A boa filha a casa torna! Quinze anos depois, Regina Volpato está de volta ao SBT. Após apresentar a primeira versão do “Casos de Família“, de 2004 a 2008, a jornalista retorna para comandar o “Chega Mais”, nova revista eletrônica da emissora. Para o hugogloss.com, ela se revelou surpresa com o convite, em um momento crucial da carreira. Regina também falou sobre o quadro “Eu Acho”, sucesso em seu Instagram, e se divertiu ao relembrar o “meme do fogão”.
Convite do SBT e emoção em retorno
Em junho de 2023, Regina Volpato estava levando a vida de forma tranquila. Ela apresentava o “Mulheres”, carro-chefe da TV Gazeta de São Paulo, e viralizava com o quadro “Eu Acho”, em que dá conselhos para os seguidores. Por questões comerciais, porém, a apresentadora decidiu sair do canal paulista e passou meses sem um contrato com outra emissora.
Em novembro, entretanto, numa dessas coincidências da vida, chegou a proposta do SBT, que planejava uma mudança em sua programação matinal.
“A vida estava muito boa, estava tudo organizado, muito certinho, por que que vai inventar um ponto de desequilíbrio? Porque eu sou assim, se está igual, morno, repetitivo, pra mim já perde a graça. E qualquer chamado do SBT sempre vai bater diferente, sempre vai ser especial. Não estamos falando de qualquer emissora, tem muito do traço da minha gratidão, mas também estamos falando de uma emissora em rede nacional”, ponderou ela.
Regina se surpreendeu e se emocionou com o convite do canal de Silvio Santos e com a forma como as coisas confluíram. “Eu pedi demissão quando apresentava um programa na Gazeta, e estava esperando pra ver o que ia acontecer, o que eu ia fazer. Parece que sem eu perceber, me preparei para que esse convite viesse, para que esse movimento fosse acontecer. Foi um presente que eu só precisei abrir. No começo, fiquei até emocionada, de ver como as coisas foram acontecendo, como tudo foi dando certo”, recordou.
Chega Mais
Desta vez, Regina vem com o “Chega Mais”, ao lado da ex-global Michelle Barros e de Paulo Mathias, que comandava o ‘Morning Show’, da Jovem Pan. “É um programa de variedades, nas manhãs, ao vivo. O SBT não tem tradição em fazer esse programa, então a gente tá tendo que começar tudo do zero. Desde a rotina da produção, até a rotina de palco, de colocar o programa no ar. É um programa longo, de quatro horas de duração, de segunda a sexta. É muito conteúdo, muita gente trabalhando, são muitas pontas que a gente precisa amarrar para que tudo dê certo”, explicou.
A conexão com os colegas de elenco, segundo ela, também foi imediata. “Já fizemos piloto, já tivemos muitas reuniões juntos, já estamos trabalhando, nossa rotina de trabalho já existe. Em 4 horas de programa, dá pra ter tudo. Eu gostei da escolha da Michelle e do Paulo no primeiro momento, não tinha como ser diferente. É claro que tem as características pessoais, mas somos profissionais. É enorme, 20 horas de conteúdo por semana, a equipe é grande. O que nos une é um único objetivo: fazer um bom produto”, garantiu.
A apresentadora também deu spoilers do novo programa. De acordo com Volpato, ela levará uma versão do “Eu Acho”, quadro do seu Instagram, para a TV, e também vai cozinhar em algumas ocasiões, algo que nunca fez no ar. “Vou me arriscar na cozinha, também vai ter a reprodução do ‘Eu Acho’ ao vivo, vai ter notícias. Vai entrar material produzido pelo Brasil todo. O objetivo não é fazer um programa com a cara de São Paulo, é um programa com a cara do Brasil, com o colorido do Brasil. Festas, problemas, alegrias, jeitos, o factual do Brasil todo”, adiantou.
