Polícia revela irregularidades e principal hipótese para queda de avião que matou arquiteto chinês e cineastas no MS

Acidente deixou quatro mortos em Aquidauana, na região do Pantanal

Hipótese inicial envolvendo porcos na pista foi descartada pela Polícia Civil do MS, na investigação sobre a queda de um avião em Aquidauana. O acidente provocou a morte de quatro pessoas.

A Polícia Civil do Mato Grosso do Sul descartou a hipótese de que o avião que caiu e matou quatro pessoas, em Aquidauana, tenha arremetido devido à presença de porcos selvagens na pista de pouso. Ao portal g1, a delegada Ana Cláudia Medina disse que uma vistoria foi realizada e os animais já tinham deixado o local.

Um laudo preliminar do Corpo de Bombeiros apontou que, de acordo com testemunhas, os animais invadiram a pista, e o piloto, Marcelo Pereira de Barros, precisou arremeter para não atingi-los. Devido ao momento súbito, o avião teria perdido a altitude e caído a 100 metros da cabeceira da pista. No entanto, segundo Medina, a suspeita é que Barros tenha percebido alguma condição irregular durante a aproximação.

De acordo com o g1, o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) informaram que a aeronave também voava irregularmente após o pôr do sol e não tinha permissão para transportar passageiros de forma remunerada.

Testemunhas contaram à polícia que o avião sobrevoou a região o dia todo, com diversos pousos e decolagens. Mas segundo as autoridades, a pista só podia ser usada até às 17h39. O acidente aconteceu por volta das 18h30, na pista de pouso da Fazenda Barra Mansa, um dos locais de gravação da novela “Pantanal”. A área é turística e recebe visitantes do Brasil e do exterior.

Aeronave com quatro pessoas caiu na noite desta terça-feira (23). (Foto: Divulgação/PCMS)

Fabricada em 1958, a aeronave era um monomotor Cessna 175 e foi comprada pelo piloto em 2015. Ela tinha capacidade para quatro pessoas e foi registrada para serviços privados, conforme registro da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O avião tinha autorização apenas para voar durante o dia, seguindo regras de navegação visual (VFR Diurno).

Embora estivesse com situação de aeronavegabilidade normal e documentação em dia, o monomotor não contava com equipamentos para voar à noite ou em tempo ruim. Segundo o Dracco, não havia mau tempo no momento da queda.

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Kongjian Yu, Luiz Ferraz e Rubens Crispim Jr. estavam na região gravando um documentário sobre cidades-esponja, conceito pelo qual o arquiteto chinês ficou mundialmente conhecido. A equipe chegou ao local de carro e se hospedou na fazenda.

Ainda segundo o g1, a Polícia Civil investiga se o voo fazia parte de um serviço clandestino de táxi-aéreo. Barros, que também era o proprietário do avião, já havia sido alvo da Operação Ícaro, em 2019, por transporte irregular de passageiros. Na época, o avião foi apreendido por irregularidades e adulteração na identificação.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos e a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul realizam a pericia e investigam a causa do acidente.

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As vítimas

Kongjian Yu era reitor da Faculdade de Arquitetura e Paisagismo da Universidade de Pequim, Membro Honorário Internacional da Academia Americana de Artes e Ciências, e diretor do escritório de arquitetura paisagística Turenscape. Ele foi o criador de uma das ideias mais inovadoras da arquitetura moderna: as cidades-esponja, planejadas para absorver a água da chuva.

O arquiteto chinês projetou obras em mais de 70 cidades, e também era consultor do governo chinês. Yu veio ao Brasil no início de setembro para palestrar em Brasília, durante a Conferência Internacional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo.

Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz era diretor especializado em projetos de documentário e não-ficção. Ele fundou a Olé Produções em 2007. Entre as produções assinadas estão “Dossiê Chapecó: O Jogo por Trás da Tragédia”, série sobre a tragédia aérea com o time da Chapecoense e que recebeu uma indicação ao Emmy Internacional.

Em nota, a produtora deixou seu pesar. “A família lamenta profundamente o ocorrido e agradece as inúmeras mensagens de carinho e solidariedade recebidas neste momento de dor“, declarou.

Kongjian Yu, Rubens Crispim Jr e Luiz Ferraz. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Rubens Crispim Jr. era diretor de fotografia e criador da produtora Poseídos, especializada em filmes de arte. Formado em Artes Plásticas pela ECA-USP, ele também atuava como documentarista e produtor independente ao lado da esposa, Heloisa Faria. Em 2006, Crispim ganhou o reality show “Projeto 48”, da TNT, e fez seu primeiro curta, “Os 400 Golpes”.

O diretor trabalhou para canais como Discovery Channel, National Geographic, Arte 01, TV Globo, TV Cultura e a plataforma de streaming Cultura em Casa. Crispim também assinou diversas exposições da Pinacoteca de São Paulo.

Marcelo Pereira de Barros era piloto e proprietário da aeronave. Ele morava em Aquidauana e trabalhava na companhia de táxi aéreo Aerotrip, que fazia diversas viagens pelo Pantanal. Nas rede sociais, amigos de Barros destacaram que ele tinha ampla atuação em sobrevoos no Pantanal e Serra da Bodoquena.

Em nota, a Aerotrip também lamentou o ocorrido. “Sua ausência será profundamente sentida por todos nós“, afirmou. Barros deixa dois filhos.

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