Hugo Gloss

Fotógrafo brasileiro acusa banda Clean Bandit, do hit ‘Rockabye’, de calote e assédio moral, e expõe prints problemáticos: ‘Era quase um lacaio’

Fotógrafo Gabryel Sampaio Acusa Clean Bandit

Fotógrafo Gabryel Sampaio Acusa Clean Bandit

Você leitor com certeza já ouviu falar da banda Clean Bandit. Dono de sucessos chicletes como “Rather Be”, “Rockabye” e “Symphony”, o grupo composto por Grace Chatto, Jack Patterson e Luke Patterson já esteve no Brasil em fevereiro de 2019, para uma apresentação em São Paulo. Foi na cidade que o trio conheceu o brasileiro Gabryel Sampaio, fotógrafo responsável por cobrir um segundo show privado dos músicos, para influenciadores.

Os artistas se interessaram pelo trabalho de Sampaio e acabaram convidando o rapaz para acompanhá-los em uma turnê na Europa e Ásia. Foi negociado com o profissional, um salário fixo mensal de £ 2.500,00 – cerca de 18 mil reais, na cotação atual – para fazer os registros em foto e vídeo do grupo, além de cuidar das redes sociais da banda, produzindo conteúdos. Tarefas que fossem além das citadas em contrato seriam classificadas como “extras” e pagas à parte.

Em conversa com o hugogloss.com, Sampaio expôs situações vividas por ele durante os meses que prestou serviços à Clean Bandit. O fotógrafo não só alegou que o grupo lhe deve uma boa quantia de dinheiro, como também denunciou Grace Chatto por assédio moral. “Começamos a trabalhar juntos no início de maio de 2019 e finalizamos no início de novembro de 2019, totalizando 6 meses”, relatou o profissional, que reivindica um valor de £ 7.400,00 – destes, £ 6.500,00 de serviços e mais £ 900,00 por diárias de alimentação. Na cotação de hoje, o montante seria cerca de 53 mil reais.

Gabryel decidiu contar o que viveu com a banda famosa mundialmente (Foto: Arquivo Pessoal)

Aos poucos, Gabryel percebeu que a realidade não era bem o que ele imaginava. “Sempre fiz de tudo pra banda, muito mais do que meu escopo de trabalho, que era foto, vídeo e redes sociais. Cuidei da casa da Grace, fiz trabalho de produtor/assessor, busquei roupas em outro país para viajarmos para o ‘VMA’ (premiação da MTV), ia aos correios sempre, cozinhava, limpava, era quase um lacaio. Quando o assunto virou dinheiro, a coisa começou a melar”, declarou.

O brasileiro explicou que o valor a ele ofertado inicialmente parecia muito bom, mas ao mudar-se, logo constatou que o salário era incompatível com os altos custos das terras londrinas. Além disso, os serviços extras mencionados em contrato quase nunca eram demandados. “Quando finalmente fui solicitado, alegaram já me pagarem um valor fixo e não verem necessidade de acertos extras por filmagens para divulgação de um novo modelo de show DJ Set, capa de single com outros artistas e shooting pessoal para a Grace, sendo todos esses citados, enquadrados na modalidade de pagamento extra. Além disso, não me pagaram cerca de 900 libras de diárias de alimentação”, apontou o profissional.

“Quando o assunto virou dinheiro, a coisa começou a melar”. (Foto: Getty)

Assédio moral

Segundo Gabryel, as questões de assédio moral tiveram início após ele se recusar a fazer a tal sessão de fotos para Grace, sem cobrar nenhum valor adicional. “Logo após a negativa, Grace começou a me tratar mal, ser rude, questionar com o que eu gastava o meu dinheiro e a dizer que já me pagavam muito bem, pois na minha idade, eles moravam em uma cozinha de uma casa, portanto, eu deveria agradecê-los pela oportunidade”, declarou.

