Leão XIV: Veja o que pensa o novo papa sobre LGBTs, aborto, racismo, imigrantes e ordenação de mulheres

Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito o novo líder da Igreja Católica após conclusão do conclave, nesta quinta-feira (8)

Habemus Papam! O conclave chegou ao fim no início da tarde desta quinta-feira (8), com a eleição de Robert Francis Prevost, de 69 anos, como o novo líder da Igreja Católica. O cardeal fez história ao se tornar o primeiro estadunidense a assumir o trono de São Pedro e escolheu o nome de Leão XIV. Sua escolha foi confirmada após receber a maioria dos votos entre os 133 cardeais participantes do processo.

Prevost será o 267º pontífice da Igreja Católica, sucedendo o Papa Francisco, falecido em 21 de abril. Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, o novo papa foi naturalizado peruano após atuar como missionário no país durante os anos 1980. Até sua eleição, ele ocupava dois cargos importantes no Vaticano: prefeito do Dicastério para os Bispos — responsável por nomear os bispos ao redor do mundo — e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.

Discreto, mas atuante nas redes sociais, Leão XIV mantém uma conta verificada no X (antigo Twitter) desde agosto de 2011, sob o nome @drprevost. Ali, compartilha reflexões religiosas, mensagens pastorais, atualizações sobre sua trajetória e até posicionamentos políticos — como um recente artigo criticando o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance.

Membro da Ordem de Santo Agostinho, Prevost era considerado um nome reformista, alinhado à linha progressista adotada por Francisco. Durante sua trajetória, criticou políticas do governo Trump e, mais recentemente, declarou-se contra posições conservadoras de JD Vance.

O novo papa também se posicionou contra o racismo após o assassinato de George Floyd, em 2020, e reafirmou sua oposição à pena de morte.

Papa Leão XIV foi eleito nesta quinta-feira (8). (Foto: Getty)

Confira alguns dos principais posicionamentos de Leão XIV:

Ordenação de mulheres

Durante o Sínodo de 2023, o então cardeal Robert Prevost se posicionou contra a ordenação de mulheres. Ele afirmou que “clericalizar as mulheres” não resolveria os desafios de inclusão enfrentados pela Igreja.

“Algo que também precisa ser dito é que ordenar mulheres — e algumas mulheres disseram isso de forma bastante interessante — ‘clericalizar mulheres’ não resolve necessariamente um problema, pode criar um novo problema”, disse.

Aborto

No que diz respeito ao aborto, o novo papa adota uma postura tradicional e conservadora, manifestando-se contra o procedimento. Durante sua gestão do Dicastério (órgão da Cúria Romana), ele pediu pela nomeação de bispos comprometidos com a defesa incondicional da vida, desde a concepção até a morte natural.

Pena de morte

Crítico da pena de morte nos Estados Unidos, Prevost usou suas redes sociais para compartilhar um vídeo em que condena essa prática, mesmo em casos muito graves. Ele também expressou reservas em relação à castração química.

Em entrevista ao jornal La República, do Peru, em abril de 2022, foi enfático: “Eu, pessoalmente e vou proclamar na santa missa, é que temos que estar sempre a favor da vida, em todo momento. Isso significa que, não pessoalmente, mas como igreja, que a pena de morte não é admissível”.

Política

Em fevereiro de 2025, Prevost compartilhou no X (antigo Twitter) um artigo opinativo da National Catholic Reporter, escrito por Kat Armas, criticando o então vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance. No texto, Armas rebate a ideia de que é preciso “classificar o amor pelas pessoas”, defendida por Vance em uma entrevista à Fox News.

“Existe um conceito cristão de que você ama sua família, depois ama seu próximo, depois ama sua comunidade, depois ama seus concidadãos e, depois disso, prioriza o resto do mundo”, disse Vance à Fox News.

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Injustiça racial

Após o assassinato de George Floyd em 2020, Prevost se manifestou publicamente contra o racismo. Em suas redes sociais, cobrou posicionamentos mais firmes da Igreja diante da injustiça racial.

“Precisamos ouvir mais dos líderes da Igreja, para rejeitar o racismo e buscar justiça”, escreveu.