Casos de Família e Christina Rocha
Regina também revelou que “trocou figurinhas” com Christina Rocha nos bastidores do SBT. Quando Volpato deixou o comando do “Casos de Família”, foi Christina que assumiu a atração. Agora, coincidentemente, ambas estreiam novos programas na casa. Rocha será uma das apresentadoras do “Tá na Hora”, popularesco que entra na grade no dia 18 na faixa vespertina.
“Semana passada, todo mundo fez piloto. Quando tava acabando o nosso, estava chegando a Christina. Fui lá, tirei uma foto, desejamos boa sorte, dei os parabéns porque ela fez um belíssimo trabalho no ‘Casos de Família’. Christina Rocha imprimiu a marca dela, fez daquele programa um sucesso. E eu tenho o maior respeito por quem tem estilo, por quem tem personalidade. É uma mulher que trabalha há muitos anos, que entrou na televisão em uma época em que tudo era muito diferente e ela se impôs fazendo várias coisas”, elogiou.
Ela também relembrou seu tempo no ‘Casos de Família’, e um pedido que fazia à plateia. “Naquele dia, entrou o primeiro convidado, não lembro em que situação, e eu não sei se falou alguma coisa que provocou riso na plateia, mas essa pessoa estava em um contexto de sofrimento. E na minha cabeça é inconcebível você rir de quem está sofrendo, eu achava isso na época e acho isso hoje. Quem está sofrendo não pode despertar riso. Se você está rindo de quem está sofrendo, quem está com problema é você, é você que está lendo a coisa errado. Ou rindo de nervoso, mas é inconcebível. Não lembro se foi na hora, me fogem os detalhes, mas passou a ser uma prática eu conversar com a plateia antes de começar o programa“, recordou, citando um aprendizado que teve com o dono do canal.
“Isso eu aprendi com o Silvio Santos. Antes de gravar, ele falava ‘boa tarde’ com os colegas, ficava uns 15 minutos conversando. Eu ia conversar com a plateia, agradecia, passou a ser parte da minha rotina com a plateia. Eu falava: ‘Pra vocês é só mais um dia da vida de vocês, pra nós é só mais um dia de trabalho, só mais um programa de televisão, mas para as pessoas que vêm aqui talvez seja o dia mais marcante da vida delas. Então a gente não pode rir de quem está sofrendo, a gente não pode esquecer que as pessoas vão sair daqui e levar essa vivência para sempre. Então assim, pensa nisso. Você quer fazer parte da vida desta pessoa desse jeito? Eu acho que ninguém sai de casa para vir aqui e ser maltratado. Tem que sair melhor do que entrou’. Passou a ser uma coisa recorrente com a plateia e eu achei que passou a fazer sentido. E eu senti que a plateia começou a olhar com mais empatia para quem estava lá“, detalhou.
Sucesso do ‘Eu Acho’
Recentemente, Regina virou um verdadeiro fenômeno na internet, ao dar conselhos para os seguidores em situações pra lá de inusitadas. Ela, no entanto, não esperava que fosse fazer tanto sucesso. “Não imaginei de jeito nenhum. Começou a viralizar, eu fui fazendo alterações, fui entendendo como funciona. Por isso que é gostoso a gente fazer alguma coisa que seja desafiadora, porque no começo eu achava que era completamente diferente. Aí viralizou, é um sucesso, jamais imaginei furar tantas bolhas”, confessou, acrescentando que agora é reconhecida por jovens nas ruas.
Com histórias de todos os tipos, Regina contou que já precisou conversar diretamente com os envolvidos ao checar os fatos e notar a gravidade da situação. “As que eu respondo tem gente que acha que são chocantes, mas mais chocantes são as que eu não respondo. Quando eu acho que é mais curioso, aí eu vou no perfil da pessoa e vejo. Eu tenho esse lado de checar”, apontou.