“Até marcar um encontro entre mim e os três membros da banda para me fazer pressão psicológica, fizeram. Três contra um, me colocando na parede para me dizer que já faziam muito por mim e que eu estava errado em pedir mais, mesmo eu mostrando o acordo prévio de inclusos e extras”, continuou ele.

O hugogloss.com teve acesso a prints de conversas privadas de Sampaio e Grace. Em um delas, a cantora se referiu a Gabryel como um “porco safado”, após descobrir que o rapaz fez compras. Em outras, o brasileiro disse que gostaria de discutir sobre o pagamento por um ensaio fotográfico. “Que pagamento? São apenas fotos gerais para serem postadas nas redes sociais durante o mês de outubro, quando estarei fora. Estamos fazendo fotos para as redes sociais como de costume, das quais eu já te pago por mês”, avisou a artista.

“Vamos gravar conteúdo para minhas redes sociais, coisa que você já é pago por mês pra fazer. Não há diferença nenhuma dos outros dias [de trabalho]. O conteúdo vai ser postado em outubro, que você já foi pago. Talvez você esteja confuso com a possibilidade de haver fotos extras para a gravadora, que seriam para divulgação ou capas, não para as redes sociais, mas infelizmente, no momento não temos nenhum lançamento, então não faremos capas ou divulgação. Se fizermos, obviamente vamos considerar te contratar e colocar em contato com a gravadora”, acrescentou ela.

Na sequência, a britânica marcou e, minutos mais tarde, desmarcou o compromisso, alegando estar “desconfortável” com a situação: “Me sinto um pouco desconfortável, então vou cancelar por hoje. Talvez possamos marcar pra outro outro dia”. Veja:

Acerto de contas?

Gabryel afirmou que após seu retorno ao Brasil, tentou contato várias vezes com o grupo para acertar os valores pendentes. Primeiro lhe foi proposto, como “um ato de boa fé”, o pagamento pelas £ 900 de gastos alimentícios. Ele, por meio de seu advogado, recusou e insistiu que fosse pago o valor total de £ 7.400. Grace então interveio, através de e-mails.

“Num ato de bondade, oferecemos as £ 900, que eram um presente (e de forma alguma um valor devido ao seu cliente). Se ele não aceitou, então acho que nada mais será pago a ele. De toda forma, podem tentar nos levar ao tribunal, mas não há fundamento nisso, então será uma grande perda de tempo e dinheiro para todas as partes”, escreveu a cantora, em resposta a Vitor Castro, defesa do fotógrafo. A banda só teria dado o braço a torcer após Sampaio ameaçar expor toda a situação nas redes.

“Grace disse que ninguém me pagaria nada e encerrou a conversa. Tentei contato muitas outras vezes, inclusive através de meu advogado. Entretanto, só toparam acertar as 6.500 libras depois de se verem ameaçados quando postei stories no Instagram, dizendo que faria um exposed da banda – o que é muito triste, pois pessoas poderosas do mundo fonográfico acham que podem fazer o que querem com qualquer um, o que tem mudado nos últimos tempos, justamente por conta da internet, que dá possibilidade de justiça aos meros mortais anônimos, quando resolvem expor agressores, assediadores e afins”, comentou ele.

Algum tempo se passou e a YMU Group – responsável por gerenciar a carreira da Clean Bandit – propôs efetuar o pagamento de £ 5.000, mediante assinatura de Sampaio em um “Non Disclosure Agreement”, ou, no bom português, acordo de confidencialidade. Este impediria o profissional de falar sobre o assunto com terceiros ou divulgar seus trabalhos feitos com a banda, por exemplo. “Eu me neguei. Depois de tudo o que eu sofri, não posso assinar um acordo desses, que silencia a minha voz, a troco de ser pago por serviços que prestei. Depois disso, sumiram e não responderam mais”, pontuou o fotógrafo.

