Em entrevista à Veja, divulgada nesta terça-feira (25), o jornalista Fabio Turci abriu o jogo sobre sua demissão da TV Globo. No papo, o comunicador revelou como reagiu à notícia, bem como detalhes da reunião, que contou com a presença do próprio Ali Kamel, diretor-geral de jornalismo da Globo.
A saída de Turci do canal carioca ocorreu no início de abril, em meio a uma onda de demissões em massa da empresa, que tem como intuito o corte de gastos. Apesar de saber que sua hora poderia chegar, Fabio confessou ter sido pego de surpresa pela demissão.
“A gente vem acompanhando que a emissora nos últimos anos vem se reestruturando, buscando formas de reduzir os custos, e isso implica demitir pessoal de várias áreas, não só no jornalismo. Os funcionários estão acompanhando esse movimento e sabendo que essas ondas de demissões estão acontecendo. A gente nunca sabe exatamente em que momento elas vão acontecer e qual a magnitude de cada onda. Ao mesmo tempo que eu esperava que a minha hora chegaria, eu não esperava que a minha hora seria agora”, admitiu Fabio.
“Eu confesso que achava que teria um pouco mais de tempo ainda. Apesar de ser um movimento já conhecido e que a gente de certa forma já se prepara para o momento em que o facão vai nos atingir, a gente nunca sabe exatamente quando seria. Então foi um misto de expectativa com surpresa. A surpresa pelo timing”, contou.
Fabio apontou desconhecer os critérios usados pela Globo, além da questão salarial para definir os desligamentos. “Eu não achava que esse seria o meu momento, achava que eu teria um pouco mais de sobrevida lá dentro ainda, mas isso foi uma expectativa minha. A gente pensa uma coisa, e a empresa está colocando no papel outras coisas. Então era uma expectativa minha, mas eu posso dizer que tinha uma expectativa talvez desinformada, por não ter na mesa os elementos que a empresa está usando para tomar suas decisões. Nós sabemos que a questão salarial é fundamental, agora, se tem algo além disso, a gente não sabe quais são os critérios”, esclareceu.
Turci, que vinha ganhando muita atenção por tratar de temas relevantes como a defesa dos direitos LGBTQIA+, além da luta contra o racismo, contou que estava cumprindo suas obrigações diárias no dia em que foi dispensado. “Cheguei para trabalhar no dia 5 de abril, uma quarta-feira. E imediatamente já fui chamado para uma reunião, uma reunião respeitosa, em que foi anunciada a minha demissão, basicamente foi isso. Foi uma reunião com o próprio Ali Kamel (diretor-geral de jornalismo da Globo), com o Ricardo Villela (diretor-executivo de jornalismo) e Ana Escalada (diretora de jornalismo de São Paulo)”, detalhou.
Homem, branco, hétero e cis, Fábio relembrou como voltou seu interesse para as causas da comunidade LGBTQIA+. O longo período em que trabalhou nos EUA como correspondente internacional na emissora foi o despertar para os desafios de minorias.
“Começou quando eu estava morando nos Estados Unidos, em um processo em que eu abri meus olhos para tanta informação, convivendo com pessoas tão diferentes de mim. Acredito que isso aconteceu porque eu estive no lugar de minoria pela primeira vez ali, como um imigrante. Quando eu voltei para o Brasil em janeiro de 2019, estava disposto a praticar mais o papel social que o jornalismo tem, queria usar o meu trabalho para abrir os olhos de outras pessoas e tentar melhorar o mundo. E é importante ressaltar que eu parto da vontade de conscientizar meus semelhantes, sem roubar o lugar dessas minorias que sofrem de fato preconceitos e discriminações”, revelou.
Por fim, sobre seu futuro no jornalismo, Turci disse que está explorando suas opções. “Já tive conversas e já fui procurado para mais conversas. Não há nada evoluído ainda. Acho que agora é um momento de redescoberta para mim. Eu entrei na Globo 23 anos atrás, na afiliada de Bauru, no interior de São Paulo. Depois fui para São José dos Campos, vim para São Paulo, depois virei correspondente em Nova York e voltei para São Paulo. O mundo da comunicação, hoje, é muito diferente do mundo de 23 anos atrás, né?”, avaliou.
“Quando eu entrei na TV no ano 2000 tinha um computador com internet para a redação inteira e a gente se revezava para usar. Os sites de notícias estavam começando a aparecer. Não era um mercado grande, amplo e com muitas oportunidades como hoje, que tem as redes sociais. Eu abri as minhas redes sociais há poucos anos, sempre usei pouco e agora acho que quero usá-las de forma mais profissional”, afirmou.
Os planos, é claro, envolvem o trabalho contínuo para dar destaque às lutas sociais. “Estou entendendo melhor as oportunidades, quero estudar a ideia de ter um podcast, mas de qualquer forma quero continuar esse trabalho de alguns anos sobre direitos humanos, falar da luta antirracismo, anti-homofobia, que eram pautas que eu vinha fazendo no jornalismo da Globo. Mas estou aberto, não sei se vou para outra empresa de comunicação ou alguma do terceiro setor. Vamos ver”, finalizou.