“Seria leviano da minha parte fazer brincadeira, chacota, ou achar que eu dou conta de responder em um minuto. Quando eu acho que é muito sério, algumas pouquíssimas vezes, eu mandei uma mensagem, um direct dizendo: ‘Fiquei muito impactada, não tenho como responder, mas acho que você precisa de ajuda. Não brinca, a situação é realmente séria'”, prosseguiu.
Meme do Fogão
Durante a entrevista, a apresentadora se divertiu ao falar sobre “meme do fogão”, que viralizou recentemente. No vídeo, gravado ainda no programa “Mulheres”, ela critica um fogão, e segundos depois, muda de opinião e passa a elogiar o eletrodoméstico presente no estúdio. “Esse fogão é ótimo, mas às vezes a chama faz falta? Você teria na sua casa esse fogão? Eu não!”, dispara Regina. “Mas assim, muito chique esse fogão, maravilhoso, eu adoro esse fogão. Se eu pudesse eu teria esse fogão sim, falando sério agora, eu adoraria”, diz ela, momentos mais tarde.
Assista:
Regina Volpato – meme do fogão pic.twitter.com/ASuXvwiKZB
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) March 8, 2024
Segundo Volpato, alguém da produção chamou sua atenção no ponto eletrônico, já que a marca era uma das patrocinadoras do quadro. “Já adianto que vai ter fogão no ‘Chega Mais’ e que vou me arriscar a cozinhar em um FOGÃO BOM. Porque assim, quem estava no ponto falou: ‘O fogão não, pelo amor de Deus’. Aí eu mudei: ‘Não, o fogão é ótimo’. Mas quando eu digo que sou funcionária, é de verdade. Funcionária da empresa não pode falar? A gente não fala. Aí quando ele falou, eu pensei: ‘Não tem problema, a gente corrige a rota agora'”, entregou.
“Na televisão é curioso e acho que as redes sociais nos ajudam muito, porque quando dá certo, tudo bem, não fizemos mais do que nossa obrigação. Quando dá errado vira meme. Por isso que eu amo memes, e é gostoso porque é de verdade”, concluiu.
Leia a entrevista na íntegra:
HG: Regina, como é voltar para a casa que te projetou nacionalmente após 14 anos? E o que te fez voltar?
RV: Estou curtindo demais. Foi um convite, e pela primeira vez na vida foi um convite para trabalhar, não foi um convite para fazer teste, não foi um convite para uma avaliação. Outra questão é que, justamente por ser a emissora que me projetou, que me ensinou tanta coisa e que me deu tanta oportunidade, tanta liberdade para trabalhar, qualquer chamado do SBT sempre vai bater diferente, sempre vai ser especial. Não estamos falando de qualquer emissora, tem muito do traço da minha gratidão, mas também estamos falando de uma emissora em rede nacional, que tem uma estrutura impecável, emissora popular – e eu amo comunicação popular desde a faculdade.
Então eu me identifico muito com o jeito, com o DNA do SBT, o DNA de ser e fazer as atrações. E eu também estava sem emprego. Eu pedi demissão quando apresentava um programa em uma emissora local, a Gazeta, e estava esperando pra ver o que ia acontecer, o que eu ia fazer. Neste momento, veio o convite do SBT. Parece que sem eu perceber, me preparei para que esse convite viesse, para que esse movimento fosse acontecer.
É para fazer um programa que me parece muito gostoso, parecido com o que eu já fiz. Um programa de variedades, nas manhãs, ao vivo. Então assim, não tinha motivo pra não aceitar. Foi um presente que eu só precisei abrir. No começo, fiquei até emocionada, de ver exatamente como as coisas foram acontecendo, como tudo foi dando certo. É como se eu tivesse fazendo o caminho que eu tinha que fazer, sem perceber que eu estava fazendo.
Então fiquei muito emocionada, muito feliz. Ainda não deu frio na barriga, porque nós estamos trabalhando muito mesmo. O SBT não tem tradição em fazer esse programa, então a gente tá tendo que começar tudo do zero. Desde a rotina da produção, até a rotina de palco, de colocar o programa no ar. É um programa longo, de quatro horas de duração, de segunda a sexta. É muito conteúdo, muita gente trabalhando, são muitas pontas que a gente precisa amarrar para que tudo dê certo. Então eu ainda estou muito envolvida no trabalho, eu acho que o frio na barriga vai vir na véspera, no dia, por enquanto eu ainda estou muito concentrada no trabalho do dia a dia.
HG: Como foi a recepção por lá?
RV: Às vezes, eu preciso até tomar cuidado, porque é geral, desde o Tião da portaria, até as pessoas dos cargos de alta chefia, é geral as pessoas falarem: ‘Que bom que você está de volta. Estamos muito felizes em tê-la aqui’. Até o meu maquiador comentou que é impressionante como todo mundo fala. É recíproco. Quando eu digo que sinto que estou voltando pra casa, é de verdade. Eu conheço as pessoas pelo nome, e o SBT é um lugar onde as pessoas vão e ficam muito tempo. Tem câmera que está lá há 43 anos, tem pessoas que passaram a vida profissional lá dentro, que trabalharam comigo no ‘Casos de Família’ e que continuaram me acompanhando – e agora nós vamos ter a oportunidade de trabalhar juntos de novo. Primeira vez, agora recentemente quando eu recebi o crachá, que eu fui trabalhar e me vi no palco com dois câmeras, ambos com 43 anos de SBT, todo mundo com crachá, eu até me emocionei. Porque eu já fui muito no SBT como convidada, gravar quadros. Mas quando me vi de novo como funcionária, foi muito emocionante.
HG: O “Chega Mais” é uma revista eletrônica, que já teve elenco definido. E o horário você já sabe?
RV: Vai ser na parte da manhã, só falta um ajuste na rede. Como é nacional, eles precisam ajustar a programação local com a programação da rede. Para ver se é mais adequado de 9h às 13h ou de 9h30 à 13h30.
HG: O que achou da escolha da Michelle Barros e do Paulo Mathias, seus colegas de apresentação? Vocês já gravaram pilotos, os três juntos? Como vai ser o programa? O que você já pode adiantar em termos de quadros e editorias?
RV: Nós já gravamos o ‘The Noite’. Já fizemos piloto, já tivemos muitas reuniões juntos, já estamos trabalhando, nossa rotina de trabalho já existe. Vamos gravar outro piloto neste final de semana. Em 4 horas de programa, dá pra ter tudo. Vou me arriscar a cozinhar. A vida estava muito boa, estava tudo organizado, muito certinho, por que que vai inventar um ponto de desequilíbrio? Porque eu sou assim, se está igual, morno, repetitivo, pra mim já perde a graça. Então vou me arriscar, não sou chef, só uma mulher que trabalha fora e dentro de casa. Cozinhei para a família a vida toda, faço minha comida, não tenho cozinheira. Eu cuido da minha alimentação e vou me arriscar fazer isso no ar, com coisas simples, com coisas que as mulheres que trabalham fora também fazem. Cozinhar ao vivo é muito diferente.
Também vai ter a reprodução do quadro “Eu Acho”, que eu faço no meu Instagram, vai ter no programa ao vivo. Vai ter notícias, o jornalismo é um traço muito forte tanto da Michelle quanto do Paulo. O SBT faz questão e eu achei o máximo, trazer praças do Brasil em entradas ao vivo ou com matérias. Vai entrar material produzido pelo Brasil todo para o nosso programa. O objetivo não é fazer um programa com a cara de São Paulo, é um programa com a cara do Brasil, com o colorido do Brasil todo. Festas, problemas, alegrias, jeitos, factual do Brasil todo. Justamente por isso esse cuidado de ajustar com as praças, para que elas se sintam parte do programa. Eu achei sensacional, sempre foi uma vontade minha, de fazer um programa nacional com a cara do Brasil, não um programa nacional com a cara de São Paulo.
