Em 1ª entrevista, piloto revela o que aconteceu em acidente de balão em SC: ‘Não saltei, fui ejetado’; sobreviventes dizem o que ouviram

Elves de Bem Crescêncio lamentou problema com extintor e garantiu que fez tudo o que podia para salvar vidas

O piloto do balão, que pegou fogo e provocou a morte de oito pessoas, afirmou que se sente responsável apenas pelo pouso de emergência que salvou 12 passageiros, antes da tragédia na cidade de Praia Grande, em Santa Catarina. Em primeira entrevista desde o ocorrido, a Roberto Cabrini para o “Domingo Espetacular”, Elves de Bem Crescêncio descreveu o início do incêndio e disse que não “saltou” do balão, mas acabou “ejetado”.

Eu sinto cheiro de queimado e na hora que olho pra baixo, há um foco de incêndio na capa do tanque. A primeira decisão que tomei foi pegar o maçarico que estava no chão e arremessar para fora do cesto. A primeira impressão é que foi no maçarico, porque era o único equipamento que estava fora do lugar. Eu não utilizei ele no dia“, declarou.

Crescêncio apontou a Cabrini que uma falha no extintor provocou o acidente. No mês passado, durante uma reconstituição do caso, ele relatou à Polícia Civil e Científica, a mesma causa. “A gente tem um protocolo muito rígido e muito firme. Fogo no cesto é algo gravíssimo. A minha próxima atitude foi pegar o extintor que ficava ao lado do tanque, mas ele não funcionou. Falhou, não saiu nada de pó. Pedi para todos os passageiros se abaixarem, porque o choque seria forte“, narrou.

Quando estava próximo ao chão, eu disse: ‘Pula! Pula! Sai do cesto’“, falou o piloto, que possui mais de 700 horas de voo. “Eu não saltei, eu fui ejetado do balão. Me sinto responsável pelo meu pouso de emergência, onde eu consegui salvar 12 vidas. Eu acho que fiz tudo o que tinha ao meu alcance para que eu pousasse o balão e conseguisse que permanecesse no chão, o máximo de tempo possível“, afirmou.

Acidente provocou a morte de 8 pessoas, em Praia Grande. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

De acordo com a reportagem, acidentes de balão são mil vezes mais comuns do que de avião. Ao longo dos anos, 1.377 acidentes foram registrados, com 415 fatalidades. No Brasil, há registro de 8 acidentes, sendo 5 deles com mortes. Cabrini reforçou que Crescêncio não tinha autorização da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para esse tipo de voo.

O estilo e as características de voo que a gente voava, era um de instrução, onde a gente imergia o passageiro. [Os passageiros pagavam] em média de 450, 500 reais. Eu tinha todas as certificações. Existem duas formas de norma: a RBAC 91 e a RBAC 103. Nós voávamos pela RBAC 103, onde eu tinha certificação, tinha cadastro junto à Anac“, explicou o piloto.

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Relato dos sobreviventes

Luana da Rocha estava no balão e perdeu os pais na tragédia. Ela contou o que ouviu de Crescêncio momentos antes de saltar do cesto. “Ele falou assim: ‘Fiquem tranquilos que eu vou pousar. Quando eu disser pula, vocês pulam’. Eu não sabia o que estava acontecendo até o momento em que eu caí, que eu pulei. Eu não sabia que era um incêndio“, revelou.

Eu vi as pessoas que caíram e comecei a gritar pela minha mãe e pelo meu pai, pra ver se eram algum deles. Mas eu não escutei nada, ninguém respondeu. Vi outras pessoas muito desesperadas, gritando. Quando olhei pra cima, o balão já estava muito alto. Foi a cena que eu vi, incendiado lá em cima“, contou.

Piloto possui 700 horas de voo em balão. (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal/TV Globo)

Tassiane Francine Alvarenga, namorada de um dos mortos, falou que não recebeu instruções e atribuiu a culpa do acidente ao piloto. “Naquele momento que a gente caiu, eu imagino que foi o momento em que ele pulou. As outras pessoas estavam todas ali, em pânico, dilaceradas com aquilo que havia ocorrido, e ele (o piloto) estava íntegro. Eu perguntei: ‘Cadê meu namorado? Isso foi culpa tua. Você sabe o que você fez e vai pagar por isso’. Ninguém quer ir junto e voltar sozinha“, desabafou.

Crescêncio lamentou o ocorrido e mandou um recado aos familiares das vítimas. “É um momento bem difícil, que nenhum piloto gostaria de estar. Eu fico imensamente triste, porque sempre trabalhei com pessoas felizes. Eu tentei de tudo pra que a gente conseguisse conter as chamas. O extintor não funcionou. Depois eu tive o grande trabalho de colocar o balão no chão, pousar o balão, que foi muito difícil. Eu fiz de tudo pra salvar todas as pessoas“, completou. Imagens dos sobreviventes após o acidente, bem como do balão tocando o chão, também foram divulgadas.

Assista à reportagem na íntegra:

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