Nesta segunda-feira (21), a enfermeira Lucy Letby, de 33 anos, foi condenada a prisão perpétua por assassinar sete bebês e tentar matar outros seis. Os crimes ocorreram no Hospital Condessa de Chester, na Inglaterra, entre junho de 2015 e junho de 2016. Além de aplicar injeções de insulina e ar nas crianças que estavam na UTI neonatal, Lucy deu leite à força e sem prescrição para os bebês.
Segundo a revista People, ela foi considerada culpada em 14 das 22 acusações, durante o julgamento no Manchester Crown Court. “Esta foi uma campanha cruel, calculada e cínica de assassinato de crianças envolvendo os menores e mais vulneráveis”, disse o juiz James Goss.
“Como a gravidade de seus delitos é excepcionalmente alta, ordeno que as disposições de soltura antecipada não se apliquem. A ordem do tribunal, portanto, é uma ordem de prisão perpétua. Você passará o resto de sua vida na prisão”, continuou o magistrado, afirmando ainda que ela não demonstrou remorso por seus crimes.
Letby se recusou a comparecer ao tribunal para acompanhar sua sentença, além de ouvir as declarações dos pais dos bebês. Segundo Gross, no entanto, ela vai receber uma cópia com todas as falas e observações.
O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak condenou a acusada por não comparecer ao julgamento e garantiu que a lei será alterada para que a presença se torne obrigatória. “Acho covarde que pessoas que cometem crimes tão horrendos não enfrentem suas vítimas e não ouçam em primeira mão o impacto que seus crimes tiveram sobre elas, suas famílias e entes queridos. Estamos procurando e temos mudado a lei para garantir que isso aconteça e isso é algo que apresentaremos no devido tempo”, afirmou.
Em declaração, Pascale Jones, do Serviço de Acusação da Coroa, também celebrou a decisão. “Lucy Letby foi incumbida de proteger alguns dos bebês mais vulneráveis. Mal sabiam os que trabalhavam ao seu lado que havia uma assassina no meio deles. Ela fez de tudo para ocultar os seus crimes, variando as formas como prejudicava repetidamente os bebês em seu cuidado”, relatou.
“Ela nunca mais será capaz de infligir o sofrimento que causou enquanto trabalhava como enfermeira neonatal. Os meus pensamentos continuam com as famílias das vítimas, que demonstraram uma enorme força face a um sofrimento extraordinário. Espero que o julgamento tenha trazido todas as respostas”, concluiu Jones.
Ao longo do julgamento, Lucy negou as acusações e disse as mortes foram causadas pelas “condições de higiene do hospital”. Seus advogados argumentaram que os casos foram resultado de “falhas em série no atendimento” na unidade e que ela foi vítima de um “sistema que queria atribuir culpas quando falhava“.
A promotoria, porém, apontou que a mulher era uma oportunista que “iludiu” colegas para encobrir seus “ataques assassinos“. A polícia local continua examinando casos para identificar outras possíveis vítimas da enfermeira.
Matei de propósito
As ações de Letby vieram à tona quando médicos se preocuparam com o número de óbitos sem explicações e colapsos nos pacientes a partir de janeiro de 2015. Os profissionais não conseguiram encontrar uma razão clínica para elucidar as mortes e a polícia foi acionada. Após uma longa investigação, a enfermeira foi apontada como “presença malévola constante quando as coisas pioraram“, segundo o promotor Nick Johnson, autor da investigação.
Após a prisão, autoridades encontraram documentos e anotações médicas com referências às crianças envolvidas no caso na casa dela. “Eu os matei de propósito porque não sou boa o suficiente para cuidar deles”, escreveu Lucy em uma nota localizada por policiais. “Sou uma pessoa horrível e má”, disse. “Eu sou má, eu fiz isso“, acrescentou. Outras anotações supostamente falavam sobre sua inocência.
O manuscrito encontrado vai contra o que foi dito por ela enquanto prestava depoimento por 14 horas. Lucy declarou que nunca havia tentado machucar as crianças e sempre quis cuidar dos pacientes, além de criticar as condições de trabalho da unidade de saúde. “Eu nunca matei uma criança ou machuquei nenhuma delas”, alegou.
Para o júri, a enfermeira contou que escreveu “eu sou má” porque se sentiu incompetente, sobrecarregada e que havia feito algo errado. No interrogatório, ela também explicou por que escreveu e tirou foto de uma carta de condolências enviada para a família de um dos bebês mortos. “Acho que foi bom lembrar as palavras gentis que compartilhei com aquela família“, alegou na época.