Uma brasileira estaria presa há sete meses no Camboja, país do sudeste da Ásia, depois de cair em um esquema internacional de tráfico humano. Segundo a família da brasileira ao jornal O Globo, ela viajou ao país em janeiro após receber uma proposta de trabalho em telemarketing. No entanto, a arquiteta acabou descobrindo que seria forçada a aplicar golpes pela internet.
De acordo com familiares, Daniela foi atraída pela promessa de um contrato temporário de até um ano e planejava retornar ao Brasil logo depois. Ela embarcou no dia 30 de janeiro, mas logo percebeu que havia algo errado.
“Quando ela chegou, mandou para nós a localização. Começamos a achar muito estranho: era um complexo afastado da capital, próximo da fronteira com a Tailândia. Assim que ela entrou lá, pegaram o passaporte dela. Não tinha como ela sair. É um local sem comércio, sem estrada, sem nada”, afirmou Lorena, irmã da vítima, ao O Globo.

Segundo Lorena, novas vítimas do mesmo esquema chegaram no local nas semanas seguintes. Em março, durante o treinamento para o suposto trabalho, Daniela percebeu que seria obrigada a cometer crimes virtuais. Ao se recusar a continuar, foi informada de que precisaria pagar uma multa para sair.
Pouco depois, a família alegou que drogas foram colocadas na bagagem da arquiteta, que acabou detida e levada para a Prisão Provincial de Bantiey Meanchey. Daniela será julgada no dia 23 de outubro por posse e uso de entorpecentes. As substâncias encontradas não foram especificadas.
Depois da prisão, os familiares afirmaram que receberam mensagens de criminosos que usavam o celular de Daniela para pedir dinheiro. Cerca de R$ 27 mil chegaram a ser transferidos antes que a família percebesse o golpe. “Eles ficaram com todos os pertences dela, inclusive o celular. Com ele, começaram a mandar mensagem para nós, se fazendo passar por ela. Falaram que tinha uma multa a ser paga. Percebemos que não era ela por conta dos erros de ortografia e também perguntamos coisas íntimas”, contou a irmã.
O primeiro contato real com Daniela aconteceu apenas em 29 de março. Na conversa, ela contou o que havia acontecido e disse que pediu para fazer um teste toxicológico, mas o pedido foi negado. Desde então, enfrenta dificuldades na prisão por não falar o idioma local, embora uma ONG tenha conseguido um advogado para representá-la no julgamento.

“Eu acho que eles a ludibriaram. Eles se aproveitam da pessoa que está tentando conseguir emprego há um tempo e não encontra. (…) Ela não foi sabendo que tudo isso iria acontecer, caso ela fosse embora. Colocaram ela em uma situação de um crime que ela não cometeu, extorquiram a nossa família e a deixaram em um presídio insalubre”, disse Lorena, desta vez em uma entrevista ao UOL.
A família agora tenta arrecadar fundos para ajudar no retorno da arquiteta ao Brasil. A vaquinha virtual busca R$ 60 mil para cobrir despesas com advogados, passagens e itens básicos. Ao O Globo, o Itamaraty confirmou que acompanha o caso por meio da Embaixada do Brasil em Bangkok.
“A Embaixada vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas”, diz a nota do Ministério das Relações Exteriores.
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