Apresentadora da Globo denuncia assédio de superior, acaba demitida, e faz desabafo contundente: ‘Cheguei a preferir um assalto’ – Assista

A jornalista Carina Pereira, que comandou a edição mineira do Globo Esporte entre 2017 e 2019, foi demitida na última semana (5), após sete anos de trabalho na emissora. Nessa terça-feira (12), a apresentadora fez um desabafo em suas redes, declarando ter sido vítima de assédio moral na empresa, por parte de seus superiores.

“Sou muito grata pelos sete anos que vivi, mas eu não estava mais feliz. Já tem uns dois anos que aconteceram algumas coisas que foram somando. Enfrentei uma redação de esporte e não sabia que seria tão desafiador assim. Enfrentei muito preconceito por ser mulher e por não ser desse meio”, começou.

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Em seu relato, a jornalista afirmou que recebia tratamento diferenciado por ser mulher, virando alvo de “piadinhas” dos colegas e, mais tarde, do próprio chefe. “Ele dizia: ‘Ah, a Carina consegue essa exclusiva porque é mulher, a Carina tem o que você não tem, oferece o que você não oferece…’ Quando era colega, eu retrucava, mas quando era o chefe, não, porque era alguém que eu respeitava e admirava. Eu ficava calada e as coisas foram piorando”, lembrou.

Enfrentei uma redação de esporte e não sabia que seria tão desafiador assim. Enfrentei muito preconceito por ser mulher e por não ser desse meio”. (Foto: Divulgação/Globo)

Na sequência, Carina mencionou uma viagem feita a trabalho, em 2018, antes de tirar suas férias: “Teve uma viagem que vários colegas foram, cinco, na verdade, e esse chefe foi. Ia tirar férias, aí meu outro chefe me procurou e falou: ‘Você vai ficar só uma semana, mas aproveita, a experiência é incrível’. Aí, esse chefe falou assim: ‘Um absurdo isso, estou indo trabalhar, fulano também. Só você que não! Engraçado, né? Acho que você está com fama de bonita mesmo porque os chefes estão pagando hotel cinco estrelas, passagem aérea só para te ver, te conhecer. Poxa, ser mulher é bom demais'”.

Incomodada com o que ouviu, a profissional quis saber se era possível se ausentar da viagem, mas um dos superintendentes da emissora insistiu que ela participasse. “Quando chegou lá, teve uma reunião. O chefe de lá elogiou o meu trabalho, e esse outro chefe falou assim: ‘A Carina faz sucesso mesmo, ela é até pedida em casamento no Instagram’. Eu ficava calada, mas aquilo me doía”, ressaltou.

“Acabou a reunião, ele disse: ‘Se fosse eu, fulano, ciclano, essa reunião não teria durado cinco minutos. Mas mulher né? Ser mulher é bom demais, fácil demais. Com você, a reunião durou meia hora’. Fui para o banheiro e fiquei lá trancada por três horas, não consegui sair. Tinha vergonha, achava que estava em um lugar errado, que não era a pessoa certa”, entristeceu-se.

As denúncias

O episódio foi a gota d’água para Pereira. Junto de outros colegas de trabalho, ela decidiu denunciar o chefe ao RH da emissora e também à equipe de compliance. “O que ele fazia comigo, ele fazia com outros colegas. A gente resolveu denunciar. Primeiro, a gente foi no RH. Não adiantou muito. Depois a gente fez uma denúncia na ouvidoria da empresa. Nada aconteceu. Fui mudada de horário, de função. Para mim, as coisas pioraram. Eu era a única mulher dessa galera que denunciou e sinto que fui a única prejudicada”, lamentou.

A apresentadora contou que, além da troca de horário e função, sofreu mais represálias. Segundo o desabafo, Carina chegou a realizar matérias na rua sem a presença de um cinegrafista e, em outra ocasião, teve o conteúdo de uma de suas pautas editado por alguém responsável pela supervisão de textos – e não de vídeo, como seria o adequado. “Aquilo me entristecia. Eu pensava: ‘O que eu fiz de tão errado? Sou tão ruim? Se sou tão ruim, por que não me mandam embora?’ Aquilo ficava na minha cabeça. Por que para mim as coisas eram mais difíceis? 2019 foi um ano difícil”, comentou.

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“Em 2020, veio uma chefe nova [e disse]: ‘Ah não, vamos passar uma borracha em tudo, te ofereço uma página em branco. Para isso, preciso que você sente com o seu chefe, a gente converse e vou te orientar como se nada tivesse acontecido’. Eu fui e acho que talvez esse foi o maior erro da minha vida, fingir que nada tinha acontecido, porque aconteceu”, argumentou a jornalista.

De 2019 em diante, Carina ficou à frente do noticiário matinal “Bom Dia Minas”. (Foto: Divulgação/Globo)

Com a chegada da pandemia, Pereira passou a fazer “home office”. O tempo serviu também para que ela pudesse refletir: “Eu me lembrei de quem eu era e tudo que tinha passado na vida e vi que aquilo passou dos limites. Eu já tinha pedido férias em maio… era pra eu voltar em agosto, mas pedi férias de novo porque não queria voltar. Não queria voltar de jeito nenhum, só que eu tinha comprado um apartamento em março do ano passado e tinha muitas dívidas, então não podia pedir demissão. Mas eu não queria aquilo mais pra mim, daquele jeito não dava”. 

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A apresentadora se lembrou ainda de um dia muito triste, no qual passou a suspeitar de uma depressão. “Acordei de madrugada e pensei: ‘hoje não vou trabalhar, não quero’. A hora que eu cheguei dentro do carro eu pensei: ‘podia ter um bandido ali pra me assaltar, porque prefiro ir pra delegacia do que ir trabalhar’. Esse dia foi ruim, porque eu falei: ‘acho que estou doente, acho que estou com depressão'”, disse, com a voz embargada.

Ao final do vídeo, Carina explicou que assim que voltou das férias, teve uma conversa com a nova superintendente. Ao perceber que mudanças não aconteceriam, a profissional optou pelo desligamento da empresa. Hoje, ela se diz aliviada e esperançosa com o futuro. Assista ao relato na íntegra abaixo:

O que diz a Globo

Em comunicado enviado ao hugogloss.com, a emissora informou que não comenta casos ligados a Compliance, por questões de ética, e reforçou não tolerar assédios e comportamentos abusivos. Leia a íntegra a seguir:

“A Globo não tolera comportamentos abusivos em suas equipes e todo relato de assédio é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento. A empresa não comenta questões relacionadas a Compliance, pois, de acordo com o Código de Ética do Grupo Globo, assume o compromisso de investigar toda e qualquer denúncia de violação de regras, assim como o de manter sigilo dos processos, não fazer comentários sobre as apurações e tomar as medidas cabíveis, que podem ir de uma advertência até o desligamento do colaborador. Mesmo nas hipóteses de desligamento, as razões de Compliance não são tornadas públicas. A empresa é muito criteriosa para que os estilos de gestão estejam adequados aos comportamentos e posturas que a Globo quer incentivar e para que as medidas adotadas estejam de acordo com o que foi apurado.”