Cesar Cavalcante, repórter da Band, descobriu um câncer no estômago após fazer exames por causa do refluxo, que o incomodava há anos, porém ficou mais intenso ao voltar de uma viagem. O diagnóstico de adenocarcinoma aconteceu em fase inicial, o que melhorou o prognóstico. Nesta sexta-feira (25), o jornalista detalhou para o VivaBem, do UOL, como lidou com a doença, a cirurgia de retirada do estômago e a iniciativa de criar um projeto para conscientizar o público sobre a doença.
Até receber a notícia do câncer, o único sintoma era o refluxo intenso. “Sempre tive refluxo, que aumentava ou diminuía dependendo do que comia. Pensei em descobrir o que poderia fazer pra evitar, porque é algo que incomoda”, explicou. Cesar passou por um gastroenterologista, que pediu uma endoscopia. Quando o resultado chegou, o repórter ficou com receio do que poderia descobrir. “Sempre tive muito medo de abrir exames, porque tenho medo de doenças. Mas, por alguma razão, estava ainda mais assustado com o que poderia vir desse exame”, contou.
Ele precisou pedir ajuda para a cunhada, que também hesitou na hora de ler o laudo. “Ela não me dizia nada e falava que não entendia o que estava escrito. Comecei a ficar mais preocupado, fui tomar um banho pra acalmar, e ela ligou para uma médica“, detalhou. “Enfim, não tinha muito o que fazer, não é? O nome estava lá, era um câncer. Foi desesperador para mim. A primeira coisa que passa pela cabeça da gente é: ‘eu vou morrer’. E precisava saber em quanto tempo isso ia acontecer“, disse.
Angustiado com a notícia, Cesar buscou um pronto-socorro acompanhado pelo namorado, Paulo, e um amigo em busca de remédio para se acalmar. Lá, ele conversou com médicos sobre o câncer e perguntou a opinião dos profissionais. “Não sei nem como consegui dormir naquela noite“, desabafou. “O dia 20 de janeiro foi o pior da minha vida, em vários sentidos. Tive muito medo da morte e, principalmente, medo de estar morrendo. A gente sabe que vai morrer um dia, mas tinha medo desse processo começar ali. Era o que mais me deixava angustiado“, contou.
No dia seguinte, o jornalista conseguiu o contato de um gastroenterologista e ligou para o médico. “Perguntei para ele: ‘Doutor, só me diz uma coisa, vou sobreviver?‘”, relembrou. Cesar ainda conversou com um oncologista, que analisou seus exames à distância. “Ele conseguiu me atender no final de semana porque eu estava em desespero e daí me disse: ‘Realmente, você está com câncer. Mas pelo que estou vendo aqui, o tumor é muito pequeno. Acredito que vai ser uma pedra no seu caminho, mas a gente tem chance de reverter isso’“, lembrou.
Para focar no tratamento, Cavalcante ainda buscou uma psicóloga para conseguir cuidar da sua saúde mental. “Ela falou bastante comigo sobre eu manter objetivos na vida. Para não viver a doença, mas viver apesar da doença“, comentou.
‘Câncer: virei paciente’
O câncer de estômago é mais comum após os 65 anos, por isso, Cesar repetiu os exames a pedido do seu médico. Ele mantinha hábitos saudáveis como não fumar, beber raramente, se alimentar bem e praticar exercícios. O jornalista também frequentava uma clínica de nutrição, onde fazia análises de sangue com frequência. No entanto, o câncer foi confirmado pela segunda vez. “Fiquei 2 meses em luto, negação, não aceitava aquilo e buscava algumas explicações. Estava angustiado e com muito, muito medo mesmo. Não gostava de ouvir probabilidades, então pedi pro meu médico não me falar isso, porque quando a gente está numa situação difícil, foca mais na probabilidade negativa“, explicou.
Com a confirmação, foi preciso planejar o tratamento. Os médicos indicaram uma abordagem intensa com quatro ciclos de quimioterapia antes da cirurgia. Foi nessa fase que ele precisou lidar com enjoos, diarreia, fraqueza e a perda de cabelo. Cesar teve uma neuropatia periférica temporária, que é uma reação de grande sensibilidade ao frio e coisas geladas. “Quando estava num ambiente com ar-condicionado, as minhas mãos e os meus pés contraíam, aí não conseguia pegar no celular e escrever. Tinha que mandar áudio“, detalhou.
O contratado da Band seguiu trabalhando, exceto quando fazia quimioterapia, e chegou a se afastar um mês para a cirurgia para retirada total do órgão. “A decisão da equipe médica foi por retirar todo o estômago. Meu médico disse: ‘Existe uma possibilidade de mesmo retirando a parte em que o tumor está, ele voltar pro estômago, por causa do seu tipo de câncer, que é agressivo. Felizmente diagnosticado em fase inicial, mas um tumor agressivo’“, continuou.
De acordo com Héber Salvador, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a recuperação após a retirada total do órgão leva de seis meses a um ano. “Quando removemos o estômago todo, fazemos conexão do intestino com esôfago. A pessoa não precisa mudar o que come, mas a quantidade é menor, porque não tem mais o reservatório (estômago) para receber o alimento”, disse para o VivaBem.
Nesses casos, a alimentação começa líquida e vai aumentando até voltar aos padrões de antes. Cavalcante teve uma boa recuperação e ainda está aprendendo quais comidas são melhores e não causam desconforto. Ele está em remissão desde o final de julho e atualmente faz acompanhamentos periódicos. “Depois que peguei esse exame que mostrou que não havia pontos de tumor em nenhuma parte do corpo eu consegui dormir mais tranquilo pela primeira vez desde o começo do ano“, contou.
Apoiado pela direção de jornalismo da Band, Cesar teve a ideia de fazer seu relato em uma série especial para conscientizar sobre a doença. “Eu quis fazer isso, porque acho que sou um exemplo de que a gente precisa se cuidar”, declarou. Mesmo partindo dele a iniciativa, no primeiro instante o profissional ficou temeroso em reviver a angustia do diagnóstico. “Fiquei preocupado, mas na hora que comecei a fazer, percebi que conversar com as pessoas era como uma terapia para mim. Espero que a série atinja o maior número de pessoas. Que elas realmente vejam a importância de se cuidar e de se falar sobre câncer”, esclareceu.
Mas o projeto se concretizou e a série “Câncer: virei paciente” foi exibida na última semana no “Jornal da Band” e no “Bora Brasil”. “Algo que acontece muito é o tabu. Tem gente que hoje, 2023, não fala a palavra câncer. Existe um estigma muito grande, mas a gente precisa falar sobre o câncer“, concluiu. Assista: