O filme “Vermelho, Branco e Sangue Azul” estreou no Prime Video na semana passada e já figura entre os longas mais assistidos da plataforma. A produção é uma adaptação do livro de mesmo nome da autora Casey McQuiston e narra a história de amor de Alex Claremont-Diaz (Taylor Zakhar Perez), filho da presidente dos Estados Unidos, e do príncipe Henry (Nicholas Galitzine), membro da realeza britânica. Entretanto, para chegas às telinhas, a história sofreu algumas alterações.
Em entrevista à Entertainment Weekly, o diretor e roteirista Matthew López admitiu que enfrentou uma série de desafios ao transformar a obra literária de 500 páginas em uma adaptação cinematográfica de pouco mais de duas horas. Para condensar tanta história em tão pouco tempo, Matthew teve que priorizar pontos chave que trariam profundidade aos protagonistas.
“Eu sabia que este filme precisava ser sobre Alex e Henry como indivíduos e como um casal. Qualquer coisa que não ajudasse minha compreensão de Alex como pessoa, Henry como pessoa e Alex e Henry como casal, não pertencia ao filme. Tive de ser realmente implacável sobre isso”, justificou ele.
López, então, detalhou seis das maiores mudanças que fez das páginas para a tela. Confira abaixo:
O status do casamento dos pais de Alex
Na obra literária, os pais de Alex – a presidente dos Estados Unidos, Ellen Claremont, e o senador da Califórnia, Oscar Diaz – são divorciados. O rapaz mora com a mãe na Casa Branca junto ao padrasto. Entretanto, no longa do Prime Video, Oscar (Clifton Collins Jr.) e Ellen (Uma Thurman) ainda são casados e felizes.
A decisão do diretor foi motivada por uma necessidade de enxugar a lista de personagens, além de simplificar a narrativa, tornando-a mais emotiva. “Oscar ainda casado com Ellen é uma narrativa mais limpa. É apenas um personagem a menos para o público ter que lidar. E, pessoalmente, fiquei realmente atraído pela ideia de mostrar um pai latino que ainda está com sua família. Eu realmente queria mostrar um pai mexicano-americano que ainda está com sua família. Eu precisava que essa unidade familiar estivesse intacta para o filme. Funciona no livro como está escrito, mas para o meu filme, eu precisava que essa unidade fosse unida e ininterrupta. Isso me ajudou a entender Alex”, declarou.
Onde está June?
Sempre muito atento a detalhes, o fandom de “VBSA” sentiu falta de uma personagem em particular: a irmã de Alex, June. López, entretanto, reforçou que a retirou da história deliberadamente, mas ainda assim a decisão foi difícil de explicar para a autora. “Esta foi provavelmente a mudança mais controversa. Acho que no começo foi muito difícil para Casey ouvir. Mas Casey é uma contadora de histórias inteligente o suficiente para ouvir meu raciocínio”, confessou o diretor.
“Era a possibilidade de ter duas jovens atrizes interpretando Nora e June, cada uma tendo muito pouco a fazer no filme por estarem as duas ali. Eu me preocupava com duas atrizes fazendo meia refeição e nenhuma tendo uma chance real de brilhar. Eu tinha a preocupação de que eles desaparecessem em segundo plano como resultado. No set, costumávamos dizer ‘Descanse em paz, June’, porque peguei o que precisava da história dela e dei para Nora”, explicou.
Rachel Hilson ficou com a missão de dar vida à Nora, melhor amiga de Alex – papel que antes era ocupado por June. Para Matthew, o corte também influenciou a narrativa: “O outro pensamento que tive enquanto montava o filme foi que gostei da ideia de Alex ser filho único porque sabia que queria escalar atores mais velhos do que a maioria das pessoas supõe que os personagens sejam. Eu precisava de algo que ajudasse o público a entender por que Alex é protegido. Eu precisava que ele tivesse energia de filho único. Isso nunca é falado no filme, mas implicitamente, o fato de Alex ser filho único ajuda o público a entendê-lo melhor”.
Deus salve…
Enquanto o livro de McQuiston apresenta uma mulher no trono, o filme gira em torno de um rei. A razão da mudança foi a escolha de Stephen Fry para o papel. “Eu estava tentando encontrar algo para fazer com Stephen por um bom tempo. Então eu disse: ‘Vamos fazer um rei. Isso é uma coisa perfeita para Stephen’. Quero dizer, no final das contas, se você tem Stephen Fry, por que não?”, justificou López.
O diretor também sentiu que a representação da rainha da Inglaterra foi bem explorada na cultura pop e que, por esse motivo, uma nova abordagem seria mais interessante. “No entretenimento, estávamos muito saturados de rainhas. Eu não sabia como apresentar uma rainha da Inglaterra que não fizesse o público pensar na rainha Elizabeth. Metade das atrizes que estavam na lista inicial a interpretaram em um ponto ou outro. E se não tivessem interpretado ela, elas interpretaram outra rainha da Inglaterra”, recordou ele.
