso, os atores são banidos da organização e proibidos de atuar em qualquer projeto com o envolvimento do sindicato. Confira aqui a lista completa.

Há algumas semanas, produções como “Cobra Kai” e “Yellowjackets” foram interrompidas, bem como “Abbott Elementary”, “Blade”, “The White Lotus”, “Anéis do Poder”, “Stranger Things” e “Euphoria”. No cinema, serão impactadas as gravações de “Deadpool 3”, “Os Fantasmas se Divertem 2”, a adaptação de “Wicked”, “Gladiador 2”, “Mortal Kombat 2”, bem como a divulgação de “Besouro Azul”, com Bruna Marquezine e Xolo Maridueña.

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