Nesta quinta-feira (18), após um imbróglio na Justiça, a Globo conseguiu exibir o “Linha Direta” em torno da morte de Henry Borel, caso que chocou o Brasil em 2021. Além de relembrar os horrores vividos pelo pequeno e explorar as acusações contra o ex-vereador Dr.Jairinho e a mãe da criança, Monique Medeiros, a produção também trouxe o depoimento chocante de uma ex-namorada do político.
Segundo o programa, a tese de que Jairinho seria o responsável pelas agressões que culminaram na morte de Henry começou logo após a prisão do político. Foi nessa época que uma de suas ex-namoradas, que não teve sua identidade revelada, enfrentou o medo e procurou a polícia para relatar sua própria experiência com o suspeito.
Em conversa com Pedro Bial, a mulher contou que, entre 2010 e 2014, sua filha foi vítima de agressões por parte de Jairo Souza Santos Júnior. “Ele era um príncipe no cavalo branco. Ele era o cara que puxava a cadeira para eu sentar, que abria a porta do carro, que não falava palavrão”, disse ela, sobre o início do relacionamento.
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A testemunha anônima contou que só se deu conta de que havia algo errado, quando Jairo “perdeu o controle” do relacionamento. “Quando ele percebeu que não tinha mais domínio, que eu não queria mais realmente e que não ia mais ficar com ele, [as agressões começaram]. “E aí ele ia na porta da casa da minha mãe, minha mãe dizia que eu não queria atender, ele gritava, e ele ficava me esperando do outro lado da rua, às vezes de madrugada, até eu chegar em casa”, contou ela.
“Já rasgou minha roupa na rua, já me enforcou na calçada da minha casa, ia onde eu trabalhava… Depois que ele percebeu que ele não tinha mais domínio, ele começou a me perseguir. Eu falo que são duas pessoas completamente diferentes. Eu consigo lembrar do rosto dele em algumas cenas assim comigo. Se eu fechar os olhos, eu consigo ver nitidamente, é outra pessoa”, declarou.
As agressões, no entanto, não se restringiram somente à ex-namorada. A filha dela também foi vítima de Jairo, mas a mulher só descobriu isso quando era tarde demais. “No começo, ela adorava, gostava de tudo. Mas depois de um tempo ela foi começando a não querer estar mais com a gente. Ela preferia ficar em casa com a minha mãe. Minha família toda mora perto”, explicou ela.
Segundo a mulher, Jairinho teria acusado a pequena de se incomodar com a relação entre ele e sua mãe. “Ele dizia que era ciúme. ‘Ah, isso é normal, é ciúme dela, porque ela nunca te dividiu com ninguém’. Ele chegou a me levar para conversar com uma pessoa, que ele disse ser uma psicóloga. E aí no almoço, ela falou que isso era normal, de me dividir com ele, enfim, que era um comportamento normal. E ele me disse que ela (a filha) tinha que conviver mais com ele, para ver que ele era bom para ela também. E eu achava que isso era normal”, detalhou.
A menina tinha cerca de sete anos quando finalmente contou para a mãe que havia sido agredida pelo ex-vereador. “Foi um ano e pouco depois de eu ter me separado. Porque quando eu me separei, ele passou um bom período fazendo da minha vida um inferno. E aí quando ele realmente sumiu, ela tomou coragem para falar. Ela estava assistindo a um programa com a minha mãe, sobre abuso infantil, de madrugada. E a minha mãe mora bem perto da minha casa. E a minha mãe me ligou. Ela falou: ‘Olha, [sua filha] tá falando umas coisas estranhas aqui, fala com ela'”, recordou a mulher.
“Peguei o telefone e falei: ‘O que foi, minha filha?’. Ela [disse]: ‘Mãe, ele faz isso comigo, ele faz isso comigo’. Ela disse: ‘Ele (Dr. Jairinho) me batia, ele me batia’. E aí ela relatou exatamente a mesma coisa que ela tinha relatado para a minha mãe. Que ele afogou ela dentro da piscina, que ele torcia o braço dela, que dava “moca” na cabeça, puxava o cabelo… botou ela no box e batia a cabeça dela na parede”, acrescentou a ex-namorada.
“Agora, quando ela foi depor, ela contou um episódio que ela nunca tinha contado, nem pra gente. Ela fazia aula de luta e ela disse que um dia ele botou ela dentro do carro, torceu o braço dela e falou para ela que ela só podia contar depois que ela saísse da aula, para falar que ela se machucou lá. E ela esperou até o fim da aula, para falar que estava com dor”, disse a mãe. “A gente levou ela no médico, ela chegou a engessar o braço e tudo mais, foi uma torção. E a gente não sabia que tinha sido isso”, lamentou.
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Ainda de acordo com a ex-parceira de Jairo, a descoberta da morte de Henry teve um grande impacto na menina. “Nós estávamos sentados no portão da minha casa, eu lembro nitidamente [quando descobrimos sobre o ocorrido]. E a gente recebeu no grupo de família. Ela (a filha) entrou em desespero e eu tive a mesma sensação que ela. Então, eu entendi no mesmo momento”, recordou.
“Quando eu entrei, ela falou: ‘A culpa é minha, a culpa é minha porque eu não falei nada. Se eu tivesse falado, ele estava vivo. A culpa é minha, a culpa é minha’. Ela repetia isso diversas vezes”, contou a mãe, muito emocionada. “A sensação que eu tive é que eu não servia para ser mãe. Porque eu não vi isso acontecer. Eu não consegui enxergar. Não consegui proteger minha filha. Hoje a gente tem uma ligação e uma força uma com a outra, porque eu sinto e vejo a dor dela, sabe? E acho que ninguém deve passar por isso”, chorou a mulher.
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Por fim, a ex-namorada de Jairo desabafou, dizendo que gostaria de ter feito algo para impedir a morte de Henry. “Infelizmente, aconteceu a tragédia que aconteceu. Se eu pudesse voltar a atrás e ter feito alguma coisa, eu teria feito. Mas a gente não tinha muito o que fazer. Por todas as vezes que eu apanhei dele, por todas as vezes que eu chegava na minha casa e ele estava escondido do outro lado da rua, atrás da árvore, para me bater… Eu passei por muita coisa que me ocasionou muito medo. Mas hoje, o que puder ser feito, o que tiver que ser feito, a gente vai fazer”, finalizou. Assista ao programa na íntegra.
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