A vitória de Gwyneth Paltrow no Oscar de 1999 continua sendo assunto até hoje, mais de duas décadas depois. Em uma nova entrevista à Vanity Fair nesta terça-feira (19), a atriz fez uma declaração surpreendente sobre o impacto que a premiação teve em sua carreira e vida pessoal.
Paltrow conquistou o prêmio de Melhor Atriz por sua atuação em “Shakespeare Apaixonado”. Na época, aos 26 anos, ela superou concorrentes de peso, incluindo Meryl Streep, Cate Blanchett e a lenda do cinema brasileiro Fernanda Montenegro, indicada por “Central do Brasil“, de Walter Salles.
Apesar do reconhecimento precoce, Paltrow — que após um hiato de 6 anos, retornará às telonas no filme “Marty Supreme”, ao lado de Timothée Chalamet — não tem certeza se deseja outro Oscar. Na entrevista, a atriz contou que acompanhou de perto, a campanha da amiga Demi Moore, mas desmistificou o prestígio da maior premiação do cinema. Para Gwyneth, o glamour da estatueta dourada não é tudo o que parece.
Em tom sincero, Gwyneth, que já revelou usar o Oscar como peso de porta — chamou a premiação de “o maior marco artificial de sucesso em Hollywood”. “Recebi a validação tão cedo que isso quase não foi algo bom”, refletiu. “Simplesmente não é tão glamoroso quanto parece”, pontuou.

Uma vitória polêmica
A conquista de Paltrow foi controversa na época e segue gerando debates, especialmente entre os fãs brasileiros, que consideram tanto o filme de John Madden quanto a atuação da atriz inferiores à performance de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”. A revolta foi tanta que até mesmo Glenn Close se manifestou sobre o assunto no passado, afirmando: “Eu me lembro do ano em que Gwyneth Paltrow ganhou da atriz incrível em ‘Central do Brasil’. Eu pensei ‘o quê?’. Não faz sentido”.
Glenn Close pistola porque Fernanda Montenegro perdeu o Oscar para Gwyneth Paltrow. pic.twitter.com/MRaDaQkU6m
— Salem (@rodrigosalem) November 24, 2020
Montenegro, por sua vez, já explicou que não compartilha do mesmo ponto de vista. “Eu acho uma coisa: é uma avaliação dela. Porque eu, por exemplo, teria dado pra Blanchett. Ela fez duas Elizabeths naquele ano extraordinárias. Duas. Não foi um filme, foram dois filmes, e de uma forma maravilhosa”, pontuou a atriz brasileira, em entrevista a Pedro Bial.
“Não é que o meu trabalho não seja respeitado, não é isso. Mas eu teria votado na Blanchett”, pontuou Montenegro, apreciando o reconhecimento por parte da artista hollywoodiana mesmo após tanto tempo. “Eu agradeço a Close por ter falado de mim. Isso (a premiação) já tem 21 anos, não é brincadeira, não. Então, uma colega da dimensão dela lembrar do meu trabalho eu considero um prêmio”, completou.
As polêmicas de “Shakespeare Apaixonado” não param por aí: a produção também chocou ao desbancar o grande favorito da crítica, “O Resgate do Soldado Ryan”, levando sete estatuetas naquela noite, incluindo Melhor Filme, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino e Melhor Trilha Sonora.
Muitos atribuem as vitórias a uma intensa campanha de marketing comandada por Harvey Weinstein, um dos produtores do longa e figurão da Miramax. Hoje condenado e preso por crimes sexuais revelados pelo movimento “Me Too”, Weinstein era, na época, um dos nomes mais influentes de Hollywood.
Para garantir o triunfo de “Shakespeare Apaixonado” e de Paltrow, o produtor teria promovido uma campanha agressiva, com lobby direto entre os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, além de sessões exclusivas e publicidade massiva. Segundo a imprensa especializada, nos bastidores, a estratégia foi ainda mais polêmica: Weinstein teria feito comentários negativos sobre “O Resgate do Soldado Ryan” em reuniões privadas com membros votantes da Academia e organizado festas luxuosas para influenciar a decisão final.
Mesmo após tantos anos, a vitória de Paltrow segue sendo uma das mais debatidas da história do Oscar.
