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Brasileira fala pela 1ª vez sobre grave acidente em circo dos EUA, dez anos depois: ‘O corpo não me obedeceu’; assista

bailarina EUA

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No “Fantástico” deste domingo (28), a brasileira Stefany Neves falou pela primeira vez sobre o grave acidente que sofreu em um circo nos Estados Unidos. Na época, em 2014, oito acrobatas compunham a formação chamada do “candelabro humano”, quando despencaram de uma altura de 12 metros e se chocaram contra o chão. Entre as três brasileiras feridas, o caso de Stefany foi o mais preocupante. Ela estava na “base” da acrobacia, que durou apenas três segundos naquele dia.

Ela tinha 19 anos quando teve o fígado perfurado, duas costelas, o fêmur e outros ossos quebrados, além de duas paradas cardíacas. “Eu tinha tantos sonhos. Tantos sonhos que pra mim foram esmagados. Eu era a do meio, a que tava mais baixo, justamente por ser pequenininha, magrinha. Então estava todo mundo em cima de mim. Eu achava: ‘Por que eu?'”, lembrou. O circo “Ringling Bros” era considerado um dos mais antigos e tradicionais do país.

Dez anos após o fatídico 4 de maio, ela contou detalhes de sua recuperação física e emocional. “A noite anterior eu não dormi. Acho que era uma grande intuição. Às sete, eu levantei, me arrumei, peguei o ônibus. A gente morava no trem. E aí quando começa esse show, a cortina cai e logo depois, segundos, a estrutura cai. Eu acordo no chão. Eu não conseguia respirar”, relatou.

A segunda parada cardíaca veio quando os médicos tentavam estancar uma hemorragia interna: “Desmaiei. A minha consciência ia e voltava. Numa dessas vezes que eu tento acordar, a primeira coisa que eu quis fazer foi me levantar. O corpo não me obedeceu. Quando eu pensava que eu já estava evoluindo para que eu pudesse ir pra um hospital de reabilitação, eu começo a passar muito mal. É feito um exame e eu descubro uma infecção grave”.

“Eu cheguei a pesar 26 quilos, hoje eu tenho 46, então eu fiquei 20 quilos abaixo do que eu estou. E cheia de fratura, ao mesmo tempo tinha gesso, placa. Era uma dor que matava meu coração. Eu pensava assim: ‘Por que com 19 anos? Por que esse acidente não aconteceu depois?’. Eu queria ter vivido mais, sonhado mais”, continuou.

Ela voltou para casa depois de três meses no hospital e ficou sob os cuidados da família. “É uma dor inexplicável. A sua filha sai da sua casa, perfeita, com sonhos a realizar, carregando uma sapatilha nas costas, uma sapatilha de balé. Eu chorava no corredor, no banheiro. Só. Mas nunca na frente dela, eu não podia. Eu tinha que dar força a ela”, desabafou a mãe.

Quando ainda estavam nos EUA, Stefany traduzia para os pais o que os médicos diziam. “Os médicos entram no quarto e falam: ‘Você não está respondendo, a bactéria é resistente. Você pode continuar com os antiobióticos aumentando, mas a gente acha que você não vai sobreviver. Ou você entra em cirurgia agora para fazer uma raspagem do líquido, mas sem garantia'”, lembrou.

“Eu tive que traduzir olhando no olho deles. Eu não podia imaginar o coração da minha mãe ao escutar aquilo da própria filha. E ela me mandou virar pro médico e falar na cara dele: ‘A minha filha vai sobreviver!’. E eu sobrevivi. Eu tinha que acordar, lutar, caminhar”, acrescentou ela.

A jovem ficou na faixa dos 35 quilos por nove anos. Só de um ano e meio para cá, está se recuperando fisicamente. Desde o acidente, ela já passou por 10 cirurgias. “Eu descobri há dois anos que eu tenho doença arterial, alguma artérias são entupidas, obstruídas, por conta das várias intervenções cirúrgicas. Dói coluna, dói o pé que eu quase perdi. Mas não foi em vão, me fez ser a mulher que sou hoje, afirmou.

A Justiça norte-americana determinou o pagamento de indenização às vítimas. “Nada paga as minhas sequelas, mas foi, sim, algo que, pela justiça dos homens, foi razoável. Houve uma negligência. O mosquetão que segurava o aparelho todo foi mal colocado, mal cuidado”, disse ela, que está escrevendo um livro sobre a trajetória.

As outras duas brasileiras que se acidentaram junto com Stefany também não retomaram suas carreiras no circo. Daiana Florentino é mãe de duas crianças, enquanto Widny Neves trabalha em um hospital de Orlando, na comunicação entre médicos e pacientes. “Todo ano, em 4 de maio, a gente celebra a segunda chance de vida que tivemos. E está marcado, temos uma tatuagem todas juntas. Isso aqui é pra sempre”, concluiu Stefany.

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