Osmar Prado não poupou críticas à Globo ao refletir sobre sua trajetória. Em entrevista ao Estadão, publicada nesta sexta-feira (23), o ator abriu o jogo sobre as divergências com a direção, reconheceu que não é uma pessoa fácil de se trabalhar e disse que recusou dois convites para retornar à emissora. Ele também falou sobre sua nova peça e relembrou de quando foi diagnosticado com um câncer na garganta, em 2013.
Durante os seus 53 anos de contrato, o veterano deixou o canal três vezes. Ele encerrou o acordo em outubro de 2022, antes da estreia do remake de “Renascer”, novela de 1993 em que interpretou o icônico Tião Galinha. “Eu sou carcamano, nunca topei humilhação na minha carreira e se você comprar briga comigo deve ter a consciência de que vai bater e apanhar“, garantiu.
Na versão atual, o personagem é interpretado por Irandhir Santos. Prado, por sua vez, explicou o motivo de rejeitar um convite da emissora para participar da nova trama. “O Tião é aquele brasileiro que trabalha e mata a fome, mas não perde a ilusão de que vai ganhar na loteria um dia. A Globo me sondou para um papel no remake, só que rejeitei de cara por causa do teatro e não seria bom estar perto do Irandhir, poderia atrapalhá-lo na criação do seu Tião“, pontuou Prado.
O remake não foi o único trabalho na Globo recusado pelo artista. Ele também dispensou fazer parte da novela “Guerreiros do Sol”, do Globoplay, pois não chegou a um acordo financeiro. “Uma pessoa que nem conhecia me ligou para negociar salário por telefone e me ofereceu menos do que eu ganhava, imagina, nunca vi uma coisa assim na Globo“, revelou.
No entanto, Osmar logo se viu em direção aos palcos, após dez anos de hiato, ao ser convidado para “O Veneno do Teatro”, escrito pelo espanhol Rodolf Sirera e dirigido por Eduardo Figueiredo. “É uma denúncia sobre esse sistema político e social repleto de canalhices que conhecemos muito bem. Sirera criou a peça nos anos de 1970 como crítica à ditadura franquista, mas poderia muito bem tratar dos conflitos atuais da Palestina ou do bolsonarismo no Brasil“, comparou.
O ator também citou o contexto da peça para dar sua opinião sobre o governo de Jair Bolsonaro. “O ator é o mais desprezado o tempo inteiro, mas é inegavelmente a mais invejada das profissões porque eles, os políticos, se transformam em personagens o tempo todo para convencer os outros a agir em nome de seus interesses“, completou. “O Veneno do Teatro” estreia nesta sexta-feira (23), no Sesc Santana, em São Paulo.
Prado ainda relembrou da época em que foi diagnosticado com câncer na garganta, em 2013. Após enfrentar duas cirurgias, três sessões de quimioterapia e trinta outras de radioterapia, ele sentiu o medo de ficar sem atuar pelos próximos anos. “Pouco antes da operação, perguntei ao médico se havia risco de comprometer a minha fala, porque sem ela estaria acabado, e ele garantiu que nada seria afetado“, contou.
Para a nova peça, ele praticou uma série de exercícios e garantiu que não recorreria ao microfone em cena, como boa parte dos atores e atrizes na atualidade. “Acho um horror quando vejo atores de microfone, parece que a peça não é ao vivo, as falas vêm amplificadas por uma caixa de som“, expressou. Antes de chegar a São Paulo, “O Veneno do Teatro” passou por Belo Horizonte e Brasília. Mas Osmar quer muito mais nos palcos. “O meu sonho é correr o Brasil inteiro até o final do ano“, finalizou.