Ryan Murphy reagiu à repercussão de “Monstros: Irmãos Menendez: Assassino dos Pais” em uma entrevista ao The Hollywood Reporter, nesta terça-feira (1º). Apesar das críticas publicadas por Erik Menendez, o produtor acredita que os dois deveriam encarar a série com outro olhar. Ele também admitiu que nunca se interessou, de fato, por este caso em específico, mas sim pela pauta do abuso sexual.
“Os irmãos Menendez deveriam estar me enviando flores. Eles não tiveram tanta atenção em 30 anos. E isso chamou a atenção não apenas deste país, mas de todo o mundo. Há uma espécie de demonstração de interesse em suas vidas e no caso. Eu sei com certeza que muitas pessoas se ofereceram para ajudá-los por causa do interesse da minha série e do que fizemos”, afirmou Murphy.
“Não há um mundo em que vivemos onde os irmãos Menendez ou suas esposas ou advogados diriam: ‘Sabe de uma coisa, essa foi uma representação maravilhosa e precisa de nossos clientes’. Isso nunca iria acontecer, e eu não estava interessado em que isso acontecesse”, garantiu. O produtor voltou a mencionar os comentários negativos de Erik, e defendeu que a série mostra diversas perspectivas sobre o ocorrido.
“O que os irmãos Menendez e seu pessoal negligenciam é que estávamos contando uma história que era uma tela muito ampla. Estávamos contando a história de Dominick Dunne (interpretado por Nathan Lane), de Leslie Abramson (interpretada por Ari Graynor). Também estávamos contando a história dos pais (José e Kitty Menendez, interpretados por Javier Bardem e Chloë Sevigny), que eles explodiram suas cabeças. Também estávamos contando a história deles. Tínhamos uma obrigação com tantas pessoas, não apenas com Erik e Lyle. Mas é isso que acho tão fascinante, que eles estão jogando a carta da vítima agora: ‘Pobres, lamentáveis [somos] nós’. O que acho repreensível e repugnante”, esclareceu.
Quem diz a verdade?
Questionado sobre em quem acreditaria no caso, Ryan apontou que tanto os irmãos como a defesa dos pais podem ter dito a verdade. “Eu também acho que duas coisas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Eu acho que eles poderiam ter matado os pais e também sofrido abusos. Eles poderiam ter tido um caráter moral ambíguo quando jovens e estar reabilitados agora. Então eu acho que essa história é complicada”, ponderou.
“Estou emocionado com a reação a ela. Estou realmente emocionado com a forma como as pessoas estão respondendo às performances, particularmente de Cooper [Koch] e Nicholas [Alexander Chavez], que realmente se mataram para fazer justiça a esses meninos. Eu acho que Cooper e Nicholas são muito mais empáticos com os irmãos Menendez do que eu. Mas bem, há espaço para todos os pontos de vista”, ressaltou.
O produtor ainda enfatizou que seu trabalho com a história dos irmãos Menendez está encerrado: “Eu realmente disse tudo o que tinha a dizer sobre eles, e não há nada que eles possam me dizer que eu sinta que não sei. Eu sei qual é a perspectiva deles. Eu sei o que eles vão dizer. É o que eles sempre disseram, não sei se é verdade. O que eu realmente queria fazer, nós fizemos”.
Foi quando Murphy revelou o motivo de trazer o caso para a trilogia “Monstros”. “Eu nunca me interessei muito pelos irmãos Menendez. O que me interessava era o tópico de abuso sexual. Eu estava interessado, especificamente, no tópico de abuso sexual masculino, e eu queria falar sobre isso. É algo em nossa cultura que raramente falamos”, explicou.
“Eu achei ultrajante durante aquele julgamento, particularmente no segundo, que tantos homens sentissem que não existia abuso sexual masculino. Isso foi um ultraje. Eu estava interessado nisso. E eu sei que isso lançou muitas conversas. Na minha própria vida, muitas pessoas me procuraram que eu nem sabia que eram abusadas sexualmente. Nossa série deu a elas uma maneira de ter uma conversa. E por isso estou tremendamente orgulhoso”, confessou ele.
Ao abordar o julgamento dos irmãos, Murphy acabou sendo questionado sobre a possibilidade deles conseguirem um habeas corpus. A petição foi protocolada em 2023 para reduzir as sentenças de Lyle e Erik, além de apresentar novas provas. “Acho que se houver novas evidências, elas devem ser examinadas. Não acho que o segundo julgamento tenha sido justo. Falamos isso na série. O que estava acontecendo em Los Angeles foi tão explosivo depois dos tumultos e depois de OJ [Simpson], e acho que esses irmãos provavelmente nunca teriam seu dia justo no tribunal”, observou.
“Então, na verdade, acho que se houver novas evidências, elas devem ser examinadas. Não sei, mesmo se você for abusado sexualmente, isso lhe dá o direito de assassinar seus pais? Essa é a questão maior. Isso é para outras pessoas decidirem. Conheço muitas pessoas que foram abusadas sexualmente que não explodiram as cabeças dos pais. Acho que é uma questão muito complicada. As novas evidências devem ser analisadas? Isso perdoa o que eles fizeram? Não sei. Isso é para outras pessoas decidirem”, argumentou Ryan.
Novo documentário
No dia 7 de setembro, a Netflix irá lançar o documentário “Menendez Brothers”. Porém, se depender do vencedor do Emmy, ele não assistirá ao longa. “Não vou assistir, porque não estou interessado em mais nada sobre os irmãos Menendez. Não quero assistir ao documentário. Não tenho interesse em conhecê-los. Não tenho interesse em falar com seus advogados ou suas esposas. Eu meio que fiz isso, porque estava contando uma história maior, uma história cultural”, destacou.
“Não estava fazendo uma biografia deles. Estava contando uma história sobre um certo lugar e época. Ouça, tenho certeza de que eles ficarão emocionados com esse documentário, porque muito dele supostamente está em suas próprias vozes. Aparentemente, há novas informações que eles alegam, incluindo sobre o abuso de sua mãe, que eles alegaram ter abusado sexualmente deles”, acrescentou.
“A história sempre fascinou as pessoas, inclusive eu, porque nunca saberemos realmente o que aconteceu. É um mistério incognoscível. Havia quatro pessoas envolvidas naquela história e duas delas foram baleadas no rosto. Então, acho que o fascínio do público é ilimitado, porque não há resposta. Nunca saberemos se eles disseram a verdade, nunca saberemos se eles realmente foram abusados sexualmente. Nunca saberemos se os pais eram os monstros”, analisou o produtor.
Trilogia “Monstros”
Ainda no papo, Ryan Murphy entregou qual será o caso que encerrará a trilogia e por que o escolheu. “No ano que vem, faremos a história de Ed Gein (com Charlie Hunnam na pele do assassino em série), que é um monstro muito diferente”, antecipou.
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