Eu gostei da escolha da Michelle e do Paulo no primeiro momento, não tinha como ser diferente. É claro que tem as características pessoais, mas ambos somos profissionais. É enorme, 20 horas de conteúdo por semana, a equipe é grande. A equipe toda… É mérito do SBT, que conseguiu reunir uma equipe tão grande, e todo mundo interagindo. Porque o que nos une é um único objetivo: fazer um bom produto. E é um produto muito importante para o SBT, porque não tem tradição em fazer isso e nós vamos concorrer com ótimos produtos, que já estão no ar há muito tempo. É um programa longo, idealizado pela própria casa, então é um programa muito importante pro SBT. Mas também é um programa importante para as nossas carreiras, individualmente, cada um no seu tempo, no seu momento. Para o diretor, que está assumindo uma direção pela primeira vez. Então é importante para a casa, mas individualmente também é importante para todos nós.
HG: O SBT atravessa uma de seus maiores crises de audiência e a emissora é conhecida por mudanças bruscas na programação. Como que está o clima em relação a isso? Não pintou medo de entrar nesse barco?
RV: Eu não tive medo, isso não me incomoda. Desde quando eu fazia o ‘Casos de Família’, que o Silvio gostava de mudar o programa de horário… O programa não é meu, eu sou funcionária. E não é só no SBT, é em qualquer lugar. Eu sou funcionária e trabalho em um produto que precisa dar resultado. Se não está dando resultado, os ajustes serão feitos e não competem a mim. Se perguntarem a minha opinião, eu dou, se não perguntarem, nem minha opinião eu dou. E está tudo certo! E vou te falar, da outra vez que trabalhei no SBT, eu tinha liberdade total para fazer o que eu queria. Eu fazia aqueles encerramentos do ‘Casos de Família’ de improviso, falava o que vinha na minha cabeça, e em nenhum momento ninguém nunca falou nada. Eu tinha da outra vez e estou sentindo agora que tenho liberdade. Mas é um produto dentro de uma emissora, se a emissora entender que estrategicamente é melhor mudar aquilo ali, eu estou ali para fazer dar certo.
HG: O “Casos de Família” era um formato comprado lá de fora, mas eu ouvi dizer que você costumava fazer um pedido para a plateia no que diz respeito às reações com os convidados.
RV: O formato era aquele, eu chamava o primeiro convidado, o segundo convidado, ia para a plateia, tudo era previsto, era um formato que já veio pronto e eu seguia o roteiro. No final eu fazia o encerramento, o formato era esse. Era uma época em que não existia rede social, todo mundo se encontrava na tela da televisão, que ficava no centro da sala. Então a gente via nesse programa, e a plateia via antes porque o programa era gravado, pessoas que eles viam na vida real, mas não viam na televisão. Era uma época que pessoas gordas, pessoas pretas, pessoas pobres, pessoas que falavam errado, não tinham vez nesta única tela que existia na nossa vida. Era muito diferente de hoje, um outro momento. Todo mundo que aparecia na televisão, antes, passava por um processo de pasteurização. Tipo um banho de loja… Até os apresentadores. Quando eu fui apresentar o ‘Band News’, a primeira coisa que fizeram foi cortar o meu cabelo e fazer escova. Então tinha um tipo, um padrão que a gente estava acostumado a ver.
