Nesta segunda-feira (16), teve início uma audiência de duas semanas sobre as causas da implosão do submersível Titan, que se acidentou em junho de 2023, durante uma expedição aos destroços do Titanic. Segundo informações da CBS, além de uma animação da jornada do Titan, foram reveladas as últimas palavras das vítimas.
O submersível da OceanGate desapareceu no Oceano Atlântico no dia 18 de junho do ano passado. A empresa confirmou a implosão da embarcação experimental no dia 30 do mesmo mês, após semanas de buscas. A tragédia causou a morte das cinco pessoas a bordo: o bilionário Shahzada Dawood e seu filho de 19 anos, Suleman Dawood, o empresário britânico Hamish Harding, o ex-mergulhador da marinha francesa e renomado explorador Paul-Henry Nargeolet, além do CEO da OceanGate, Stockton Rush.
No primeiro dia da audiência, que deve se estender pelas próximas duas semanas, foi revelado que os tripulantes do Titan estavam se comunicando por mensagens de texto com a equipe a bordo do navio de apoio Polar Prince. Além de trocarem informações sobre a profundidade do submarino e seu peso durante a descida, o grupo também discutiu a visibilidade dos destroços no display de bordo.
Entretanto, a apresentação feita pela Guarda Costeira norte-americana revelou que o contato começou a ficar irregular à medida que o Titan se aproximava do destino e foi interrompido logo após a conversa sobre as condições de peso e profundidade. A mensagem final, enviada por uma das vítimas minutos antes da implosão, teria sido: “Tudo bem por aqui”.
Ainda de acordo com representantes da Guarda Costeira, a embarcação ficou “exposta aos elementos” ao longo de sete meses, entre 2022 e 2023. Antes da expedição do ano passado, o casco do Titan não passou por qualquer revisão de terceiros, como é o procedimento padrão. Isso, somado ao design não convencional do submersível, teria causado escrutínio e críticas por parte da comunidade de exploração submarina.
As diligências estão sendo conduzidas pelo Conselho de Investigação da Marinha. De acordo com a CBS, esse é “o mais alto nível de investigação de acidentes marítimos conduzido pela Guarda Costeira”, que convocou o ex-diretor de engenharia da OceanGate, Tony Nissen, para testemunhar.
No tribunal, Nissen afirmou que se sentiu pressionado a iniciar as operações do Titan durante seu tempo na empresa. Ele destacou que havia “100%” de pressão para colocar o submersível na água. O conselho também questionou se Nissen acreditava que essa pressão comprometeu as decisões e os testes de segurança. Após uma longa pausa, ele respondeu: “Não… Essa é uma pergunta difícil de responder, porque com tempo e orçamento infinitos, você poderia fazer testes infinitos”.
Nissen ressaltou que, anos antes da tragédia, em 2018, o casco do Titan foi atingido por um raio durante uma missão de teste, o que “poderia ter comprometido a integridade da embarcação”. Entretanto, após ser demitido em 2019 por não permitir uma expedição do submarino até o Titanic, ele afirmou ter dito ao dono da OceanGate, Stockton Rush, que o submersível “não estava funcionando como pensávamos”.
O ex-diretor de engenharia também apontou que o submersível passou por outros testes e ajustes antes de seus mergulhos subsequentes. No entanto, ele afirmou que não confiava na equipe de operações e declarou que, quando Rush lhe pediu para pilotar o submersível, ele respondeu: “Não vou entrar nisso.”
Durante seu depoimento, Nissen destacou que trabalhar com Rush era “difícil” e que muitas vezes o empresário estava muito preocupado com custos e prazos, entre outras questões. Ele também comentou que Rush “lutava pelo que queria, o que muitas vezes mudava de um dia para o outro”. Nissen acrescentou que tentava manter os confrontos com Rush em particular, para que outras pessoas na empresa não soubessem. “A maioria das pessoas acabava recuando de Stockton”, ressaltou ele.
Além de Tony Nissen, também foram interrogados o ex-diretor financeiro da empresa, Bonnie Carl, e o ex-empreiteiro Tym Catterson. Em nota, Melissa Leake, porta-voz da Guarda Costeira, afirmou que a organização “não comenta as razões para não convocar indivíduos específicos para uma audiência durante as investigações”. Ela acrescentou que é comum que um Conselho de Investigação da Marinha “realize múltiplas sessões de audiência ou conduza depoimentos adicionais de testemunhas em casos complexos”.
Entre os próximos a serem ouvidos no processo, estão o cofundador da OceanGate, Guillermo Sohnlein, o ex-diretor de operações, David Lochridge, e o ex-diretor científico, Steven Ross, além de diversos oficiais da Guarda Costeira, cientistas e funcionários do governo e da indústria.
A OceanGate, que interrompeu suas operações após a tragédia, não tem funcionários em tempo integral no momento, mas será representada por um advogado. A empresa afirmou que “tem cooperado totalmente com as investigações da Guarda Costeira e do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes desde o início das apurações”.
Ainda segundo a CBS, a investigação tinha um prazo inicial de um ano, mas o inquérito foi estendido. A Guarda Costeira afirmou, em julho, que a audiência se aprofundaria em “todos os aspectos da perda do Titan”, incluindo tanto considerações mecânicas quanto o cumprimento dos regulamentos e as qualificações dos tripulantes.
Jason Neubauer, do Escritório de Investigações da organização, liderou a audiência e declarou: “Não há palavras para amenizar a perda sofrida pelas famílias afetadas por este trágico incidente. Mas esperamos que esta audiência ajude a esclarecer a causa da tragédia e evite que algo assim aconteça novamente”.