O produtor de “Shakespeare Apaixonado”, Edward Zwick, abriu o jogo sobre os momentos complicados que teve durante o planejamento do filme, ligados diretamente a Julia Roberts. Em texto para o Air Mail, publicado no sábado (4), ele relembrou o envolvimento conturbado da atriz no longa até sua renúncia ao papel principal, os ensaios problemáticos e um rombo de US$ 6 milhões deixado pela estrela de “Uma Linda Mulher”.
Zwick contou que as complicações começaram quando fez uma viagem com Roberts para Londres, a fim de realizar algumas leituras do roteiro e testar a química com os diversos atores que foram cotados para interpretar William Shakespeare. “O plano era um carro me buscar e depois buscar Julia a caminho do aeroporto. Mas uma hora antes do carro chegar, recebi uma mensagem enigmática da assistente de Julia: ‘Julia estava hospedada em um local não revelado’ – ninguém sabia onde. O motorista iria me buscar conforme planejado e então seríamos informados de onde encontrá-la”, escreveu ele.
Segundo Edward, Julia já sabia desde o início que queria contracenar com Daniel Day-Lewis, mas seu sonho não seria possível já que o ator estava comprometido com as filmagens de um outro longa. Após ouvir a negativa, Roberts teria pedido para a assistente enviar a Day-Lewis duas dúzias de rosas com um cartão que dizia: “Seja meu Romeu”.
Mais tarde, ele, Roberts e o roteirista Tom Stoppard se reuniram em um jantar antes da leitura que fariam com os atores. E o momento que seria de alinhamento de ideia não aconteceu. “Assim que o garçom trouxe os cardápios de sobremesa, ela recebeu uma mensagem e se levantou de sobressalto, pegou sua bolsa, fez um rápido pedido de desculpas truncado por ter esquecido os planos de ver um velho amigo e saiu correndo”, lembrou Zwick. “Tom parecia um pouco confuso com a saída repentina dela. Eu, por outro lado, senti cheiro de problemas. Ele percebeu meu desgosto, balançou a cabeça conscientemente e simplesmente disse: ‘Atrizes’”, completou.
Problemas com a leitura do roteiro e química com par romântico
O produtor seguiu o relato dizendo que Julia Roberts não apareceu no dia seguinte para a leitura com os atores. Edward encontrou a estrela em seu quarto de hotel, onde “ela começou a dizer que Daniel iria fazer o filme e que eu deveria cancelar o casting de hoje”. Entretanto, a afirmação não era verdadeira, e ela precisaria se encontrar com os outros escolhidos para fazer o teste de química. Day-Lewis já havia informado a Edward que estava envolvido no filme “Em Nome do Pai” e não poderia se comprometer com o novo projeto.
Após um assistente notificar a equipe de Roberts, a atriz apareceu nas leituras de química e fez dupla com Ralph Fiennes. “Mesmo quando Ralph fez o possível para provocar o famoso sorriso da atriz, Julia mal esboçou alguma reação”, disse o produtor. “Não estou sugerindo que ela estava sabotando deliberadamente, mas, mesmo assim, foi um desastre. Tentei chamar a atenção de Ralph para pedir desculpas quando ele saiu, mas ele saiu correndo de lá. Depois que ele se foi, virei-me para Julia, esperando sua reação. ‘Ele não é engraçado’ foi tudo o que ela disse”. O papel acabaria com o irmão de Ralph, Joseph Fiennes.
“O resto daquele dia e todos os dias da semana que se seguiram foram igualmente ruins”, continuou Zwick. Dentre os atores selecionados, estavam Ralph Fiennes, Hugh Grant, Rupert Graves, Colin Firth, Sean Bean e Jeremy Northam. Todavia, todos foram criticados pela atriz. “Após duas semanas de escalação, havia apenas um ator com quem Julia estava disposta a fazer o teste. O nome dele era Paul McGann”, admitiu Edward. Entretanto, após todos os contratempos causados pela atriz, ficou claro que os produtores não a queriam mais como Viola De Lesseps.
“Na manhã do teste, Julia emergiu da maquiagem, parecendo radiante em traje de época. Mas uma vez que ela começou a dizer as palavras, algo estava errado. Não havia mágica. O problema não era o roteiro. Ou Paul McGann. Era Julia. Desde o momento em que ela começou a falar, ficou claro que ela não estava trabalhando no sotaque”, pontuou ele.
Caos antes da saída de Julia Roberts do projeto
“Tentei encorajá-la, mas ela deve ter intuído meu desconforto e cometi o trágico erro de subestimar sua insegurança”, continuou. “Tendo sido catapultada para as alturas vertiginosas no topo da cadeia alimentar de Hollywood, ela deve ter ficado com medo de fracassar. Mas eu nunca conseguiria convencê-la a sair daquele buraco. Na manhã seguinte, quando liguei para o quarto dela, disseram-me que ela havia feito check-out”, lembrou.
Foi então quando Zwick entrou em contato com a assistente de Roberts, que havia o comunicado que “Julia havia voltado para os Estados Unidos e estava deixando o projeto”. Ao levar a notícia para Tom Pollock, chefe da Universal na época, o produtor foi informado que a companhia já havia gasto mais de US$ 6 milhões no longa até aquele momento. Tudo porque estavam convencidos de que teriam a famosa atriz de Hollywood em seu elenco, investindo, então, em locações, cenários e figurinos grandiosos e a escalação de outros nomes para o filme.
“Nunca mais falei com Julia. Ao invés disso, observei de longe como seu trabalho cresceu em profundidade e estatura. Não guardo ressentimentos dela. Ela era uma jovem assustada de 24 anos. Eu não era muito mais velho, mas estava tentando agir como um adulto enquanto assistia ao Globe Theatre demolido. E com ela meus sonhos de grandeza”, finalizou Zwick.
Depois de todo o caos, “Shakespeare Apaixonado” foi lançado anos mais tarde, em 1998, sob os comandos de Harvey Weinstein na Miramax Pictures. Joseph Fiennes permaneceu como o escolhido para viver William Shakespeare, mas foi Gwyneth Paltrow a selecionada para substituir Julia Roberts e interpretar Viola De Lesseps no romance de época. O sucesso foi tanto, que o longa arrecadou U$ 289 milhões e ganhou sete Oscars, incluindo os de Melhor Filme e Melhor Atriz para Paltrow. “Shakespeare Apaixonado” está disponível no Amazon Prime Video.