No ‘Casos de Família’, a gente começou a receber outras pessoas – e as pessoas começaram a receber nas casas delas – , outras cores, outros formatos de corpos, outros sotaques, outros tudo. Era a vida real ali naquela tela. Então já tem esse recorte. E a plateia se reconhecia, porque a plateia também era vida real. Naquele dia, entrou o primeiro convidado, não lembro em que situação, e eu não sei se falou alguma coisa que provocou riso na plateia, mas essa pessoa estava em um contexto de sofrimento. E na minha cabeça é inconcebível você rir de quem está sofrendo, eu achava isso na época e acho isso hoje. Quem está sofrendo não pode despertar riso. Se você está rindo de quem está sofrendo, quem está com problema é você, é você que está lendo a coisa errado. Ou rindo de nervoso, mas é inconcebível. Não lembro se foi na hora, me fogem os detalhes, mas passou a ser uma prática eu conversar com a plateia antes de começar o programa. Isso eu aprendi com o Silvio Santos. Antes de gravar ele falava ‘boa tarde’ com os colegas, ficava uns 15 minutos conversando.
Eu ia conversar com a plateia, agradecia, passou a ser parte da minha rotina com a plateia. Eu falava: ‘Pra vocês é só mais um dia da vida de vocês, pra nós é só mais um dia de trabalho, só mais um programa de televisão, mas para as pessoas que vêm aqui talvez seja o dia mais marcante da vida delas. Então a gente não pode rir de quem está sofrendo, a gente não pode esquecer que as pessoas vão sair daqui e levar essa vivência para sempre. Então assim, pensa nisso. Você quer fazer parte da vida desta pessoa desse jeito? Eu acho que ninguém sai de casa para vir aqui e ser maltratado. Tem que sair melhor do que entrou’. Passou a ser uma coisa recorrente com a plateia e eu achei que passou a fazer sentido. E eu senti que a plateia começou a olhar com mais empatia para quem estava lá. A não ser nos programas engraçados, que também existiam, que as pessoas iam e faziam graça… Aí era pra rir mesmo.
HG: Curiosamente, você e Christina Rocha, que já apresentaram o mesmo programa, o “Casos de Família”, estão estreando novas atrações na mesma época. Você com o “Chega Mais”, e ela com o “Tá na Hora”. Vocês chegaram a se falar nos últimos dias? Trocaram alguma figurinha diante dos desafios tão parecidos?
RV: Semana passada todo mundo fez piloto, nós, a Christina e o Marcão, o César Filho… Quando tava acabando o nosso, do ‘Chega Mais’, estava chegando a Christina. Aí fui lá, tirei uma foto, desejamos boa sorte, dei os parabéns porque ela fez um belíssimo trabalho no ‘Casos de Família’. Christina Rocha imprimiu a marca dela naquele programa, fez daquele programa um sucesso com a marca dela. E eu tenho o maior respeito por quem tem estilo, por quem tem personalidade. É uma mulher que trabalha há muitos anos, que entrou na televisão em uma época em que tudo era muito diferente e ela se impôs fazendo várias coisas. Fez o ‘Aqui e Agora’, que foi um sucesso na primeira versão. Então teve esse momento, tiramos a foto, desejamos boa sorte mutuamente e provavelmente eles vão no ‘Chega Mais’ quando o programa dela estrear, para fazer o lançamento, aquele crossmedia que a gente sempre faz.
HG: Por falar em “Casos de Família”, por que você deixou o programa na época?
RV: Eu saí porque a vida estava muito tranquila, estava muito em ordem, e eu precisava inventar alguma coisa para sacudir. Eu já fazia há muitos anos, naquele formato. Começou a ficar a mesma coisa todos os dias, porque os conflitos, por mais que a gente mude, são mais ou menos os mesmos, por mais que as pessoas envolvidas fossem diferentes. Começou a ficar repetitivo, eu sentia que já não estava dando o meu melhor, que já estava muito acomodada, fazendo mais do mesmo. Mesmo nos encerramentos, eu me via dizendo coisas que já tinha dito, que eu já não tinha mais nada de novo para acrescentar. E eu não achei justo comigo, com a minha carreira, com as pessoas que iam lá, com o público, com ninguém. Eu ser menos do que a situação exigia, ser menos do que eu gostaria de ser.
