Surto de doença desconhecida no Congo deixa mais de 50 mortos; saiba detalhes

OMS classificou o caso como “ameaça significativa à saúde pública”

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As autoridades de saúde da República Democrática do Congo e a Organização Mundial da Saúde (OMS) investigam o surto de uma doença desconhecida que já causou mais de 50 mortes na província de Equateur, no noroeste do país. Os primeiros casos foram registrados em 21 de janeiro, e até o momento, foram contabilizados 431 infectados. O rápido agravamento dos sintomas e a alta taxa de mortalidade preocupam os especialistas.

De acordo com a NBC News, o surto teve início na vila de Boloko, onde três crianças, todas com menos de cinco anos, adoeceram e morreram em após consumirem a carcaça de um morcego. Elas apresentaram febre alta, fadiga extrema e sintomas hemorrágicos, como sangramento nasal e vômito com sangue. A partir desse episódio, a doença começou a se espalhar para vilarejos vizinhos.

Em 9 de fevereiro, um segundo foco foi identificado na cidade de Bomate, na mesma província. Essa nova onda de casos se mostrou ainda mais agressiva, com 419 infecções e 45 mortes confirmadas em poucos dias. De acordo com a OMS, quase metade das vítimas faleceu em até 48 horas após os primeiros sintomas, que incluem febre, vômitos, diarreia e hemorragias internas. O diretor médico do Hospital Bikoro, Serge Ngalebato, classificou a velocidade da doença como alarmante.

As autoridades sanitárias do país enviaram amostras de 13 pacientes para análise no Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica, na capital Kinshasa. Os primeiros resultados descartaram infecções conhecidas como Ebola, Marburg, febre amarela e dengue, que costumam causar febres hemorrágicas. Algumas amostras testaram positivo para malária, mas ainda não há uma confirmação oficial de que a doença esteja ligada à epidemia.

A OMS reforçou que as equipes de saúde seguem investigando outras possíveis causas, incluindo intoxicação alimentar, febre tifoide, meningite e outras infecções virais. “Estamos investigando se é outra infecção ou se é algum agente tóxico. Temos que ver o que pode ser feito e em que ponto a OMS pode dar suporte”, disse o porta-voz da organização, Tarik Jasarevic.

A dificuldade de conter a disseminação da doença se deve, em parte, à localização remota das vilas afetadas e à infraestrutura precária da região. As autoridades de saúde locais enfrentam limitações na capacidade de vigilância epidemiológica, no acesso a hospitais e na realização de testes laboratoriais. “Os surtos, que viram os casos aumentarem rapidamente em poucos dias, representam uma ameaça significativa à saúde pública. A causa exata permanece desconhecida”, reforçou Jasarevic.

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Vilarejos onde ocorreram os surtos (Foto: OMS)

A OMS também destacou que surtos de doenças transmitidas de animais para humanos têm aumentado significativamente na África nas últimas décadas. Segundo um relatório da organização divulgado em 2022, o número de infecções desse tipo cresceu mais de 60% na última década.

Além da crise sanitária atual, a República Democrática do Congo tem um histórico recente de epidemias graves, incluindo surtos de Ebola, febre tifoide, malária e, mais recentemente, um surto de mpox (varíola dos macacos), que resultou em mais de 47 mil casos suspeitos e mais de mil mortes.

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Embora a ligação entre os dois grupos de casos – o de Boloko e o de Bomate – ainda não tenha sido oficialmente confirmada, as investigações continuam. As autoridades sanitárias reforçam a necessidade de medidas preventivas para evitar uma possível disseminação para áreas mais populosas.

A OMS e o governo congolês já mobilizaram equipes para intensificar as pesquisas sobre a origem da doença e identificar formas de contenção do surto. O risco de transmissão para outras regiões ainda não foi determinado, mas especialistas alertam que, sem uma resposta rápida, a situação pode se agravar.

Enquanto isso, a população local é orientada a evitar o consumo de animais selvagens, especialmente morcegos, que frequentemente são hospedeiros de vírus perigosos para humanos. Mais atualizações são esperadas nos próximos dias, à medida que os exames laboratoriais avançam.

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