[Alerta de conteúdo sensível] O julgamento do francês Dominique Pélicot, que drogou a esposa, Gisèle, por 10 anos para que estranhos a estuprassem, segue revelando novas informações. Nesta segunda-feira (9), especialistas começaram a traçar o perfil do homem, que foi considerado “duas caras”, um “manipulador perverso” e consumido por “fantasias obsessivas”.
O psiquiatra Paul Bensussan acrescentou que Dominique também poderia aparentar ser um “marido, pai e avô honrado, e um amigo querido”, mas, simultaneamente, “mente muito”. “Sua personalidade tem duas caras: por um lado, é um patriarca em quem as pessoas próximas podem confiar e, por outro, ele usa mentiras e sigilo”, declarou a psicóloga Marianne Douteau, acrescentando que as características são semelhantes às do pai de Dominique, a quem ele odiava.
“A sexualidade do senhor Pelicot parece calcada em sua personalidade: comum em público, mas para sua parceira ele tem uma sexualidade tenaz”, explicou. Segundo ela, a esposa de Dominique rejeitou categoricamente uma proposta de troca de casais, e o homem compensou a negativa “utilizando sites de chat pornográficos”.
“De dia, pode ser coerente, e à noite, parecer diferente”, declarou o psicólogo Bruno Daunizeau sobre a personalidade do acusado. Ele explicou que o homem mantinha relações com a esposa “dentro da normalidade”, mas, gostava de voyeurismo e exibicionismo. “O voyeurismo faz parte da sua dinâmica psicossexual”, confirmou a psicóloga Annabelle Montagne, ressaltando que Dominique utilizava a prática para ressaltar seu “egocentrismo e sua propensão a considerar os outros como objetos manipuláveis”.
A especialista ainda apontou um detalhe crucial nos crimes cometidos pelo homem contra sua esposa: “O fato de a pessoa ser totalmente passiva pode apontar para fantasias de necrofilia”.
O grupo de profissionais, no entanto, divergiu sobre as causas por trás do comportamento de Dominique. Para Montagne, “a aposentadoria e a mudança do casal [para Mazan] podem ter enfraquecido as barreiras defensivas de sua psique”. Já Bensussan garantiu que ele não sofre de “nenhuma patologia ou anomalia mental”. Por sua vez, o psiquiatra Laurent Layet afirmou que “pessoas comuns geralmente realizam atos extraordinários” e que “a maioria das loucuras não é cometida por pessoas loucas”.
Dominique passará por seu primeiro interrogatório amanhã (10). De acordo com um jornalista da AFP, ele chegou a comparecer à sessão de hoje, mas se retirou devido a dores intestinais.
Dominique assume os crimes
Dominique Pélicot foi acusado de drogar a esposa com tranquilizantes potentes, deixando-a desacordada, e levar homens para que eles pudessem estuprá-la em Mazan, no sul de França, onde o casal morava. Os crimes começaram em 2011, mas se tornaram mais frequentes a partir de 2013. O réu confessou, na terça-feira (3), ser culpado de todas as acusações e pode enfrentar uma pena de até 20 anos de prisão.
As autoridades francesas revelam que Dominique deixava Gisèle dopada, desacordada e à mercê dos “convidados”. Ele não pedia dinheiro em troca das relações sexuais, mas orientava os homens a não usarem perfume ou tabaco, além de aquecer as mãos com água quente e tirar a roupa na cozinha, para evitar que itens fossem esquecidos no quarto.
Nesta sexta-feira (6), foi a vez da filha do casal, Caroline Darian, de 45 anos, testemunhar. A moça afirmou que Dominique é “um dos maiores criminosos sexuais dos últimos 20 anos”. Em meio às lágrimas, ela também relembrou o dia em que descobriu os crimes do pai. Leia a íntegra do depoimento, clicando aqui.