Jornalista Ellen Ferreira é demitida após fazer denúncias graves de assédio em afiliada da Globo: “Ele é um psicopata”; Entenda

Após 20 dias afastada da Rede Amazônica, afiliada da TV Globo em Roraima, por contrair o coronavírus, a jornalista Ellen Ferreira retornou ao trabalho nessa quinta-feira (23), mas foi recepcionada com más notícias. Sob alegação de reestruturações na empresa, a direção avisou que a profissional estava desligada.

Entretanto, Ellen acredita que o motivo por trás da demissão seria outro, e suspeita estar sendo vítima de perseguição, por ter denunciado um ex-chefe de jornalismo do canal, Edison Castro, por assédio. Em entrevista ao UOL, a apresentadora deu mais detalhes do caso.

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“Óbvio que o que aconteceu foi uma perseguição. Eu estava havia uns três meses, junto com outros funcionários, levando para o Sindicato dos Jornalistas do estado e para o Ministério Público do Trabalho situações graves de assédio sexual e moral que enfrentamos lá dentro. Situações vexatórias, de racismo, homofobia, gordofobia. Ele é um psicopata”, disparou. 

Ferreira, que apresentou o “Jornal Nacional” em 2019 – durante um rodízio de jornalistas feito em comemoração dos 50 anos do telejornal – disse que o comportamento de Edison não era novidade para muitos funcionários. “Teve uma apresentadora em Tocantins que tentou se matar pelo assédio que sofreu. Ele obrigava uma outra funcionária a tomar remédios tarja preta, porque ela era gorda. Ele não era profissional. Tinha gente que queria bater nele na rua! Resolvemos ir atrás dos nossos direitos”, explicou.

Fábio William e Ellen Ferreira na bancada do Jornal Nacional. (Foto: Divulgação/Globo)

A profissional ainda declarou não ter recebido nenhum tipo de suporte de outros chefes dentro da Rede Amazônica, não vendo outra saída a não ser procurar o próprio Ali Kamel, diretor geral de jornalismo da TV Globo, para relatar os casos. Segundo ela, nem assim conseguiu uma resolução e somente no dia 29 de junho, graças às denúncias feitas no Ministério Público do Trabalho e no Sindicato dos Jornalistas, Castro foi desligado do cargo.

Ela não imaginava, entretanto, que também diria adeus ao emprego. “Ainda estou muito magoada. Não sei quais os próximos passos que vou dar. A realidade é que hoje estou desempregada. Eu sou renda dos meus pais e dos meus irmãos. Como vai ser daqui para a frente? Não quero nunca mais olhar para ele (Edison). Quando falo dele, ainda tremo. Ele acabou com a minha carreira”, desabafou.

A jornalista ainda pondera sobre abrir algum processo na Justiça contra Edison. “Assédio é grave, as pessoas não podem se calar. Precisava lutar por mim. Minha autoestima e vontade de viver estavam acabando. A Globo achou que eu era um peso, mas eu faria tudo de novo. Como alguém tão doente é líder do jornalismo? Só queríamos que ele saísse para sentir paz. Seguir adiante com essas denúncias é um caso a se pensar”, afirmou.

Em nota, a TV Globo se manifestou e repudiou o caso: “As afiliadas da Globo comungam dos mesmos princípios editoriais, mas são empresas independentes. O diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, ao receber e-mail da jornalista Ellen Ferreira, entrou imediatamente em contato com o setor de afiliadas para que a queixa fosse transmitida à Rede Amazônica. A Globo reitera que o respeito é um valor fundamental do seu Código de Ética. A empresa repudia qualquer tipo de assédio ou preconceito, que não são tolerados no ambiente de trabalho em nenhuma hipótese. Os esclarecimentos sobre o que ocorreu depois devem ser dados pela afiliada”.

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Dossiê foi apresentado ao Sindicato dos Jornalistas

Em conversa com a coluna de Leo Dias, Ellen fez mais acusações contra o ex-diretor de jornalismo. “Ele debochava de um repórter que era gay. Chamou o cabelo de uma repórter negra de ‘moita feia’. Ele dizia que eu era repugnante, gorda, que me vestia mal. Me ameaçava de demissão constantemente. A fama dele era de ‘João de Deus da redação'”, comentou.

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Com a ajuda de outros funcionários afetados pelos atos de Edison, um dossiê foi montado, e enviado ao Sindicato dos Jornalistas de Roraima (Sinjoper). Ferreira ainda mencionou que mesmo após o desligamento, o ex-diretor ainda tinha influência na empresa, e por isso ela foi demitida.

“Meu sonho foi interrompido. Eu estava escalada para apresentar o ‘Jornal Nacional’ mais duas vezes esse ano, mas foi adiado por conta da pandemia. Agora, estou demitida”, lamentou. A apresentadora, por outro lado, não se arrepende de ter feito as denúncias. “Eu lutei por uma equipe. Fiz o que foi necessário para acabar com aquela palhaçada e faria de novo. Acabaram com meu sonho, mas eu tenho saúde e vou conseguir me recuperar“, concluiu.

Confira o relato de Ellen enviado à Globo na íntegra:

“Essa mensagem é um desabafo. Apenas um breve relato do que a praça de Roraima tem vivido. Eu ainda estou de luto em família. Estamos no limite com a situação de coronavírus e estamos trabalhando com muita garra diante de um fade grande, no meu caso, de 1h20 minutos.

Com tantas coisas acontecendo, o Edison, chefe de Roraima, ameaça, cria briga entre funcionários, deturpa as coisas e situações e estamos exaustos de tanta pressão psicológica. Ele repete que vai me demitir (também ameaça a outras pessoas) e, no meu plantão de sábado passado, repetiu todo tempo que ia me demitir e que minha situação ‘estava complicada’. Não sou de faltar, cumpro minhas obrigações, produzo, apresento, faço reportagens, e nunca me vi como agora com pavor e mandando mensagens de ajuda. E me sinto sozinha e oprimida.

Se ouvissem os funcionários, mas não nos ouvem, saberiam que estamos no limite. Reforço que estamos dando o nosso máximo na cobertura jornalística. Mas viver com medo e sensação de que vamos perder emprego é algo sufocante e ruim.

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Ele faz fofocas, intrigas, joga um contra o outro. Estou esgotada. Quando ele chegou a Roraima, pensávamos que seria uma nova era e estamos frustrados com tanta humilhação. Comigo fez uma fofoca e sou a bola da vez, onde me trata um dia bem, outro não, vira a cara e faz ameaças. Para os chefes maiores, é o cara, lúcido, visionário e persuasivo. Pra nós, meros funcionários, perseguidor, e eu estou à base de remédios.

De fato, ele entende de TV. Mas com as pessoas tem criado clima insustentável e não podemos falar, fazer nada, porque somos oprimidos. Ele afirma às pessoas: ‘A empresa tá do meu lado’, e a gente engole seco. Quando me deu aumento de 500 reais, fiquei feliz demais, mas repetidas vezes jogou na minha cara o aumento e pensei em ir no RH pra voltar meu salário antigo.

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Ele reverte tudo. Ele faz uma artimanha de humilhar, bater na pessoa e, no dia seguinte, dar flores, elogiar. Isso é desgastante. Doentio. É acusado de assédio sexual também, a moça levou pro RH de Manaus, mas acabou desistindo por medo dele. E eu só quero trabalhar em paz, sem pressão e humilhação, assim como os funcionários desta emissora que vivem com medo.

Na quinta-feira, durante uma entrevista pela internet, ele que cria situações pra me desestabilizar no ‘JRR1’, mandou eu repetir o sobrenome do entrevistado que eu tinha dito certo. Pois ele atrapalhou duas vezes a minha entrevista indo ao estúdio dizer que quem manda é ele.

Eu apresentei por 1h20 querendo chorar. Angustiada e pedindo força pra Deus. Quem vê, não mexe, porque ele disse que a empresa está do lado dele. Por fim, pedi ajuda de Manaus, daqui de Roraima, e só me sugeriram demissão. E segunda-feira eu terei a resposta. Jamais imaginei enfrentar tudo isso e me sentir só, mesmo sabendo que não sou errada e estou sendo assediada, mas não tenho voz. Estou em pânico. Não sei mais o que fazer. Obrigada”.