Tell Them You Love Me: O que aconteceu com professora condenada por transar com homem com paralisia cerebral?

O documentário da Netflix se tornou o mais assistido dos EUA e suscitou debate sobre dinâmica de poder, deficiência e raça.

“Tell Them You Love Me”, novo documentário sobre crimes reais da Netflix, se tornou um fenômeno nos EUA. A bizarra história de Anna Stubblefield, que se envolveu com um homem não-verbal e com paralisia cerebral, é atualmente a segunda produção mais assistida no streaming; além disso, tem levado o país a um debate sobre dinâmica de poder, deficiência e raça.

Dirigido por Nick August-Perna, o documentário investiga a polêmica relação entre Stubblefield, uma ex-professora de ética da Rutgers University-Newark, e o seu aluno com deficiência e paralisia cerebral, Derrick Johnson. “Tell Them You Love Me” foca em saber se ele realmente poderia se comunicar através da comunicação facilitada, técnica que promete fazer com que pessoas não-verbais se expressem através de textos, e dar algum tipo de consentimento.

Os dois se conheceram em 2009, através de John Johnson, irmão de Derrick e aluno de Stubblefield. O estudante contou para a professora, então com 39 anos, sobre a condição do irmão e ela se ofereceu para ajudá-lo. Na época, Derrick tinha 28 an0s. Ela o ensinou a usar um teclado com tela de LED, permitindo com que ele, supostamente, se expressasse através do método.

A comunicação facilitada é uma técnica de digitação assistida em que um profissional, chamado de facilitador, apoia fisicamente a mão ou o braço da pessoa com deficiência enquanto ela aponta para letras, em um papel ou teclado. No entanto, segundo a revista Forbes, a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) descreve esse método como “algo desacreditado que não deve ser usado”. A associação afirma que existem “extensas evidências científicas” de que “as mensagens são de autoria do facilitador e não da pessoa com deficiência”.

Derrick não consegue se comunicar e possui paralisia cerebral. (Foto: Divulgação/Netflix)

Stubblefield garantiu ter ensinado com sucesso Johnson a se comunicar através dessa técnica e, com a ajuda dela, ele até começou a frequentar aulas na universidade. Segundo ela, o aluno era um intelectual preso em um corpo que não podia se expressar. Cinco anos antes, um psicólogo avaliou Derrick e descobriu que ele não conseguia realizar tarefas básicas de nível pré-escolar.

De acordo com o The New York Times, Wayne Tillman disse que sua “compreensão parecia bastante limitada”, “seu período de atenção era muito curto” e que ele “carece de capacidade cognitiva para compreender e participar nas decisões”. Diagnosticado com paralisia cerebral e hidrocefalia depois de sofrer múltiplas convulsões quando criança, Derrick aprendeu a andar depois de participar de outro programa norte-americano que mostrava a rotina diária de sua família.

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Relatos da mãe

A convivência entre Stubblefield e Johnson ficou cada vez maior e, mesmo casada, a ex- docente afirmou que eles se apaixonaram e tiveram um relacionamento sexual consensual. Por sua vez, Daisy Johnson, mãe de Derrick, disse que o filho não conseguia ter intimidade física ou emocional devido à deficiência. Segundo ela, a professora era quem manipulava as mãos de Johnson.

De acordo com a revista Time, Daisy passou a ficar desconfiada após as declarações de seu filho soarem “muito mais do que ela (Anna) gostava, do que ele gostava”. Ela, então, decidiu denunciar o caso à polícia. Stubblefield, por sua vez, relatou aos policiais que a relação sexual foi um desejo em consenso. “Sim, [D.J.] queria estar fisicamente envolvido comigo, e eu queria estar fisicamente envolvida com ele. Nosso relacionamento não envolve apenas ou principalmente a parte sexual. Nós nos amamos muito, muito, muito, e eu não faria sexo com alguém que não amasse“, declarou.

Daisy disse que o filho não conseguia ter intimidade física ou emocional. (Foto: Divulgação/Netflix)

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O que aconteceu com Anna Stubblefield?

Em 2015, ela foi considerada culpada por duas acusações de agressão sexual agravada em primeiro grau e condenada a 12 anos de prisão. Em 2017, o recurso da ex-docente foi concedido e a sua condenação revogada, após o tribunal, em seu julgamento inicial, ter rejeitado depoimentos relacionados à comunicação facilitada, já que o método não é reconhecido pela ciência.

Anna aceitou um acordo judicial por uma acusação menor e se declarou culpada de contato sexual criminoso. Ela foi liberada da prisão após cumprir dois anos. Stubblefield chegou a trabalhar como garçonete de um restaurante, mas foi dispensada devido à repercussão do caso. Atualmente, ela vive longe dos olhos do público. Johnson, por sua vez, segue morando com a mãe e o resto da família. Ele não usa mais comunicação facilitada.

Por enquanto, não há previsão de lançamento de “Tell Them You Love Me” no Brasil. Assista ao trailer:

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