O processo todo trouxe problemas para Gabryel, tanto financeiros, quanto emocionais e físicos. “Alto nível de estresse, queda de cabelo, feridas na pele, crises de ansiedade, tristeza e revolta. Sem falar do rombo na vida financeira, de voltar ao Brasil sem dinheiro na conta, sabendo que me devem, e tendo que reconstruir minha vida na força”, desabafou o rapaz.

Conversa em que o fotógrafo pede ajuda sobre como usar o plano de saúde internacional para avaliar a queda de cabelos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A Justiça será acionada?

Mesmo tendo provas, Gabryel explicou que é muito difícil levar o caso à Justiça, visto que a Corte britânica exige uma porcentagem alta do valor pedido de indenização para entrar com ações judiciais. “Caso eu peça 10 mil libras de indenização, tenho que arcar com aproximadamente 2 mil libras logo no início do processo, e não tenho esse dinheiro no momento. Além disso, meu advogado tem me ajudado todo esse tempo na boa vontade. Meu único meio nesse momento é realmente ‘colocar a boca no trombone’ pra ver se consigo ser ouvido e, assim, as pessoas acordem e percebam as pessoas ruins que os integrantes da banda são”, avisou.

Agora, o fotógrafo torce para que o caso finalmente se resolva. “Espero primeiramente que paguem por tudo o que fizeram comigo e com outras pessoas. Posso falar aqui que esse não é o primeiro episódio de negar pagamentos devidos que acontece. Tenho conversas com Neil Milan, ex-integrante da banda, que me diz sobre vários episódios que o levaram a pedir pra sair do grupo, como exploração de funcionários e bullying com o próprio – ao contrário do divulgado na mídia, de que ele estaria cansado da estrada”, revelou.

“Pessoas assim precisam levar um grande baque da vida pra aprenderem a tratar os outros com dignidade. E nós precisamos ver que podemos, sim, expor maldades feitas por anônimos ou famosos, que temos voz e merecemos justiça. Não podemos ser reféns de crueldade alheia por medo de retaliações de pessoas prestigiadas e poderosas. Espero receber o que me devem e uma indenização por tudo o que fizeram comigo”, acrescentou.

“Precisamos escolher melhor os nossos ídolos”, , declara Gabryel

Por fim, Sampaio explicou por que decidiu compartilhar a história. “Só assim podemos colocar um fim nesse tipo de comportamento abusivo. Ser tratado como alguém que está recebendo uma caridade e que deveria ser grato pela oportunidade de trabalhar é desumano. Não ser pago pelos trabalhos que foi solicitado, é desumano. Quantos artistas vêm até nós criadores de conteúdo com a conversa de que ‘será bom pra você’ ou ‘eu te divulgo’? Garanto que a maioria esmagadora já recebeu propostas desse tipo e a questão é: vou pagar as minhas contas com o seu arroba? A resposta é não! Quando as pessoas começarem a expor esses abusos, como os psicológicos que eu sofri, quero ver se sobra um de pé”, provocou.

“Acredito que compartilhar experiências ruins nos traz uma sensação de acolhimento, para não nos sentirmos sozinhos, e também dá coragem para outros abrirem a boca. Eu me mudei pra outro país pra cuidar das redes sociais e criar conteúdo pra uma banda famosa e fui tratado dessa forma. E se tem uma coisa que eu desconfio é: se explora uma pessoa, explora várias outras. Se abusa de uma, abusa de outras. Como o próprio Neil, ex-integrante da Clean Bandit confirmou, a exploração é rotineira e isso precisa acabar. Não podemos dar dinheiro nem voz para artistas que não têm a mínima sensibilidade de justiça e caráter. Precisamos escolher melhor os nossos ídolos”, concluiu.

O hugogloss.com procurou o Clean Bandit para um posicionamento, mas não obteve retorno. A Warner Music, que cuida dos lançamentos da banda, também foi contatada, e não conseguiu uma declaração sobre o caso.

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