Caso Evandro: Em episódio inédito, Osvaldo Marcineiro vai às lágrimas ao falar sobre anos na cadeia: “Me sinto preso até hoje”

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Nessa quinta-feira (8), a série “O caso Evandro”, do Globoplay, ganhou um episódio extra, intitulado “Consequências”, que traz depoimentos inéditos de Osvaldo Marcineiro, um dos acusados como assassino do menino Evandro Ramos Caetano. O caso aconteceu em 1992, em Guaratuba, no litoral do Paraná.

Cinco dias depois do desaparecimento do garoto, um corpo foi encontrado em um matagal sem os órgãos e com mãos e dedos dos pés cortados. Uma verdadeira caça às bruxas se iniciou e sete pessoas foram acusadas injustamente, terminando presas e torturadas pela Polícia Militar. Osvaldo foi o primeiro deles, detido em julho daquele ano.

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Antes disso, o pai de santo havia sido investigado pelo grupo Tigre da Polícia Civil, mas não foram encontradas provas que o relacionasse com a morte de Evandro. Às lágrimas no documentário, Marcineiro disse que as tantas acusações destruíram não só a vida dele, mas a de seus familiares e amigos, como Vicente de Paula – outro nome apontado pelas autoridades como culpado.

“Vicente de Paula não era um amigo, era um irmão. Todo mundo falava que ele era meu ajudante, meu funcionário. Ele nunca foi funcionário meu. Ele foi meu amigo. Dói muito em mim, até hoje, saber que meu irmão foi embora da Terra e morreu dentro de um presídio, com culpa marcada por essa acusação imunda que fizeram contra nós”, desabafou.

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Osvaldo foi solto em 2006 e, até então, vivia recluso, por medo do julgamento público. (Foto: Reprodução/Globoplay)

Durante os anos que cumpriu pena, o pai de santo também acabou perdendo o pai. “Meu pai também faleceu antes de eu sair (da prisão), em liberdade domiciliar. Não me deixaram ver meu pai, não pude me despedir. Ele era meu herói. Mas sei que eles (pai e Vicente) hoje estão no céu em festa, vendo a verdade aparecer e a Justiça sendo feita”, emocionou-se.

Ao lembrar do período na cadeia, Osvaldo, tornou a chorar: “Eu me sinto preso até hoje. Fiquei um ano e oito meses numa solitária em ala de segurança máxima, num quadradinho de 1 metro e meio por 2 metros, sem poder cortar o cabelo, a barba, tomar banho. Nem lembrava o que era um sabonete. A gente tinha que fechar o buraco do boi do vaso sanitário pra pegar água pra lavar o rosto ou beber quando ficava com sede. Era degradante sim. Nós tínhamos só um direito: o direito de não ter direito a nada”.

O capítulo termina com depoimentos emocionantes de Kauan Augusto e Kauê Pablo, filhos de Marcineiro. O primeiro deles disse que precisou abandonar a escola devido aos ataques que recebia. “Todo mundo julgava a gente, ninguém sabia da historia, mas sabiam o nosso nome. Parei de estudar, por causa de injustiças, pessoas nos xingando de bruxos. Quando todo mundo julgava, meu pai erguia a cabeça e corria atrás de coisas melhores pros filhos. Hoje, entendo o sofrimento que todos os acusados passaram, mas não sei se aguentaria o que eles aguentaram”, lamentou.

Kauê, por sua vez, declamou um rap que ele o irmão mais velho escreveram, contando a história de Osvaldo. A letra traz passagens como: “Não sei por que esse mundo é tão cruel, tanta injustiça que nos fazem aqui passar. Eu sei que Deus está olhando lá do céu, quebrando todo mal com a verdade” e “7 injustiçados que então perderam tudo, passado arruinado mostrado para o mundo. Tortura sobre mágoa na busca do menino. Ano de 92, muita tristeza que foi vindo. As bruxas de Guaratuba são injustiçadas. Ninguém faria isso, é uma piada”.

Quem são os “7 Inocentes de Guaratuba”?

Osvaldo Marcineiro decidiu aderir à campanha “7 Inocentes de Guaratuba”, encabeçada por Beatriz Abagge, uma das sete pessoas que foram presas e torturadas pela morte do garoto Evandro, em 1992. Na época, suspeitava-se que o pai de santo teria usado o corpo do menino durante um ritual satânico, supostamente encomendado por Beatriz e sua mãe, Celina Abagge, que na ocasião era a mulher do prefeito de Guaratuba (PR), Aldo Abagge. Ambas, inclusive, ficaram conhecidas por muito tempo como “as bruxas” da cidade.

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Os “Sete Inocentes de Guaratuba”. (Foto: Reprodução/Globoplay)

Além do trio, de acordo com o relato policial, teriam participado do suposto trabalho espiritual Vicente de Paula Ferreira, Davi dos Santos Soares, Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli dos Santos. Com o documentário, a história foi esmiuçada e todas as incoerências apontam para um caso de erro da Polícia Militar do Paraná, que teria enquadrado essas sete pessoas como culpadas, antes de uma investigação precisa. Todos eles foram torturados e obrigados a confessarem o crime.