Rosalía agitou os fãs brasileiros ao desembarcar pela primeira vez no Rio de Janeiro para uma audição de seu álbum, “LUX”, aos pés do Cristo Redentor. Durante a sua passagem pelo Brasil, ela concedeu uma entrevista exclusiva a Bruno Rocha, o nosso Hugo Gloss, e falou sobre ter gravado em 13 idiomas para o novo trabalho. A cantora também revelou ter chorado com a reação do público ao disco, e se abriu ao compartilhar os artistas brasileiros que mais ouve.
13 idiomas
Lançado no dia 7 de novembro, o quarto álbum de estúdio da espanhola traz muito mais do que apenas 18 músicas. O projeto, que significa “luz” em latim, nos apresenta Rosalía cantando em espanhol, catalão, inglês, português, latim, japonês, italiano, alemão, ucraniano, árabe, francês, mandarim e hebraico.
Ela explicou como surgiu a ideia. “Eu sempre me interessei em aprender outras línguas e eu tinha essa vontade. Além disso, achava que fazia muito sentido com o conceito, a inspiração de santas ao redor do mundo. As histórias dessas mulheres me inspiraram a também tentar cantar em outras línguas“, disse a cantora, salientando que o idioma mais difícil foi o árabe.
A estrela também citou Rosa Egipcíaca, conhecida por ser a autora do mais antigo livro escrito por uma mulher negra na história do Brasil. “Para mim, ficou faltando uma santa que eu queria colocar como inspiração em uma das músicas. E era Rosa Egipcíaca. Rosa Egipcíaca é uma santa popular. E essa mulher é uma escritora. Se não me engano, desculpa se eu estiver enganada, mas acho que foi a primeira escritora mulher negra do Brasil. Ela era ‘feiticeira’ (mística), se não me engano. E acho que era uma mulher que ajudava muito as pessoas na rua. E é incrível que ela escrevia sobre suas experiências religiosas. Adorei a história dela e queria fazer uma música inspirada nessa história, mas no fim não encontrei uma forma de fazer isso“, contou.
Fé
De acordo com Rosalía, o novo trabalho foi feito para Deus. Questionada por Gloss sobre quando teria começado sua busca espiritual, a artista se pôs a refletir. “Ai, que boa pergunta! Mas não sei. Não tenho certeza. Acho que essa inquietude sempre esteve aí, mas com o tempo foi se assentando. Tornou-se mais óbvio para mim, o querer e o estar nessa busca”, pontuou. A espanhola costuma rezar todos os dias. “Tento rezar todos os dias, mas em alguns, eu me esqueço. E então, no dia seguinte, eu tento rezar duas vezes mais“, relatou.
Historicamente, a Igreja Católica é muito cautelosa com trabalhos de artista pop, que de alguma forma dialoguem com símbolos cristãos. Mas, “LUX”, acabou elogiado. O ministro da Cultura do Vaticano, Cardeal José Tolentino de Mendonça, disse à EFE que a espanhola captou “uma profunda necessidade na cultura contemporânea de se aproximar da espiritualidade, de cultivar uma vida interior“. Já o bispo Xabier Gómez García, de Sant Feliu de Llobregat, paróquia da cidade natal da cantora, disse através de uma carta aberta à sua congregação que, apesar do conteúdo provocativo, ela “fala com liberdade absoluta e sem reservas sobre o que ela sente ser a natureza de Deus, além do seu desejo e sede por conhecer Deus“.
Rosalía se disse agradecida pelos elogios dos religiosos. “Muito obrigada a eles por apoiarem ‘LUX’ e por dar carinho ao projeto. Fico muito feliz que seja celebrado. Acho que há muitas maneiras de se aproximar do divino, daquilo que está acima de nós, e acho que não há uma forma. Não há uma única forma“, ponderou. “Para mim, a inspiração do projeto é o misticismo. No fim das contas, o misticismo acaba sendo a experiência pessoal. Espiritual. É sobre essa experiência pessoal de Deus, a experiência pessoal de cada um“, explicou ela.

Reações à ‘LUX’
Além da Igreja e da crítica especializada, o álbum também foi bem aceito pelo público, o que levou a artista às lágrimas. De acordo com a estrela, ela não esperava que o disco, um tanto quanto experimental, fosse fazer sucesso imediato. “Bem… tenho que ser 100% honesta. Eu pensava que ‘LUX’ não seria um álbum para as paradas musicais. Eu pensava ‘quem me dera que isso aconteça, seria incrível, tomara. Seria uma maravilha, uma benção’. Mas eu pensava que seria um álbum que, talvez, levaria um tempo para as pessoas se conectarem“, contou.
“Me equivoquei e me surpreendeu muito. Me deixou muito feliz porque eu não esperava nada disso. Eu senti que fiz o disco que eu realmente queria fazer. Não importa o quê, aconteça o que acontecer. E me joguei. Fiz um exercício de fé e me joguei. E as pessoas gostaram e isso me deixou muito feliz. E me lembro que na primeira semana em que o álbum saiu, eu estava tipo chorando, vendo as pessoas nas redes. Muitas pessoas choravam ouvindo o álbum. Então isso me fazia chorar, porque se eu vejo os fãs chorando, eu choro. Não esperava isso de forma alguma. Os números foram uma surpresa“, admitiu.
Na época do lançamento, o trabalho também chamou a atenção de Madonna, que fez questão de enaltecer Rosalía nas redes: “Não consigo parar de ouvir! Você é uma verdadeira visionária!“. No papo com Gloss, a cantora retribuiu o carinho. “Visionária é ela, que é a rainha das rainhas. Eu a celebro muito, porque além de ser alguém que sempre me inspirou muito, também é uma mulher, que desde o início da minha carreira, sempre me deu muito apoio“, agradeceu.
Artistas brasileiros
Para o trabalho, Rosalía aprendeu um pouco do português, de Portugal, com a cantora de fado Carminho, com quem colabora em “Memória”. Durante a entrevista, ela pediu a Gloss para ensinar-lhe expressões do nosso português, e revelou sua admiração por alguns artistas brasileiros. “Ouço artistas brasileiros há anos! Escuto muito Tom Jobim, há anos, Elis Regina, Djavan, escuto muito Caetano [Veloso]. Sempre sonhei em fazer algo com Caetano. Eu gosto muito dele e o respeito demais. Eu amo o Caetano“, disse a estrela, afirmando que também gostaria de gravar com Marina Sena. “Eu gosto da Marina, também. Marina Sena. Adoro a Marina Sena, ela tem o molho. Ela tem muito estilo dançando, cantando! Adoraria colaborar com ela“, revelou.
Antes de anunciar a sua “LUX TOUR”, que passará no dia 10 de agosto na Farmasi Arena, no Rio de Janeiro, a espanhola comentou sobre os preparativos para a turnê mundial e a mistura de diferentes ritmos no palco. “Vamos ver se isso vai acontecer. Seria lindo. Mas é um desafio. É um desafio e eu teria que estudar muito. Estudar todas as línguas, para falar corretamente. Porque eu as estudei para gravar, mas para fazer ao vivo seria outro desafio. Porque ali não há momento para que alguém possa me corrigir. É apenas aquele momento“, completou.
Por fim, ela deixou um recado especial para os brasileiros, e em português. “Estou muito feliz de ter voltado ao Brasil e de estar aqui. Eu amo vocês. Obrigada por me darem tanto amor“, se declarou.
Assista à entrevista completa:
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