Neste domingo (2), foi ao ar no “Fantástico” a reportagem sobre a morte do empresário Luiz Marcelo Ormond. Durante o programa, foram exibidos trechos do depoimento de Júlia Pimenta. Ela se tornou suspeita após ter conversado com a polícia no dia 22 de maio, dois dias após a descoberta do corpo de seu namorado em avançado estado de decomposição.
O delegado Marcos Buss, encarregado do caso, declarou que as suspeitas em relação a Júlia surgiram durante o interrogatório. Até então, a polícia não considerava a possibilidade de homicídio, mas sim de morte suspeita. No entanto, a postura da mulher ao falar sobre o falecimento de seu ex-parceiro foi descrita como “extremamente fria”, o que alarmou as autoridades.
Segundo o dominical da TV Globo, Júlia e Luiz Marcelo tiveram um “relacionamento esporádico” entre 2013 e 2017. Em 2023, os dois retomaram a relação. À polícia, Pimenta deu sua versão da “linha do tempo” da união: em 19 de abril, eles se mudaram para um apartamento na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em 24 de abril, Luiz Marcelo trocou o status do relacionamento em suas redes sociais para “casado”.
Porém, no dia seguinte, a suspeita notou uma mudança de comportamento no empresário, que supostamente “dormia demais e que não saía mais de casa”. Foi então que os desentendimentos começaram. “Eu percebi que ele estava muito cansado, muito estressado. E quando ele voltava no almoço, ele apagava”, disse Júlia.
Um amigo de Luiz Marcelo, que não revelou sua identidade, detalhou os conflitos casal: “Ele falava muito que vivia muito em briga com ela, ele sempre falava comigo, que eles brigavam muito e tudo mais. Ele era um cara que tinha medo de casar, que ele falava pra mim, por causa dos bens dele, com medo de separar”.
Outra testemunha contou à polícia que Júlia pressionou o parceiro para que estabelecessem uma “união estável”. Todavia, o namoro ruiu menos de um mês após a mudança. Júlia alegou que o término foi causado por uma traição. “Aí eu vi que enquanto eu estava dormindo, ele ficava em bate-papo. Provavelmente procurando p*ta. Aí descobri que tinha um Instagram fake. Aí teve briga. Aí eu falei que eu queria ir embora”, disse ela, em trecho da oitiva exibido pelo programa.
A mulher disse ter se mudado da residência que compartilhavam no dia 20 de maio – versão que foi desbancada pela Polícia Civil. Neste mesmo dia, os vizinhos do ex-casal passaram a sentir um cheiro forte vindo do apartamento e chamaram os bombeiros. Luiz Marcelo foi encontrado, sem vida, no sofá de casa. Seu corpo já estava em estado avançado de decomposição.
A perícia revelou que ele teria falecido entre três a seis dias antes da descoberta – o que difere do depoimento de Pimenta. A teoria é que a vítima ingeriu um brigadeirão envenenado feito por Júlia. Entretanto, até o momento, um laudo conclusivo sobre a causa da morte ainda não foi divulgado.
A suspeita de envenenamento ganhou força depois que imagens do dia 17 de maio vieram à tona. No registro, o empresário aparece carregando o doce, cerca de três dias antes de seu corpo ser encontrado.
Últimos momentos
As últimas horas de vida de Luiz Marcelo foram capturadas pelas câmeras de segurança do elevador no condomínio onde ele residia com Júlia. Em um momento tido como “romântico”, o casal trocava beijos.
Posteriormente, ambos interagiram com uma vizinha, Juliana Viana. “Ele tava estranho, ele não tava com aquele sorriso de sempre, com a felicidade de sempre, ele tava com olhar meio distante, meio triste, não sei te dizer ao certo, mas ele tava diferente”, relatou a vizinha ao “Fantástico”.
Em outro trecho, o homem manifesta sinais evidentes de desconforto, chegando até a declarar: ““Não tô bem, não”. Conforme a investigação, o vídeo foi crucial para a polícia elucidar a sequência dos eventos do crime.
Além dos momentos finais de Luiz Marcelo, outros registros exibem Júlia sozinha no elevador do edifício. A mulher parece seguir uma rotina aparentemente “normal”. “Ela teria permanecido no interior do apartamento da vítima, com o cadáver por cerca de 3, 4 dias. Lá ela teria se alimentado. Ela teria, inclusive, nós temos isso filmado, ela teria descido para academia, se exercitado, retornado para o apartamento onde o cadáver se encontrava”, revelou o delegado.
Em 18 de maio, Pimenta foi flagrada levando objetos para o porta-malas do carro de Luiz Marcelo, novamente sozinha. Dois dias depois, em 20 de maio, ela é vista mais uma vez, desta vez carregando dois celulares. Em seguida, ela passa pela portaria para pegar o cartão do banco de uma conta conjunta que tinha com a vítima.
Justificativa do crime
As informações obtidas durante a investigação sugerem que o crime teria sido motivado por questões financeiras, afirmou o delegado Marcos Buss. “Nós temos elementos que a Júlia estava em processo de formalização de uma união estável com a vítima. Mas, em determinado momento, o que nos parece, é que a vítima desistiu da formalização da união”, pontuou.
“Então isso até robustece a hipótese de homicídio e não de um latrocínio, puro e simples, porque o plano inicial me parecia ser realmente eliminar a vítima depois que essa união estável estivesse formalizada”, detalhou ele.
Nas diligências, foi revelado que Júlia adquiriu medicamentos de uso controlado dias antes da morte do namorado. Após a prisão da cigana Suyany Breschack, também suspeita de envolvimento no caso, a teoria de envenenamento tomou força. “Ela me disse: ‘Não estou mais aguentando esse porco, esse nojento, eu vou matar ele'”, contou ela às autoridades.
Suyany e Júlia teriam se conhecido quando a suspeita buscou os serviços espirituais da profissional. “Ela pegava e pedia para mim sempre banho, limpeza, descarrego para ele [Luiz Marcelo] não descobrir que ela estava fazendo o programa, para mãe não descobrir que ela estava fazendo programa”, revelou. Ao longo da relação, Júlia teria acumulado uma dívida de quase 400 mil reais com a cigana.
Em sua versão, ela confirmou que a namorada teria assassinado Luiz Marcelo com um medicamento chamado Dimorf, moendo a droga no brigadeirão. Ela diz que conversaram logo após o crime, quando Júlia teria levado o carro da vítima como pagamento de parte da dívida. No veículo, foram encontrados objetos como um computador e armas legalizadas, todos pertencentes ao empresário. Victor Ernesto de Souza, ex-namorado de Suyany, foi preso por receptação após receber o carro de Luiz Marcelo.
O advogado da cigana, Cleison Rocha, se manifestou após sua prisão. Ao dominical, ele reforçou a inocência da cliente: “A Suyany trabalha com cartas e búzios e a Júlia era cliente dela. A Suyany é inocente e não tem a ver com os fatos criminosos em questão”.
Assista à reportagem completa: