Jornalista Vera Magalhães é acusada de xenofobia após falar sobre “hospitais do meio do Nordeste”; Comentarista se manifesta — assista

A jornalista Vera Magalhães tornou-se o centro de uma controvérsia nesta sexta-feira (19), após sua participação no “Jornal da Cultura”, que foi ao ar ontem. A comentarista foi acusada de xenofobia por alguns espectadores e internautas, por comparar hospitais particulares e de elite de São Paulo, com hospitais “do nordeste”. Sua atitude foi interpretada como um “desdém”.

O assunto em debate no jornal era a situação caótica da pandemia da Covid-19 no Brasil, em que até mesmo a rede particular de saúde enfrenta lotações e falta de leitos. Vera demonstrou sua indignação ao falar sobre isso e comentar que até os hospitais “de elite” estão intubando pacientes fora da UTI, inclusive sem sedação, devido à falta de medicamentos. No entanto, a fala gerou polêmica porque teria tomado a situação do “meio do Nordeste” automaticamente como negativa.

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“Conversei com um médico do Sírio-Libanês, não de um hospital lá do meio do Nordeste, um hospital público, não. É um hospital de elite da capital do principal Estado do Brasil. Ele me falou: ‘Vera, nós estamos intubando pacientes no leito, no quarto’. Isso é barbárie, é colapso no principal hospital particular da cidade de São Paulo”, disse a comentarista, no trechinho que viralizou nas redes sociais. Assista abaixo:

A TV Cultura foi procurada pela equipe do Notícias da TV, no entanto, a emissora não se pronunciou sobre o comentário da jornalista e apresentadora do “Roda Viva”.

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Criticas à fala

Nas redes sociais, foram várias as queixas sobre a comparação feita por Vera. “A Vera Magalhães acaba de dizer no Jornal da Cultura que conversou com um ‘médico do Sírio-Libanês’, não um médico qualquer do meio do nordeste! P*ta que pariu! A Natalia Taschner também presente no jornal, deve ter ficado horrorizada com o preconceito”, escreveu um espectador no Twitter. “O comentário da Vera Magalhães de que conversou com um médico de verdade, lá do Sírio-Libanês e não do meio do Nordeste, é a cara do jornalismo sudestino”, apontou o jornalista Ricardo Pereira.

https://twitter.com/rodmmarinho/status/1372710222482055170?s=20

Outros fizeram questão de mostrar feitos da medicina no Nordeste e seus nove estados. “Corre aqui, Vera Magalhães, vem ver esse Hospital no Nordeste lá no meio do sertão! Inclusive o nome é Hospital do Sertão Central!”, disse um perfil. Já o deputado federal Nilto Tatto (PT) lembrou do alto nível da ciência produzida na região. “Vera Magalhães […] destila preconceito, elitismo, xenofobia, ignorância. Dona Vera, ‘lá no meio do nordeste’ pesquisadoras foram pioneiras em estabelecer ligação entre Zica e Microcefalia”, escreveu o político.

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André Fernandes (PSL), deputado estadual do Ceará, também rechaçou as falas e ameaçou tomar mais providências no caso. “Qual o problema do hospital ser ‘do meio do Nordeste’? Por que a diminuição de um hospital simplesmente por ele estar em uma região do país? Não tem outra justificativa: é xenofobia! Tomarei ainda hoje todas medidas cabíveis contra Vera Magalhães! RESPEITA O MEU NORDESTE!”, disse ele em seu Twitter. Confira as reações abaixo:

https://twitter.com/marianaceci_/status/1372900469241155588?s=20

Jornalistas mulheres se manifestam contra ataques

Diante da repercussão, muitas jornalistas demonstraram que, independente de errar ou não, as mulheres recebem ataques muito mais intensos do que homens, como refletiu a comentarista de política e economia da GloboNews, Julia Duailibi. “Impressionante como a violência do ataque é maior quando a mensageira é mulher. Vejam a agressividade com que apoiadores não só do governo foram pra cima da Vera Magalhães, Maju Coutinho, Mariliz Jorge. Patrícia Campos Mello também já foi alvo dos golpes mais abjetos, algo inédito com jornalistas homens”, disse ela.

Natuza Nery também reconheceu o quanto as colegas de profissão estão expostas. “É muito pior com mulher. E não é a crítica. Isso é do jogo. São os ataques covardes, ameaças de morte, de estupro. Por isso, antes de postar, pergunte-se se você está apenas exercendo seu direito de criticar ou se está a serviço do ódio”, alertou a jornalista.

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Vera Magalhães se manifesta

A própria Vera também voltou às redes sociais para tentar explicar o que aconteceu, compartilhando a íntegra de seu comentário. “O que digo nesta fala é que o caos não está mais restrito às regiões pobres do país e à rede pública. Ele chegou aos hospitais de elite de SP”, iniciou. “Logo cedo me avisaram que havia recortes do vídeo circulando apontando preconceito contra o Nordeste nesta fala. Constatação de dados socioeconômicos e da realidade é preconceito a um povo onde? Decidi que não iria polemizar sobre o nada. Mas a coisa escalou”, continuou.

https://twitter.com/veramagalhaes/status/1372962206380404742?s=20

Em seu desabafo, Magalhães apontou que suas observações teriam sido distorcidas em prol de minimizar sua opinião principal, contra a gestão da pandemia. “Quando jornalistas, formadores de opinião, progressistas em geral, distorcem vídeos e criam falsas polêmicas para desviar o foco do que é dito — uma crítica à inépcia e à gestão criminosa da pandemia por parte do governo federal — a quem servem? O que fazem com o espaço cívico?”, questionou.

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Vera não se eximiu das críticas e também não se desculpou. Entretanto, ela lamentou o “linchamento” voltado principalmente às mulheres. “Nem os jornalistas em geral nem eu, em particular, somos à prova de crítica, mas existe um tipo específico de linchamento a jornalistas, que atinge sobretudo mulheres, que iguala quem o pratica ao pior do ódio bolsonarista. Deixamos que esse modus operandi seja a tônica aqui”, concluiu.

https://twitter.com/veramagalhaes/status/1372962214223708167?s=20

Assista ao trecho do jornal na íntegra abaixo:

https://youtu.be/Q2ouRxNxfgA?t=2402