Golpe na USP: Polícia pede prisão preventiva de estudante que desviou quase R$ 1 milhão de formatura

Alícia Dudy Muller Veiga é acusada de apropriação indébita e investigada por estelionato e lavagem de dinheiro

alicia USP

Nesta segunda-feira (30), a Polícia Civil indiciou e pediu a prisão preventiva da estudante Alícia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, que confessou ter desviado R$ 937 mil de seus colegas da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o g1, a jovem é acusada de cometer nove vezes o crime de apropriação indébita em concurso material.

“O caso foi investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 16º Distrito Policial (Vila Clementino). O procedimento foi relatado ao Poder Judiciário na última sexta-feira (27), com o indiciamento da autora por nove apropriações em concurso material. A autoridade policial representou pela prisão preventiva da autora, que está sob análise da Justiça”, informou a Secretaria de Segurança Pública em comunicado.

Até o momento, no entanto, o Ministério Público não se manifestou sobre a decisão, mas confirmou que vai analisar as provas apresentadas. Na última semana, as autoridades apreenderam aparelhos eletrônicos, um carro alugado pela jovem e um caderno com anotações relativas ao crime. A Justiça ainda decretou a quebra de sigilo bancário de Alícia, e os bancos em que a estudante mantinha uma conta têm 60 dias para encaminhar o relatório.

A delegada que investiga o caso, Zuleika Gonzalez Araújo, revelou que uma amiga próxima da suspeita foi ouvida e disse que não sabia sobre os crimes. A nova presidente da comissão de formatura, também em depoimento, afirmou que Alícia mudou todas as senhas de acesso ao e-mail da comissão.

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Caderno com confissões

No apartamento da jovem, foi encontrado um caderno com frases sobre o “arrependimento e a frustração” de não conseguir recuperar o dinheiro perdido em apostas. “Depois de perder tanto, só queria ganhar a qualquer custo para recuperar“, diz um trecho. Em outra parte, ela lamenta a própria falta de estratégia. “Sentimento de culpa só aumentando. Fui tão estratégica para chegar até esse dinheiro. Como não fui nada estratégica para usar sem me prejudicar ou prejudicar outros?“, escreveu. Também havia anotações sobre consultas de Alícia com videntes e mães de santo.

De acordo com o g1, o carro alugado pela estudante – um Nivus com o valor mensal de R$ 2.190 – tem registros de infrações de trânsito nos últimos meses, quando o veículo estaria com ela. A Polícia também encontrou 17 comprovantes referentes a quantias que a jovem havia ganhado na loteria. No entanto, Alícia teria perdido mais dinheiro do que arrecadado.

Anotações foram encontradas no apartamento de Alícia. (Foto: Reprodução)
Anotações foram encontradas no apartamento de Alícia. (Foto: Reprodução)

O caso também está sendo acompanhado pela USP. Questionada pela TV Globo se planeja expulsar Alícia do curso, a universidade disse que segue apurando o caso. “Diante do andamento da investigação sobre a fraude contra a Comissão de Formatura, que envolve uma aluna da Faculdade de Medicina da USP, a instituição informa que está acompanhando a apuração dos fatos pelos órgãos competentes”, afirmou.

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Depoimento

Em depoimento à polícia, em São Paulo, Alícia confirmou ser a responsável por desviar os valores da formatura. Segundo a jovem, ela entendeu que os recursos arrecadados pelos alunos não estavam sendo administrados corretamente pela empresa contratada, mas realizou aplicações ruins e, eventualmente, perdeu o dinheiro.

Desesperada, ela tentou recuperar a quantia fazendo apostas em uma casa lotérica. Alícia afirmou, ainda, que usou parte do montante em benefício próprio, pagando despesas pessoais como aluguel de veículos, apartamento e ainda compra de eletrônicos. Durante o depoimento, ela admitiu que a história que contou aos colegas de que teria investido o dinheiro em um fundo e sofrido um golpe era mentira.

A investigação confirmou, também, que a empresa ÁS Formaturas de fato transferiu quase R$ 1 milhão para a conta bancária da estudante, que era presidente da comissão de formatura da turma 106 da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. “Foram feitas diversas movimentações bancárias. Ela conseguiu a transferência da empresa responsável pela formatura para a conta dela”, disse a delegada Zuleika Gonzalez Araujo.

Alícia assumiu a responsabilidade pelo golpe. (Foto: Reprodução)
Alícia assumiu a responsabilidade pelo golpe. (Foto: Reprodução)

Segundo a polícia, a jovem vem de uma família humilde e foi agraciada com condições especiais para participar da festa de formatura. “Os nossos investigadores tiveram contato com a família. Trata-se de família humilde mesmo. Ela conseguiu ingressar no curso com muito esforço, a origem é humilde. Inclusive, o valor pago por cada estudante para empresa na formatura era de R$ 12 mil. Os estudantes que comprovassem uma situação financeira econômica um pouco mais difícil pagariam R$ 6 mil. Ela foi agraciada com essa possibilidade”, revelou a delegada.

Alícia reforçou que agiu sozinha, mas sua namorada também foi intimada a prestar depoimento. A Polícia Civil já confirmou que ela será indiciada por apropriação indébita, crime que tem previsão de pena de até quatro anos de reclusão.

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Festa mantida

No dia 23 de janeiro, a ÁS Formaturas se reuniu com o Procon-SP e decidiu não repassar aos alunos o prejuízo que teve com o desvio de dinheiro. A empresa absorverá a dívida e realizará a festa sem custo extra para os formandos.

Em entrevista coletiva, Guilherme Farid, chefe de gabinete do Procon, afirmou que o contrato entre os alunos e a empresa foi formado em 2019. Entretanto, a pessoa jurídica que comandou a negociação, que fazia parte de uma associação dos formandos, nunca foi registrada. “O contrato foi celebrado entre duas pessoas jurídicas. Mas os alunos teriam que ter criado uma associação, registrado no tabelião de notas e formado pessoa jurídica. Teria representatividade legal”, explicou Farid. Por esse motivo, o negócio teria sido “mal elaborado” e acordado informalmente.

Alícia prestou depoimento e foi indiciada. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Durante a deliberação, foi revelado que dos 100 interessados no evento, quem analisava e decidia sobre os valores era um grupo formado por cerca de 20 pessoas, em comunicações feitas por meio do WhatsApp. A ÁS Formaturas recebeu 15 dias para contatar cada um dos formandos individualmente e apresentar a nova proposta. A ideia é oferecer uma festa bancada pela empresa, com os mesmos fornecedores e estrutura que haviam sido contratados anteriormente.

Caso os alunos aceitem o novo plano, a organização deve levar cerca de um ano até a realização da festa. O processo será acompanhado de perto pelo Procon-SP. Até lá, se forem comprovados problemas relacionados com a empresa, uma multa de até R$ 12 milhões pode ser aplicada.

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Inquéritos

Atualmente, Alicia Dudy Muller Veiga é alvo de dois inquéritos policiais. O primeiro é comandado pelo 16° DP, que investiga crime de apropriação indébita, envolvendo o dinheiro da festa de formatura. Já a Delegacia Especializada em Investigações Criminais (DEIC) de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, apura os crimes de estelionato e lavagem de dinheiro contra uma lotérica.

A polícia trabalha com a hipótese de que o dinheiro usado pela estudante em apostas não pagas, todas feitas no ano passado na lotérica da Zona Sul de São Paulo, poderia integrar o montante destinado à formatura de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

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