A Record TV demitiu nesta sexta-feira (31) o repórter Marcelo Castro, investigado pela polícia por suposto envolvimento no “golpe do pix” feito através do programa “Balanço Geral Bahia“, da filial de Salvador. O esquema teria desviado R$ 800 mil de doações para pessoas carentes que faziam apelo diariamente na atração.
De acordo com o Notícias da TV, o comunicador foi demitido por justa causa, ou seja, sem direitos trabalhistas. O repórter também foi intimado a depor na Polícia Civil da Bahia, que investiga ao menos outros 20 casos considerados suspeitos. “A Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber) segue com as investigações acerca da suspeita de fraude ocorrida por meio da arrecadação de doações para pessoas em estado de vulnerabilidade social, em campanhas divulgadas em uma emissora de televisão, em Salvador”, disse a polícia ao site.
“Na nova fase das apurações, depoimentos, matérias jornalísticas, vídeos e prints de redes sociais estão sendo analisados. Aparelhos celulares de familiares de uma das pessoas que figuram como vítima foram encaminhados para perícia, no Departamento de Polícia Técnica (DPT). O titular da DreofCiber, responsável pelo inquérito policial, solicita às pessoas que se identificam como vítimas no contexto do caso investigado, o comparecimento na unidade, no bairro da Moraria, munido de documentos, prints e outros elementos probatórios”, completou o comunicado.
Castro é suspeito de ser o responsável por colocar uma tarja na tela no “Balanço Geral” com um número do Pix para desviar o dinheiro dos telespectadores que faziam apelo. Além do repórter, o editor Jamerson Oliveira também foi desligado da emissora. Ele é investigado por ter realizado a ação em acordo com Marcelo.
Marcus Rodrigues, advogado responsável pela defesa na parte criminal de Marcelo e Jamerson, afirmou que a saída da Record não implicará mudança na investigação. “Na seara criminal não tem desdobramentos. Até porque ele não é nem suspeito na investigação”, disse ele. Ao jornal Correio, Rodrigues disse que estão à disposição para serem ouvidos para levar os seus esclarecimentos.
Já Victor Gurgel, segundo advogado dos suspeitos, criticou a demissão dos profissionais e garantiu que estuda formas de reverter a decisão. “A demissão foi precipitada, sem a devida apuração e sem ouvir os jornalistas demitidos. Não houve um procedimento interno com o contraditório e a ampla defesa”, declarou ele. Segundo Gurgel, a reação das redes sociais ao caso pode ter colaborado para a Record tomar a atitude, mas que havia a possibilidade do repórter e do editor terem pedido demissão por conta própria devido a repercussão negativa.
Golpe do Pix
O caso veio à tona após uma reclamação feita ao apresentador “Balanço Geral Bahia” José Eduardo, mais conhecido como Bocão. No esquema, um editor e dois repórteres contratados pela Record TV usaram a história de uma menina que tratava de um câncer, exibida em setembro de 2022, para desviar mais de R$ 800 mil.
Na época, a mãe da paciente fez um apelo ao público, ao vivo, em uma tentativa de arrecadar doações para cobrir o alto custo do tratamento, que inclui sessões de quimioterapia e outros cuidados médicos. O golpe foi descoberto dias após o Carnaval, em fevereiro, quando Bocão foi alertado pelo empresário do jogador Anderson Talisca e pelo próprio atleta. Talisca, que é ex-jogador do Bahia e joga atualmente no time da Árabia Saudita Al-Nassr, contou que doou cerca de R$ 70 mil para o caso, pois se comoveu com a reportagem original.
Após ser alertado do esquema, Bocão se revoltou e repassou o caso para a direção da Record TV Itapoan, de quem cobrou uma atitude. A executiva de Salvador então alertou a sede da emissora, em São Paulo, que deu início a uma investigação interna. Entre as descobertas, foi constatado que grande parte da quantia ficou com o editor, enquanto uma quantia menor foi repassada para pelo menos um repórter. Ao ser procurada pelo Notícias da TV, a empresa preferiu não comentar o assunto.