Eu queria fazer alguma coisa diferente. E a minha carreira é marcada, quando eu saio do trabalho e vou para outro, é sempre diferente, é sempre nada a ver com o que eu fiz anteriormente. Sempre tem alguma coisa que me desafia, que faz com que eu sinta insegurança, faz com que eu seja aprendiz. E assim, eu estou me sentindo aprendiz fazendo esse programa. Não só porque eu vou para a cozinha, mas porque a gente vai colocar a versão do ‘Eu Acho’, o quadro que eu faço no Instagram. Então é um desafio fazer o quadro que funciona no Instagram funcionar no programa. Fazer o mínimo, fazer mal, qual a graça? E o SBT é uma emissora que dá tanta liberdade…
Eu saí por isso, porque estava repetitivo, estava igual e eu já tinha ganhado bastante dinheiro. A primeira vez que ganhei dinheiro foi no SBT. Já tinha ganhado bastante e queria desfrutar desse dinheiro, a minha filha estava entrando na adolescência e eu queria ficar com ela. No aspecto pessoal, foi muito importante estar com ela naquele momento, almoçar todos os dias, acompanhar a transformação dela. Agora ela mora na Eslovênia, falo com ela de vez em quando, porque ela trabalha muito. Então como mãe e como mulher, que bom que eu pude me dar esse presente de desfrutar desse período da minha vida com a minha filha. Então foi tudo junto, quando eu vi que era a hora de partir para outra.
HG: Recentemente, você virou um verdadeiro fenômeno na Internet, ao dar conselhos amorosos para os seguidores em situações pra lá de inusitadas. Você imaginava que fosse tornar esse sucesso?
RV: Não imaginei de jeito nenhum. Começou a viralizar, eu fui fazendo alterações, fui entendendo como funciona. Por isso que é gostoso a gente fazer alguma coisa que seja desafiadora, porque no começo eu achava que era completamente diferente. Aí começou a viralizar, é um sucesso, jamais imaginei furar tantas bolhas. Fui agora para o Carnaval do Rio de Janeiro, aí entrei no ônibus que levava a gente para o camarote, logo nas primeiras fileiras tinham dois garotos – que não tinham 20 anos. Na hora que eu entrei, um cutucou o outro e falou: ‘é a mulher da caixinha’. Virei a mulher da caixinha, foi muito legal, me senti atual, viva no jogo, me deu uma arejada mesmo. Consegui chegar naquele garoto, que eu não sei de onde era, mas era menino e me reconheceu, então ele acompanha. Achei super legal.
HG: Tem histórias lá muito cabeludas. Algumas parecem até inventadas. Como você percebe que uma história é mentira ou verdade, e como você escolhe qual vai pro ar?
RV: Sim. As que eu respondo tem gente que acha que são chocantes, mas mais chocantes são as que eu não respondo. Eu leio tudo, tem muita coisa. Quando eu acho que é mais curioso, aí eu vou no perfil da pessoa e vejo. Na maioria das vezes, o perfil é aberto, aí eu vejo e aí que meu queixo cai. Eu tenho esse lado de checar. De verdade, eu acho até que não precisaria, porque eu só falo o que eu acho e o que vale é a situação.
Mas eu me preocupo em trazer coisas que eu sinto que são verdade. Vou no perfil, vejo o que é… Seria leviano da minha parte ou fazer brincadeira, chacota, ou achar que eu dou conta de responder em um minuto. Quando eu acho que é muito sério, algumas pouquíssimas vezes, eu mandei uma mensagem, um direct dizendo: ‘Fiquei muito impactada, não tenho como responder, mas acho que você precisa de ajuda. Não brinca, a situação é realmente séria”.
Foram poucas vezes, porque eu acho que se eu fizer disso uma prática, vou abrir um precedente que não me compete. Não sou terapeuta, não sou psicóloga, não sou psiquiatra, não sou advogada, mas algumas vezes me senti na obrigação moral, comigo mesma. Não fingi que eu não li, eu não ia ficar bem comigo mesma se eu não fizesse isso. Então eu fiz pela pessoa, mas também fiz por mim.