Meio ambiente

Sensível à crise climática global, Prevost defendeu uma postura mais ativa em relação à preservação ambiental. Em declaração à imprensa do Vaticano no ano passado, enfatizou que a responsabilidade da humanidade sobre a natureza deve ser exercida com equilíbrio:

“O domínio sobre a natureza — a tarefa que Deus deu à humanidade — não deve se tornar ‘tirânico’. Deve ser uma relação de reciprocidade com o meio ambiente”, disse ele.

Comunidade LGBTQIA+

Embora evite declarações diretas sobre temas ligados à comunidade LGBTQIA+, o papa Leão XIV — então cardeal Robert Prevost — já demonstrou uma postura mais conservadora em relação ao assunto em contraste a seu antecessor. Em outubro de 2024, a imprensa do Vaticano afirmou que ele não se posicionou claramente a favor ou contra a inclusão de pessoas LGBTQIA+ na Igreja Católica. Entretanto, Prevost teria reforçado que as conferências episcopais nacionais deveriam “ter autonomia para tratar do tema”, mas sempre “respeitando as diferenças culturais de cada região”.

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A abordagem é diferente da de Papa Francisco, que causou impacto global ao responder “Quem sou eu para julgar?” quando questionado sobre a homossexualidade no clero. Prevost, por sua vez, fez críticas explícitas em um discurso a bispos norte-americanos em 2012, quando condenou a mídia e a cultura popular por promoverem o que chamou de “simpatia por crenças e práticas em desacordo com o evangelho”. Na época, ele citou diretamente o “estilo de vida homossexual” e as “famílias alternativas compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos”.

Quando era bispo de Chiclayo, no Peru, Leão XIV também se manifestou contra políticas públicas de educação sexual inclusiva. À imprensa peruana, Prevost chegou a condenar discussão de gênero nas escolas, argumentando que “a promoção da ideologia de gênero é confusa, porque busca criar gêneros que não existem”.

Prevost é sucessor de Francisco. (Foto: Getty)

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Imigrantes

Entre suas últimas publicações como cardeal no X, Prevost compartilhou uma crítica à política imigratória de Donald Trump. A postagem denunciava a deportação equivocada de Kilmar García, residente americano, durante a gestão do presidente, e acusava Trump e o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, de instrumentalizarem o caso para ganhos políticos.

Igreja mais próxima das pessoas

Em entrevista ao portal oficial do Vaticano, Prevost defendeu um modelo de liderança pastoral centrado na humildade e no serviço.

“O bispo não deve ser um pequeno príncipe sentado em seu reino”, afirmou. “Ele é chamado autenticamente a ser humilde, a estar próximo das pessoas a quem serve, a caminhar com elas, a sofrer com elas”, observou.

Má condução de casos de abuso sexual

Apesar de ser um dos favoritos ao papado e conhecido por seus posicionamentos progressistas, Leão XIV não chega ao cargo máximo da Igreja Católica livre de polêmicas. Durante sua trajetória eclesiástica, o então cardeal Robert Francis Prevost esteve no centro de acusações de má condução de casos de abuso sexual envolvendo membros do clero.

Nos anos 1990, após retornar de sua missão no Peru, Prevost assumiu a liderança da ordem agostiniana em Chicago, sua cidade natal. Pouco tempo depois, já no início dos anos 2000, ele autorizou que o padre James Ray, também agostiniano e acusado de abuso sexual de crianças, vivesse em um priorado (mosteiro) localizado próximo a uma escola católica. A presença de Ray, que já havia sido formalmente proibido pela Igreja de manter contato com fiéis, gerou revolta na comunidade local. A escola — administrada pela Igreja — não foi informada da situação.

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Mesmo com a controvérsia, a carreira de Prevost continuou em ascensão. Em 2001, ele foi eleito líder nacional da Ordem de Santo Agostinho nos Estados Unidos, posto que ocupou até 2007. Posteriormente, ao retornar ao Peru, novas denúncias voltariam a assombrá-lo.

Na diocese de Chiclayo, onde foi bispo entre 2015 e 2023, Prevost foi acusado de ignorar denúncias feitas por três freiras, que relataram abusos sexuais cometidos por dois padres locais. À época, a diocese negou qualquer tentativa de acobertamento e afirmou que o então bispo incentivou as religiosas a procurarem a polícia. A investigação judicial acabou arquivada por prescrição, e o processo canônico não teve continuidade.

Além disso, segundo o canal peruano TV América, Prevost teria arquivado denúncias contra outros dois padres, também acusados de abusar de três meninas dentro de uma casa paroquial em Chiclayo.

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