Homem cria deepfakes pornográficos de amiga e dezenas de mulheres em caso chocante na Austrália; vítima revela desfecho

Caso chegou a ser documentado em um programa da ABC

[Alerta: Linguagem ofensiva e descrições de violência sexual] O que começou com uma simples mensagem anônima tornou-se um dos casos mais chocantes de deepfake e perseguição digital na Austrália. De acordo com a BBC, Hannah Grundy, professora de 35 anos, recebeu um e-mail perturbador em fevereiro de 2021. A mensagem trazia um link e um aviso em negrito: “Contém material perturbador”. Ao abrir, ela se deparou com uma página inteira dedicada a sua “destruição”.

Havia mais de 600 fotos adulteradas, com seu rosto inserido em imagens pornográficas, além de descrições violentas e enquetes nas quais anônimos votavam em formas de abuso. Seu nome completo, redes sociais e até seu bairro estavam expostos. Mais tarde, ela descobriria que seu número de telefone também havia sido divulgado.

Aterrorizada, Hannah contou ao namorado, Kris Ventura, que imediatamente começou a investigar a origem da página. Foi então que perceberam algo ainda mais alarmante: além de Hannah, dezenas de outras mulheres apareciam nas montagens, muitas delas conhecidas do casal. Isso significava que o responsável pelo crime estava por perto.

Hannah contou sua história em documentário (Foto: Reprodução/ABC)

Uma investigação feita em casa

Sem tempo para esperar pela ação das autoridades, Hannah e Kris passaram a noite analisando as fotos e cruzando informações. Depois de quatro horas, chegaram a uma lista de três suspeitos. Um deles era Andrew Hayler, conhecido como Andy, um amigo próximo desde os tempos de universidade.

Andy era alguém em quem todos confiavam. Ele trabalhava como supervisor de um bar no campus e sempre foi visto como um protetor do grupo. Para Hannah, ele era “um amigo muito próximo”.

No entanto, conforme aprofundavam a investigação, ficou claro que Andy era o único com acesso às redes privadas das vítimas. Com essa revelação, Hannah e Kris foram à polícia esperando uma resposta rápida, mas se depararam com descrença e indiferença.

Continua depois da Publicidade

Descaso das autoridades e medo crescente

Na delegacia, a primeira reação dos policiais foi minimizar o caso. Um deles chegou a perguntar o que Hannah teria feito para Andy. Outro sugeriu que ela simplesmente pedisse que ele parasse. A situação piorou quando os investigadores apontaram para uma foto dela em que usava uma roupa curta e comentaram: “Você está bonita nesta”.

Hannah sentiu que sua denúncia estava sendo tratada como um exagero. “Para mim, foi uma mudança de vida”, desabafou. Sem apoio da polícia, o casal recorreu a um advogado e contratou um analista forense digital para fortalecer as provas. Enquanto isso, tomaram medidas extremas para a própria segurança: câmeras foram instaladas na casa, rastreadores ativados nos celulares e Hannah passou a dormir com facas ao lado da cama. “Parei de abrir as janelas porque estava com medo. Talvez alguém entrasse por elas”, relembrou.

Hannah e o companheiro conseguiram encontrar o culpado (Foto: Reprodução/ABC)

Mesmo aterrorizada, ela e Kris precisavam agir com cautela para não alertar Andy e colocar outras mulheres em risco. “O mundo pareceu ficar menor para nós. Deixamos de falar com as pessoas. Não saíamos mais”, contou Hannah.

Com a investigação policial praticamente parada, eles tomaram uma decisão drástica: ameaçaram formalmente denunciar a negligência das autoridades. Só então o caso foi reaberto e, em duas semanas, Andy foi preso.

Continua depois da Publicidade

Julgamento e condenação histórica

Diante das evidências, Andy confessou ser o responsável pelas imagens e ameaças. No tribunal, tentou minimizar seus atos, alegando que criar as imagens deepfake foi “uma saída para uma parte obscura da sua psique”. Ele também disse que não acreditava que aquilo causaria danos reais.

Mas as vítimas pensavam diferente. Durante o julgamento, pelo menos 25 mulheres deram depoimentos emocionantes. Jessica Stuart, uma das afetadas, descreveu o impacto psicológico que sofreu: “Você não apenas traiu minha amizade, mas destruiu a sensação de segurança que eu costumava tomar como certa”.

A juíza Jane Culver classificou as ações de Andy como “perturbadoras” e enfatizou que ele demonstrou pouco remorso. Ele foi condenado a nove anos de prisão, com possibilidade de liberdade condicional apenas em dezembro de 2029. A decisão foi considerada um marco na legislação australiana, já que até então não existia uma lei específica contra deepfake no país.

Hannah foi traída por um de seus melhores amigos (Foto: Reprodução/ABC)

Continua depois da Publicidade

As cicatrizes do crime

Apesar da condenação, Hannah e outras vítimas ainda convivem com as consequências. Ela continua pagando um serviço para monitorar a internet em busca de novas postagens e teme que um dia seus futuros filhos, amigos ou empregadores se deparem com as imagens adulteradas. “Para mim e para as outras garotas, isso é para sempre… As imagens sempre estarão na internet”, disse.

Mesmo aliviada com a sentença, Hannah sabe que Andy pretende recorrer. O caso também levantou um debate sobre a falta de preparo das autoridades para lidar com crimes digitais. “Você pode criar as leis que quiser, mas se a polícia for incompetente… Estamos obviamente bravos com Andy. Mas também é repugnante que a única maneira de obter justiça com algo assim seja se dar ao luxo de intimidar a polícia”, criticou Kris, alegando que eles usaram mais de 20 mil dólares australianos (R$ 72 mil, na cotação atual).

Siga a Hugo Gloss no Google News e acompanhe nossos destaques