HG: E tem algum desfecho de caso após um conselho seu que te surpreendeu?
RV: Já recebi porque às vezes eu peço. Me marcou o primeiro que eu recebi, que era um moço que não tinha coragem de pedir demissão. Ele mandou: ‘Quero pedir demissão porque vou mudar para outro país e não sei como falar com o meu chefe’. Aí eu falei: ‘Mas fale o quanto antes, pelo amor de Deus, se não vai deixar seu chefe na mão’. Depois ele até mandou uma foto no inbox, eu publiquei o comentário sem a foto porque eu me comprometo a manter o anonimato, ele falou: ‘Fiz o que você sugeriu, pedi demissão, já está tudo certo e já estou em Portugal’. E ainda mandou a foto dele lá… Eu acho que só funciona porque se estabeleceu essa relação de amizade. As pessoas perguntam como perguntariam para uma amiga, porque é muito franco, muito direto, muito simples e sem rodeios. As pessoas perguntam como perguntariam para uma pessoa que está do lado, isso eu acho que tem a ver com o fato de eu gostar de fazer comunicação popular. Não precisa ter rodeio, não precisa ter modos de escolher as palavras, é um ‘vamos conversar, está tudo bem, eu vou entender o que você vai falar’. Vamos simplificar a vida, pra mim isso é comunicação popular.
Vamos ver se vai funcionar na televisão, é um tremendo desafio, porque na tela do celular, nas redes sociais, acho que a intimidade já se impõe só por ser eu e minha tela, você e sua tela. Na televisão tem muitas interferências entre a minha cara e a imagem que vai para a tela. Isso todo mundo sabe. Então às vezes eu acho que essa distância acaba ficando muito grande e se perde essa intimidade da comunicação. Por isso que eu gosto de comunicação popular. Se a gente for olhar na década de 80, Gugu, Silvio Santos, o próprio Fausto Silva, eles já faziam essa distância desaparecer. Você tinha certeza que eles estavam no sofá da sua sala, do seu lado. Isso é para poucos, por isso que a gente reverencia todos eles. O que a gente faz nas redes sociais, eles já faziam na televisão há 30 anos.
O quadro continua no Instagram também. Na televisão vai chamar ‘Dilemas para Regina’ e vamos ver se vai dar certo. A gente vai tentar. Porque se ficar frio, se ficar distante, se não tiver timing, se soar como falso, não vai dar certo. Na televisão é uma versão do ‘Eu Acho’ para televisão. Eu me divirto horrores fazendo o ‘Eu Acho’, vai continuar.
HG: Nas últimas semanas, não sei se você viu, mas viralizou muito um vídeo seu no ‘Mulheres’ em que você critica um fogão, e segundos depois, muda de opinião e passa a elogiar o eletrodoméstico presente no estúdio. Provavelmente, algo foi dito no seu ponto eletrônico… O que aconteceu ali nos bastidores?
RV: Claro que eu vi! Deu para perceber que alguém falou alguma coisa no meu ponto? (risos). E já adianto que vai ter fogão no ‘Chega Mais’ e que vou me arriscar a cozinhar em um FOGÃO BOM. Porque assim, quem estava no ponto falou: ‘O fogão não, pelo amor de Deus’. Aí eu mudei: ‘Não, o fogão é ótimo. Mas quando eu digo que sou funcionária, é de verdade. Funcionária da empresa, não pode falar a gente não fala. Eu nem lembro o que eu disse, mas foi mais ou menos isso. Aí quando ele falou eu pensei: ‘Não tem problema, a gente corrige a rota agora’. Na televisão é curioso e acho que as redes sociais nos ajudam muito, porque quando dá certo tudo bem, não fizemos mais do que nossa obrigação. Quando dá errado vira meme. Por isso que eu amo memes, e é gostoso porque é de verdade.