Inspirador e necessário! Em entrevista ao Uol Esportes nesta terça-feira (1), a jornalista esportiva da Globo, Joanna de Assis, concedeu um depoimento emocionante sobre o aborto espontâneo que sofreu um ano atrás. A profissional se abriu a respeito da culpa que sentiu durante tanto tempo, deu toques certeiros sobre empatia com quem passou por algo semelhante e como falar sobre o assunto pode ajudar o próximo.
No dia 11 de novembro, data em que o ocorrido completou um ano, Joanna abriu o coração sobre o que tinha vivido para os seus seguidores. “Foi por perder o bebê coxinha (apelido dado por ela para o filho) no ano passado, por sentir uma culpa enorme por isso, que eu procurei ajuda, médica e espiritual. O que eu havia feito de errado? Nada. Mas eu tinha uma lição para aprender, e a partir de agora um espírito para guiar. Filho, eu sempre vou amar você. Você sempre fará parte de mim”, escreveu em um trecho da legenda do post no Instagram.
Para o Uol, Joanna lembrou com detalhes o que aconteceu. “Eu estava dentro da Rede Globo, em São Paulo. Grávida de oito semanas e tinha ido em uma pauta, fazer matéria, normal… Me sentia super bem, não tinha sintoma, não tinha enjoo… Era uma grávida ativa, corria sempre no parque”, explicou. “Lá na emissora, fui ao banheiro e tudo aconteceu: veio uma enxurrada de sangue, tomei um susto enorme e dei um grito. Uma produtora estava comigo. Na época, não tínhamos intimidade. Com tudo o que aconteceu, viramos muito amigas”, disse Joanna.
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Ao identificar o que estava acontecendo, a produtora teve uma postura admirável. “Ela trancou a porta do banheiro e falou: ‘Olha só, eu estou aqui, já tranquei o banheiro e quando você quiser sair, está tudo bem, ninguém vai te ver’. Eu saí, liguei para minha médica e fui direto para o hospital. Ainda tinha esperança de salvar o meu filho. Não conseguimos”, lamentou Assis.
Assim como acontece recorrentemente entre mulheres que sofrem esse tipo de perda, Joanna não conseguiu evitar se sentir culpada. “Pensei que a culpa era minha, que tinha feito alguma coisa errada… A mulher sempre se culpa nesse momento. Achei: ‘Ah, será que é porque eu corri no Parque do Ibirapuera?’. Me perguntava o que tinha feito, se tinha comido algo errado, o que tinha acontecido?”, indagou. Depois que sofreu o aborto, a jornalista descobriu que tinha uma condição genética muito séria, a trombofilia. Em entrevista ao Uol, o médico ginecologista Geraldo Caldeira explicou que a doença pode ser hereditária ou adquirida e, por alterar os fatores de coagulação, pode causar o aborto, mas com o diagnóstico precoce e os medicamentos certos isso pode ser evitado.
No entanto, tanto a doença quanto os testes para identificá-la não são tão conhecidos e acessíveis. “Me assusta como a gente fica vulnerável com coisas tão simples. Esse exame de trombose é algo caro e o convênio não cobre. Pessoas que não têm informação e boa condição financeira passam batido e isso é triste. Mas até mesmo as pessoas que têm acesso a médicos particulares e redes de laboratórios de análises clínicas também não sabem disso”, avaliou Joanna.
A profissional também lembrou como foi o processo para publicar o post, contando para as pessoas o que enfrentou. “Chorei por uma semana. Eu escrevi ao longo dos dias, porque começava e ficava emocionada. Não tinha contado para ninguém. Lembro de ter postado e, assim que meu marido viu, ele saiu da sala e veio me abraçar: ‘Acabei de ver seu texto’. Perguntei como ele se sentiu. Ele falou: ‘Achei lindo, a gente tem que sempre se lembrar do nosso bebê coxinha’. E que bom que ele se sente assim também, porque é como eu me sinto”, opinou.
E só por ter conseguido trazer o assunto à tona que Joanna teve a possibilidade de ajudar uma amiga que estava passando pela mesma coisa. “Minha amiga me ligou e disse: ‘Não acreditei quando eu vi. Estava me sentindo muito sozinha’. Ela não teve coragem de contar nem para a mãe que estava grávida, porque ela estava com medo da gestação, só o marido sabia. Ela viu a publicação e me procurou. Conversamos muito sobre vários assuntos: saúde, como eu me curei emocionalmente e fui buscar ajuda. Ali eu tive certeza que que foi muito válido o que eu fiz”, falou.
Joanna Assis assumiu que já esteve no lugar da pessoa que diz as coisas inadequadas em um momento como esse, e deu um conselho importante para ninguém fazer o mesmo. “Eu já falei a coisa errada, pensei a coisa errada. Até que aconteceu comigo. Eu sei que as pessoas não falam por mal, mas não se fala [que se está dizendo algo errado]. Ninguém vai substituir uma pessoa por outra… ‘Ah, tudo bem, daqui a pouco você engravida de novo’, ‘fica tranquila que você é nova, vai engravidar já já’, ‘Imagina, é normal, você sabe que isso é normal, né?’, ‘Por que você não faz uma viagem?’. Não, gente. Não existe isso”. , declarou.