Em um caso de difamação internacional, que repercute desde o ano passado, um italiano acusa a ex-namorada brasileira de engravidar para tentar ganhar o dinheiro da pensão alimentícia. Segundo Nunzio Bevilacqua, Bárbara Zandômenico Perito faria parte de uma seita com outras mulheres, cujos objetivos são semelhantes.
O advogado e empresário com negócios no Brasil expôs à imprensa italiana que a gravidez da brasileira seria fruto de orgias e ritos satânicos. Ela nega as afirmações, e sua defesa quer que o italiano seja responsabilizado criminalmente.
A RAI, principal TV da Itália, transmitiu a reportagem em 3 de abril de 2024, exibindo cenas turísticas do Brasil com imagens preconceituosas de cultos religiosos. Na chamada dizia: “Italiano vítima de magia e extorsão no Brasil. Inventam-se falsas paternidades para arrancar dinheiro”.
Início do relacionamento
Ao “Fantástico” deste domingo (11), Bárbara contou que tudo começou em Tubarão, no estado de Santa Catarina, quando conheceu Nunzio. Descendente de italianos, ela dá aulas para brasileiros e ensina português para estrangeiros. Foi em uma dessas ocasiões que conheceu o empresário e, cinco meses depois, a relação profissional evoluiu para algo mais pessoal.
“Desde o início, ele já me apresentava como namorada dele. Eu achei isso um pouco estranho, mas também não comuniquei a ele. E acabei sendo, né?”, avaliou a professora. Depois de uma viagem com Nunzio pelo Brasil, Bárbara descobriu que estava grávida. “[O teste] deu positivo. E ele ficou superfeliz”, relatou.
O empresário, porém, retornou para a Itália e, de lá, insistiu que a brasileira fosse atrás dele. Contudo, eles começaram a se afastar durante a gestação. “Comecei a pensar se talvez não seria melhor se eu ficasse na gravidez no Brasil, perto da minha família, porque era uma coisa nova. É minha primeira filha, eu não sabia como seria. É tudo muito novo. E ele não aceitou muito bem”, revelou ela.
Assista:
Ver essa foto no Instagram
Difamação
De acordo com Bárbara foi a partir deste instante que as calúnias começaram. “Ele me ligou um dia perguntando se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente. Eu falei: ‘Isso aqui não está certo. A gente precisa fazer o que é certo: registrar, acertar convivência, acertar pensão'”, recordou.
O bebê nasceu dois meses depois desta ligação, em julho de 2022. Nos dias seguintes, Nunzio quis fazer um teste de DNA em um local escolhido por conta própria, segundo um antigo advogado dele. “Ele me mandou uma mensagem dizendo que preferia fazer o exame em São Paulo, que ele não queria ver Bárbara novamente”, afirmou Matheus Livramento, que representava o italiano.
Após a confirmação da paternidade, ele pediu um segundo teste, mas que foi negado pela Justiça. Posteriormente, Nunzio passou a dizer para a imprensa de seu país que havia uma organização criminosa no Brasil com o objetivo de enganar homens europeus para extorquir o dinheiro deles.
A RAI, porém, foi apenas um dos veículos a publicar a história. Em outras entrevistas, o empresário informou que tinha recebido a seguinte denúncia anônima: “A gravidez de Bárbara seria fruto de orgias e ritos satânicos brasileiros que alimentavam uma fábrica de crianças sobrenaturais para lucro com pensões alimentícias”.
Membros do Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até mesmo os familiares de Bárbara foram envolvidos no caso. “Ele criou uma narrativa como se no Brasil tudo fosse possível. Seita religiosa, que é uma organização criminosa, em que as mulheres engravidam de um santo por meio de uma fertilização. Ou seja, todas as crianças são filhas do mesmo santo, do mesmo guru. E, depois de dois anos, se a gente não alcança o objetivo, as crianças são vendidas”, explicou Bárbara.
A defesa de Bárbara quer que Nunzio seja responsabilizado criminalmente. “Ele atenta contra o Ministério Público, ele atenta contra a Igreja Católica, contra outras religiões, contra uma pessoa que tem direitos, que é a Bárbara, e mais ainda: contra a filha dele, uma menor de idade”, declarou Vitor Poeta, que representa a professora, ao dominical. Ele acrescentou que, infelizmente, não há “prova nenhuma” contra o italiano.
Processo criminal
Um processo criminal foi instaurado para apurar a possível prática dos crimes de calúnia, difamação e perseguição, também conhecido como stalking. Todos teriam sido cometidos pela internet, em um contexto de violência doméstica. Além disso, mo início do mês, a Justiça Federal concedeu a Bárbara medidas protetivas.
A decisão ocorreu após uma equipe de reportagem italiana vir ao país gravar e publicar imagens da professora e da criança na rua, no ano passado. “Nós temos um pouco de receio do que pode acontecer pelo tamanho que essa história tomou e pela vinda de repórteres, vinda de profissionais contratados por ele que foram atrás de familiares, invadiram a casa dela. Isso, de forma criminal, é o que a gente pode fazer aqui no Brasil”, completou Poeta.
Entre as outras medidas, Nunzio está proibido de se aproximar de Bárbara e de seus familiares, caso venha ao Brasil. A distância mínima autorizada é de três quilômetros. O empresário também está proibido de contatar a brasileira e os parentes dela por qualquer meio de comunicação.
Até o momento, Nunzio não se pronunciou sobre o assunto. Bárbara e a filha, hoje com três anos, continuam em Tubarão (SC), com a professora dando aulas. Conforme o “Fantástico”, ela nunca recebeu nenhuma ajuda financeira do empresário e ele ainda não reconhece a paternidade.
Ao final, a brasileira defendeu-se das acusações. “Eu não faço parte de seita nenhuma. Não existiu golpe de nenhum tipo. Existia um relacionamento que não deu certo e, desse relacionamento, existe uma criança que é saudável. Minha filha, filha dele, que vive e está aí. É isso que existe nessa história”, concluiu Bárbara. Assista à íntegra:
Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques