No fim de semana, um vídeo do Dalai Lama beijando um garotinho na boca e depois pedindo para a criança “chupar a língua” dele gerou uma forte onda de críticas ao líder espiritual tibetano. Nesta segunda (10), em comunicado publicado nas redes sociais, o monge budista pediu desculpas ao menino e à família “por suas palavras”.
“Sua Santidade quer se desculpar com o garoto e sua família, assim como com seus muitos amigos ao redor do mundo, pela dor que suas palavras possam ter causado“, declarou o texto, ignorando o beijo. “Sua Santidade costuma provocar as pessoas que conhece de maneira inocente e divertida, mesmo em público e diante das câmeras“, alegou. Por fim, o Dalai Lama disse lamentar o incidente.
— Dalai Lama (@DalaiLama) April 10, 2023
O caso aconteceu no templo do Dalai Lama em Dharamshala, na Índia ,em 28 de fevereiro. Na ocasião, ele interagiu com cerca de 120 alunos que concluíram um programa de treinamento de habilidades de uma fundação filantrópica. No vídeo que viralizou e causou revolta, o menino é visto perguntando se pode abraçar o líder religioso. O Dalai Lama então aponta para a própria bochecha, dizendo “primeiro aqui“. O garotinho beija sua bochecha e lhe dá um abraço.
Enquanto segura a mão da criança, o monge acena para os lábios e sugere: “Acho que aqui também“. Ele então beija o menino na boca. O líder espiritual encosta a testa na testa do garotinho, antes de colocar a língua para fora e pedir “chupa minha língua“. Enquanto algumas pessoas riem, o menino chega a mostrar um pouco da língua.
Após novos abraços, o monge conversa por mais algum tempo com o pequeno, dizendo para ele se inspirar “nos seres humanos bons que promovem a paz e a felicidade“. Assista:
O vídeo causou revolta nas redes sociais, e o monge budista de 87 anos passou a ser acusado de pedofilia. Com a repercussão, uma petição chamada “Salvem as crianças de Dalai Lama – Vamos parar com o abuso infantil” foi criada na plataforma Change. “Considerando o fato de ser um líder religioso, seu comportamento inadequado pode ser seguido por um grande número de devotos, aumentando assim os riscos de abuso e abuso sexual infantil. Caso a influência se expanda ainda mais, é necessário que o Dalai Lama faça uma declaração para alertar seus seguidores contra o abuso infantil em seus ritos religiosos”, descreve o texto.
Um artigo publicado pela BBC afirmou que mostrar a língua é uma forma de dizer “olá” no Tibet. “Trata-se de uma tradição do século IX, época em que reinava Lang Darma, um imperador pouco aclamado pelas massas, conhecido pela sua língua escura. Pessoas no Tibete mostram a língua para provar que não são a reencarnação dele”, relatou o texto.
Uma organização de direitos da criança, com sede em Deli, na Índia, porém, contestou qualquer chance de expressão cultural no vídeo. Em comunicado à CNN, a Haq: Center for Child Rights condenou “toda forma de abuso infantil“. “Algumas notícias se referem à cultura tibetana sobre mostrar a língua, mas este vídeo certamente não é sobre qualquer expressão cultural e mesmo que seja, tais expressões culturais não são aceitáveis“, apontou a instituição.
O atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso, já havia causado polêmica em 2019. Na época, o budista afirmou que, se sua sucessora fosse uma mulher, ela deveria ser “atraente”. “Se vier uma Dalai Lama mulher, ela deve ser mais atraente”, disse ele.
Os comentários, que atraíram críticas em todo o mundo, foram feitos em entrevista à BBC. Mais tarde, Tenzin se desculpou pelas declarações controversas. No mês passado, o líder religioso nomeou um menino mongol nascido nos Estados Unidos como o 10º Khalkha Jetsun Dhampa Rinpoche, o terceiro posto mais alto no budismo tibetano.