Após reuniões com a direção da CNN Brasil, Gabriela Prioli acertou seu futuro no canal. A advogada criminalista e mestre em Direito Penal pela USP passará a fazer análises sobre política e atualidades nos telejornais do horário nobre da emissora. A decisão foi anunciada nesta sexta (3) pela CNN.
O novo formato é simples. Assim como já acontece na CNN norte-americana, a comentarista participará das bancadas do Expresso CNN, de Monalisa Perrone e Carol Nogueira, e do Jornal da CNN, de William Waack, oferecendo a sua perspectiva sobre a pauta em destaque naquele dia. Gabriela se disse satisfeita com a nova dinâmica de trabalho.
“Meu compromisso na comunicação sempre foi e sempre será o de promover uma discussão de qualidade. Fico feliz por, agora no horário nobre e em um formato pensado com muito carinho, poder ocupar um espaço que vai além do debate e prestigia a profundidade das discussões e o conhecimento científico“, pontuou ela no comunicado emitido pelo canal. A data da reestreia de Prioli na programação da CNN ainda não foi divulgada.
“É um projeto novo, baseado no que eu acredito, com a minha cara“, vibrou a comentarista em vídeo publicado hoje (3) no Instagram. “Já conversei com o Gottino e tá tudo bem [entre nós]. Vamos voltar nossos olhos para o futuro, que temos um projeto novo para estruturar. Tô muito feliz e ansiosa“, declarou. Assista:
Relembre o Caso
No último domingo (29), menos de um mês após sua estreia na CNN Brasil, Gabriela Prioli postou um longo desabafo sobre sua insatisfação na emissora, sugerindo que pensava até em se desligar da empresa. Na última semana, a comentarista teve atritos com o mediador Reinaldo Gottino, ao ser interrompida em alguns momentos, durante o quadro “O Grande Debate”.
A atração é inspirada no norte-americano “The Great Debate”, em que duas pessoas trazem pontos de vistas diferentes sobre um mesmo assunto político. Originalmente, Gabriela dividia a bancada com Caio Coppolla, mas o comentarista foi afastado no último dia 18, três dias após a estreia da emissora, por recomendações médicas. Tomé Abduch o substituiu.
Desde a estreia do canal, no dia 15 de março, a professora de Direito tem ganhado destaque nas redes sociais por seu posicionamento claro e boa oratória. Em dois momentos da última semana, entretanto, ela teve que se esforçar para expressar seu ponto de vista. Na terça-feira (24), em um debate sobre a decisão do presidente Jair Bolsonaro de suspender o trecho da medida provisória 927, que previa a suspensão de contratos trabalhistas por até quatro meses devido à crise provocada pelo coronavírus, Tomé a interrompeu diversas vezes.
O mesmo aconteceu na última sexta-feira (27), mas dessa vez com Reinaldo Gottino. Em um momento da discussão sobre a prisão domiciliar do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o mediador contestou a fala de Gabriela, mas não a deixou se explicar, interrompendo a comentarista de forma sistemática. Assista:
https://twitter.com/tododiaprioli/status/1243560486161076230?s=21
Após os casos, Gabriela usou as redes sociais para fazer um desabafo sobre a situação. “Queridos antigos e novos amigos, os últimos dois dias foram de muita reflexão”, iniciou ela. “Não é fácil ser firme no início de um projeto profissional, mas é impossível não me comportar segundo aquilo que eu defendo, apesar das possíveis consequências”, afirmou.
A mestra em Direito Penal, em seguida, explicou que seria hipócrita caso não se posicionasse, uma vez que sempre fala para as pessoas à sua volta serem firmes e “não cederem diante de comportamentos que considerem inadequados”. “Em mais de uma oportunidade tive que me posicionar cobrando respeito ao meu espaço de fala. É preciso ser mais contundente”, acrescentou.
“O meu compromisso é com um debate racional, prospectivo, informativo e respeitoso. Não consigo atingir o meu objetivo se for constrangida e não posso seguir participando do debate sem que a convicção sobre a gravidade do constrangimento não seja só minha, mas de todos os envolvidos, na frente e atrás das câmeras”, declarou a comentarista, sobre o trabalho na CNN.
Em seguida, ela mencionou diretamente a discussão ao vivo com Gottino. “Não posso legitimar que o achismo seja equiparado ao conhecimento científico nem contribuir para acirrar a polarização”, reforçou. “Seguirei, por enquanto, dividindo com vocês as minhas análises nas minhas redes e pensando em outras formas para podermos interagir e evoluir com qualidade”, apontou.
Por fim, Gabriela usou o espaço para falar sobre o reconhecimento que obteve nos primeiros 14 dias de trabalho. “Nessas últimas duas semanas o nosso grupo cresceu e isso me traz profunda satisfação. O meu maior prazer é essa troca que tenho com vocês. Fica aqui então o meu muito obrigada. Nos posicionar é a forma que nós temos de conscientizar o mundo daquilo que nós consideramos fundamental”, concluiu.
A resposta da CNN e de Gottino
Horas mais tarde, ainda no domingo (29), a CNN anunciou que Prioli não participaria mais de ‘O Grande Debate’. A decisão foi tomada a pedido da advogada. No mesmo comunicado, Gottino se desculpou por sua postura, que excedeu o que cabia a um mediador. “Me excedi ao interromper. O meu papel ali é conduzir o debate para que os dois lados tenham espaço para expor suas ideias. Minha postura excedeu a de mediador. Peço desculpas a Gabriela por isso. Esse pedido de desculpas, enviado a ela no início da manhã de domingo, se estende também à emissora e ao público”, afirmou o profissional.
O jornalista estendeu as desculpas através das redes sociais. “Venho, por meio desta nota, deixar aqui a minha tristeza e a minha consternação com tudo que aconteceu nas últimas horas. E um pedido de desculpas! Peço publicamente desculpas à Gabriela Prioli por ter sido incisivo no meu questionamento na última sexta. Perguntei se ela entendia que a lei era branda e deveria ser mudada. Me exaltei e a interrompi. Errei”, admitiu Reinaldo.
Ele reforçou que já havia enviado o pedido de desculpas diretamente a ela, antes da publicação. “Admiro a Gabriela, tínhamos uma ótima relação e fico muito triste, porque eu não imaginava esse desdobramento. Conversamos na sexta depois do programa, falamos até do que deveria mudar, para termos um programa melhor”, recordou.
“Estendo meu pedido de desculpas a todos que se sentiram ofendidos. Tenho mais de 20 anos de jornalismo, e quem me conhece sabe da minha índole, do meu caráter e dos meus posicionamentos sobre opinião, pluralidade e respeito ao lugar de voz das mulheres. Errei, reconheço meu erro, peço perdão e lamento muito”, finalizou o âncora.
Em nota, a CNN confirmou a versão de Gottino de que, imediatamente após o episódio na sexta-feira (27), todos os profissionais envolvidos no programa conversaram na redação e acrescentou que o assunto havia sido “considerado superado”. Desde segunda-feira (30), o espaço antes ocupado por Prioli em “O Grande Debate” é defendido pela advogada e professora universitária Gisele Soares, doutoranda em Direito Comparado da Universidade Paris-Sorbonne, na França.