Em outubro do ano passado, a França ficou chocada com o assassinato do professor Samuel Paty, decapitado por um islamita radical. Nesta segunda-feira (8), as autoridades do país relataram que a morte foi provocada diretamente por uma mentira contada por uma das alunas do homem, de apenas 13 anos. “Uma realidade tão cruel quanto revoltante”, disparou o jornal Le Parisien.
Semanas antes do assassinato, a garota provocou extrema revolta de pais e alunos da escola de Conflans-Sainte-Honorine, na periferia de Paris. Ela acusou o professor de promover islamofobia na sala de aula, após lecionar sobre liberdade de expressão ao exibir caricaturas polêmicas do profeta Maomé, publicadas nos últimos anos pelo jornal satírico Charlie Hebdo. A aluna contou ao pai e depois para a polícia que Samuel exigiu a saída dos estudantes muçulmanos da classe. Na primeira versão, ela alegou que se recusou a cumprir a ordem, e discutiu com Samuel até ser expulsa.
As acusações graves da menina fizeram com que seu pai gravasse um vídeo, que viralizou nas redes sociais. Na gravação, ele chamava Samuel Paty de “bandido”, divulgou seu número de telefone celular e o endereço da escola. Além disso, uma denúncia foi registrada na polícia contra o professor por “difusão de imagens pornográficas” e ele chegou a depor sobre a polêmica.
Quatro dias antes de sua morte, o professor defendeu-se e afirmou que estava sendo vítima de uma mentira criada pela aluna. Na ocasião, Samuel já alegava que a menina não estava presente na tal aula. “Ela inventou uma história através de rumores de colegas. Trata-se de uma falsa declaração com o objetivo de prejudicar a imagem do professor que eu represento, da escola e da educação como instituição”, disse em um trecho do interrogatório, divulgado pela Franceinfo. Paty foi assassinado próximo a escola por um jovem de 18 anos, que foi gravemente ferido pela polícia numa cidade vizinha.
As investigações fizeram com que a aluna fosse interrogada várias vezes. Foi então que ela começou a mudar as versões do que teria acontecido. Finalmente, em novembro, ela admitiu que não estava presente na fatídica aula, o que foi confirmado pelos depoimentos dos outros estudantes. Eles também afirmaram que o professor em nenhum momento expulsou alguém da sala de aula. Ao contrário, antes de mostrar as caricaturas, o professor advertiu que se os jovens ficassem chocados com as imagens, poderiam fechar os olhos.
A polícia ainda tenta entender o que motivou a aluna a mentir, e pior, sustentar a história fantasiosa mesmo com tantas coisas negativas que já estavam acontecendo com Samuel Paty ainda vivo. As autoridades acreditam que ela tentava se sentir valorizada pelo pai, uma vez que tem uma irmã gêmea que é “nota 10” na escola. A adolescente, pelo contrário, tem um histórico com uma série de ausências e exclusões por comportamento insolente.