Apontada pela polícia como mentora do “crime do brigadeirão“, a cigana Suyany Breschak cobrava até R$18 mil por “amarrações amorosas”, revelou o g1. A jovem de 27 anos faz sucesso nas redes sociais, com 700 mil seguidores, onde se identifica como “Esmeralda”, uma “cigana legítima de berço” e “especialista em união amorosa”.
Suyany foi presa no dia 29 de maio em Cabo Frio, na Região dos Lagos do RJ. Em um 1º depoimento, ela declarou à polícia trabalhar “com umbanda, linha branca, sem provocar mal a ninguém”. Em vídeos, a cigana ensina simpatias, faz previsões e aparece comprando itens para os “rituaizinhos”.
Quem a chamava pelo WhatsApp recebia uma mensagem automática, com erros de pontuação, descrevendo seus serviços. “Amarração amorosa: traz a pessoa te amando e respeitando tendo olhos e prazer somente contigo na cama rastejando implorando pelo seu perdão se tiver com outra pessoa. Larga da pessoa toma ódio e nojo dessa outra pessoa”, dizia a mensagem.
A mensagem prossegue com uma tabela de valores das “amarrações”. Um enlace de 3 anos custa R$2.200. Uma união de 5 anos sai por R$4.800. Sete anos de amarração ficam por R$5.200, e para a “amarração amorosa definitiva” Suyany cobra R$18 mil. “Resultados dentro de 21 dias”, avisa ela. O interessado precisa enviar nome completo, a data de nascimento e uma foto da pessoa “a ser amarrada”.
Mandante do crime
Horas após Júlia Andrade Cathermol Pimenta ser presa, suspeita de matar o empresário Luiz Marcelo Ormond com um brigadeirão envenenado, a polícia trouxe uma reviravolta no caso. Segundo o delegado Marcos Buss, que comanda a investigação, a “cigana” Suyany Breschak teria sido a mandante do assassinato.
Breschak está presa desde o dia 29 de maio, quando foi interrogada pela polícia. A mulher já era suspeita de envolvimento no crime, pois recebeu o carro da vítima como pagamento de parte de uma dívida de R$400 mil de Júlia.
Porém, segundo o delegado da 25ª DP (Engenho Novo), as investigações reforçaram a teoria de que Breschak teria encomendado o crime contra Luiz Marcelo. “Podemos falar com bastante segurança que há elementos nos autos, muitos elementos indicativos, de que a Suyany seria a mandante e arquiteta desse plano criminoso. A Júlia tinha uma grande admiração, uma verdadeira veneração pela Suyany”, explicou.
O delegado destacou que Suyany teria influenciado a suspeita. “O que está sendo confirmado por todos os elementos reunidos até o momento, embora não saibamos explicar bem o porquê, é que Júlia realmente faria pagamentos mensais para Suyany”, detalhou.
Buss apontou que a conexão entre as duas partia da crença de que a cigana tinha “poderes”: “Essa relação já vinha se desenrolando há muito tempo. Suyany tinha uma influência muito grande sobre Júlia. Júlia se sentia ameaçada e entendia que poderia acontecer alguma coisa contra ela, como uma morte ou uma doença. Essa crença transcendia esse plano e repousava em eventuais poderes mágicos de Suyany. Júlia acreditava que Suyany tinha o poder sobre a vida, sobre a morte, sobre a saúde das pessoas”.
O delegado destacou, ainda, que Suyany orientou Júlia a moer o medicamento Dimorf (remédio à base de morfina) na sobremesa que matou o empresário. “A própria Suyany teria procurado informações sobre a aquisição de tal medicamento”, revelou.
Suyany e Júlia teriam se conhecido quando a suspeita buscou os serviços espirituais da profissional. “Ela pegava e pedia para mim sempre banho, limpeza, descarrego para ele [Luiz Marcelo] não descobrir que ela estava fazendo o programa, para mãe não descobrir que ela estava fazendo programa”, revelou a cigana.
Ao longo da relação, Júlia teria acumulado uma dívida de quase 400 mil reais com a cigana. Ela também teria confidenciado seus sentimentos em relação a Luiz Marcelo. “Ela me disse: ‘Não estou mais aguentando esse porco, esse nojento, eu vou matar ele'”, contou Suyani em depoimento.
Segundo o “Fantástico”, da TV Globo, Júlia e Luiz Marcelo tiveram um “relacionamento esporádico” entre 2013 e 2017. Em 2023, os dois teriam retomado a relação. À polícia, Pimenta deu sua versão da “linha do tempo” da união: em 19 de abril, eles se mudaram para um apartamento na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 24 de abril, Luiz Marcelo trocou o status do relacionamento em suas redes sociais para “casado”.
Contudo, de acordo com evidências angariadas pela polícia, a cigana teria bolado um plano, com o intuito de afastar Júlia de outro namorado, Jean, para que ela voltasse com Luiz Marcelo.
Marcos Buss revelou que Júlia contou a Jean que teria sido contratada para ser babá por um mês. Ela receberia R$11 mil para cuidar dos filhos de uma mulher chamada Natália. A suposta patroa era, na verdade, Suyany, que teria enviado fotos dos próprios filhos para que a psicóloga usasse como “provas” em conversa com Jean.
O delegado explicou como as autoridades pretendem comprovar o envolvimento da cigana no crime: “Pretendemos fazer uma comparação entre alguns áudios que Júlia teria encaminhado a Jean. Quando Júlia teria ido residir com Jean, ela mandou áudios de uma pessoa que se identificava como Natália. Essa pessoa teria contratado os serviços de Júlia para funcionar como babá de seus filhos”.
“Nesse esquema, nessas mensagens, Júlia teria mandado para o Jean fotografias dos filhos da Suyany, dando a entender, segundo a Júlia, que Natalia seria Suyany. Se ficar comprovado, mediante um exame de comparação das vozes que ali aparecem, que efetivamente foi Suyany que mandou [as fotos e o áudio], [teremos] elementos dessa participação [no crime], com auxílio material”, detalhou.
O advogado da cigana, Cleison Rocha, se manifestou após sua prisão. Em conversa com o “Fantástico”, ele reforçou a inocência da cliente: “A Suyany trabalha com cartas e búzios e a Júlia era cliente dela. A Suyany é inocente e não tem a ver com os fatos criminosos em questão”.