Por fim, especialmente após a ascensão do rei Charles III ao trono, López sente que abriu um precedente para o que será um gancho mais familiar para o público daqui para frente. “Mesmo que Sua Majestade ainda estivesse viva quando o filme foi lançado, a maioria das pessoas vai encontrar este filme em suas vidas enquanto houver um rei da Inglaterra. Se a primogenitura se mantiver, os próximos três monarcas da Inglaterra serão homens”, destacou.
Novo vilão
Nas páginas de McQuiston, Alex se vê no centro de um imbróglio envolvendo o senador Rafael Luna e o principal adversário de sua mãe para a presidência, Jeffrey Richards. É a campanha de Richards que vaza os vários e-mails e fotos do relacionamento secreto de Alex e Henry.
Entretanto, o longa deu essa missão ao repórter político Miguel Ramos (Juan Castano), vilão que se relacionou anteriormente com Alex e acaba o traindo ao expor o relacionamento com o príncipe. “As coisas de Luna e Richards no livro, eu sabia que se tornariam um pântano de complicações desnecessárias para entender o conflito no filme. Eu precisava criar uma complicação muito simples de executar, simples de entender e simples de decifrar no filme, e é por isso que decidi descartar o papel de Luna e a intriga com a campanha de Richards”, afirmou o cineasta.
“Em vez disso, inventamos o personagem de Miguel Ramos, que era um jornalista com quem Alex teve um caso anterior, que entendemos ser um dos principais fatores motivadores por trás do vazamento de e-mail. Eu precisava que o público entendesse o vazamento de e-mail cinco segundos depois de ouvir sobre isso. Eu precisava que o público não tivesse que fazer nenhuma matemática sobre quem está por trás disso e por quê”, acrescentou.
Sexualidade de Alex
No romance, Alex começa a história se considerando heterossexual, apesar de já ter explorado sua sexualidade com seu melhor amigo, Liam, no ensino médio. O primeiro-filho dos EUA só começou a questionar sua sexualidade até que Henry o beijou, o que o levou a uma crise existencial.
Já no longa, Alex já se envolveu com um homem anteriormente e é claramente indiferente sobre com quem se envolve sexualmente. “Primeiro, é um Alex um pouco mais velho do que o que está no livro. Também é mais eficiente contar histórias para não ver muito, porque a outra coisa que você perde em um filme que você tem em um livro é o monólogo interior. Em um filme, um personagem é definido apenas pela ação. Eu precisava de algo que fosse ato. Então, Alex diz: ‘Posso entender gostar de caras em um certo nível, mas o que realmente me deixa confuso é gostar de Henry’. Eu queria que esse fosse o verdadeiro problema de Alex. Eu queria apresentar alguém que realmente não pensou em se dar um rótulo, mas o fato de que ele é ‘curte caras em um certo nível’ não é uma surpresa para ele. Mas ele ainda não teve nenhum motivo para se identificar até que Henry lhe deu um”, disse López.
História, hein?
Um dos momentos mais icônicos do livro de McQuiston é quando Alex escreve para Henry em um e-mail: “História, hein? Aposto que poderíamos criar algumas”. Essa fala se torna um símbolo importante e recorrente na relação dos dois e até mesmo aparece em um mural na rua, com Alex e Henry como Han e Leia de Star Wars. A fala é tão amada pelos fãs da história que virou tema de merchandising, estampou camisetas e muito mais.
A fala ainda está no filme, mas em vez de aparecer em um e-mail, ela é dita em voz alta enquanto os dois visitam o Victoria and Albert Museum. Por causa disso, a sequência do mural não existe mais. “Decidi que seria mais poderoso fazer Alex dizer a frase na cena do V&A em vez de ouvi-la na narração nos e-mails, que é como está no livro. Como agora é pronunciado em um momento privado entre eles, não há como alguém saber que ele disse isso, tornando o mural logicamente impossível”, concluiu López. A decisão também teria sido motivada pelo preço exorbitante do licenciamento de imagens de Star Wars.
Apesar das mudanças, o cineasta sente que o produto final é fiel ao espírito do romance. “Eu disse a Casey: ‘Vou machucá-lo temporariamente para fazer o melhor trabalho possível neste filme. Você vai se preocupar com a minha sanidade. Você vai se preocupar com a minha aptidão para este trabalho. Você vai desejar que eles tivessem contratado outra pessoa para dirigir este filme. E então eu prometo a você, no final do dia quando você ver o filme pela primeira vez, se eu não tiver falhado, você vai entender o método para a minha loucura’. O melhor dia da minha vida foi o dia em que mostrei este filme a Casey pela primeira vez e ela adorou”, finalizou.