A esposa de Arlindo Cruz, Babi Cruz, revelou novos detalhes sobre o estado de saúde do sambista. Na biografia “O Sambista Perfeito”, escrita pelo jornalista Marcos Salles, ela compartilha relatos emocionantes sobre os desafios vividos desde que Arlindo sofreu um AVC hemorrágico, em 17 de março de 2017.
Além de revisitar a carreira e os dias que antecederam o AVC, a obra mostra quais eram os planos do cantor e como sua vida mudou radicalmente desde então. Um dos pontos mais comoventes é o depoimento de Babi, que conta que Arlindo está internado em um hospital no Rio de Janeiro desde março, após ser diagnosticado com pneumonia.
Sem reações
Apesar do quadro estável, o cantor, hoje com 66 anos, enfrenta uma infecção causada por uma bactéria resistente e já não responde aos estímulos como antes.
“Tivemos momentos lindos dele segurando copo, segurando biscoito… Hoje não temos mais isso do Arlindo. Hoje ele está bem dentro do mundinho dele, do universo dele. Bem distante”, contou.
O livro também revela bastidores da vida a dois, como o período em que Babi experimentou cocaína após descobrir o vício do marido, os sambas que compuseram juntos e o momento em que superou uma traição conjugal.
Em um desabafo impactante, Babi também revelou como enfrentou o sofrimento, a solidão e a depressão após o agravamento do estado de saúde de Arlindo. Ela também detalha os motivos que a levaram a buscar um novo relacionamento, mesmo mantendo seu amor e cuidado pelo cantor.
“Ninguém viu a Babi emagrecer 25 kg e depois engordar mais de 30. Ninguém viu o cabelo da Babi cair todo e eu ficar quase careca, tendo que usar peruca. Ninguém viu o meu sofrimento, a minha solidão, a minha depressão. Conheci o buraco mais fundo do que o fundo do poço. Meus filhos diziam: ‘Mãe, você vai morrer e meu pai vai ficar aí’. Eu só tomava água, café, remédio para depressão e fumava cigarro. Foram cinco anos e meio dormindo sozinha”, contou.
Conversa com médico
Ela também descreveu com sensibilidade o momento em que sentiu que precisava seguir em frente: “Há uns dois anos, já vinha conversando com os meninos. Comecei a reclamar da solidão, que estava grande, muito grande. Nossa cama era uma king, troquei para uma queen e ainda estava grande. Vim para uma de casal comum e já estava indo para uma de solteiro, porque o espaço vazio, sem ter a perspectiva de ser preenchido, já começava a me doer. Sou uma mulher muito transparente. E essa solidão é o que me condenava. Não foi a falta de sexo que me fez pensar num novo relacionamento. Foi a solidão. Eu passei a minha vida inteira casada, com meu marido do meu lado, entre idas e vindas, aos trancos e barrancos, como qualquer relacionamento, e essa solidão foi o que somou para que eu pudesse abrir meu coração para ter um relacionamento. A gente só tem essa vida. Não sou separada, não sou viúva, nem solteira. Tenho um marido com o diagnóstico de inconsciência definitiva”.
Por fim, Babi relembrou o momento exato em que se deu conta da situação do marido: “Meu grande sonho era que Arlindo conseguisse compor de uma forma que eu pudesse ajudar, que a gente pudesse estabelecer uma forma de interagir. Eu tive essa esperança na terceira cirurgia da cabeça do Arlindo. Mas o neurocirurgião que operou ele, já na segunda cirurgia, me disse: ‘Babi, vai viver sua vida, porque ele não volta mais’. Como eu sou uma mulher muito espiritualizada, acreditei por um tempo em milagre, só que depois, além do AVC, veio a hidrocefalia e fechou o diagnóstico dele”.
