Em 31 de março, o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho colidiu seu Porsche contra um Sandero na Avenida Salim Farah Maluf, Tatuapé, resultando na morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana. Nesta terça (16), dados obtidos pelo g1, apontaram que o Porsche estava a 136 km/h no momento da colisão. A velocidade consta no “módulo”, um dispositivo de segurança que funciona como uma “caixa-preta” para carros de luxo.
Conhecido como Porsche Stability Management (PSM), o dispositivo é responsável por garantir a estabilidade do veículo durante mudanças bruscas de direção. Foi através dele que a fabricante conseguiu determinar a velocidade do Porsche modelo 911 Carrera GTS no momento do acidente fatal contra o Renault Sandero de Ornaldo.
“Cabe ressaltar que a velocidade obtida por meio da leitura do módulo pela Porsche foi de 136 Km/h, cujo resultado é condizente com a estimativa obtida pelo Núcleo de Apoio Logístico”, disse o documento, ao qual o Metrópoles também teve acesso. A velocidade máxima da Avenida Salim Farah Maluf é de 50 Km/h.
O suporte técnico da Porsche também identificou outro detalhe durante sua análise: o laudo revelou que havia um escapamento não original instalado no motor do veículo. Essa modificação resultou em um aumento de ruído e potência.
A equipe de suporte da Porsche desenvolveu o laudo técnico adicional para colaborar com as investigações, após uma primeira avaliação feita pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo. Segundo o laudo original da polícia, o Porsche teria atingido uma velocidade de até 156,4 km/h na avenida e teria desacelerado para cerca de 114,8 km/h no momento da colisão.
As conclusões foram elaboradas pelo Instituto de Criminalística (IC), que analisou vídeos de câmeras de segurança mostrando o carro de luxo transitando na avenida, além das imagens da colisão e das câmeras corporais dos policiais militares que responderam à ocorrência e liberaram Fernando sem realizar o teste do bafômetro.
Fernando está detido desde 6 de maio e enfrenta acusações de homicídio por dolo eventual e lesão corporal gravíssima. Além de responder pela morte de Ornaldo, ele também responde pelos ferimentos do amigo, o estudante de medicina Marcus Vinicius Machado Rocha, que estava no banco do carona do Porsche.
De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Fernando “assumiu o risco de matar” Ornaldo ao dirigir em velocidade acima do limite para a avenida. Monique Ratton, promotora do caso, também o acusa de dirigir sob efeito de bebida alcoólica. Na época do acidente, o empresário negou ter ingerido álcool, mas testemunhas disseram à polícia que ele bebeu e vídeos da noite do acidente o mostram com a voz pastosa. Clique aqui para assistir. A namorada de Marcus Vinícius também afirmou que Fernando havia bebido.
Conforme apurado pelo g1, após o novo relatório da empresa alemã, caberá ao Ministério Público e a defesa de Fernando Filho argumentarem na Justiça qual a velocidade a ser considerada para o momento da colisão: os 114,8 km, como apurado pelo Instituto de Criminalística, ou os 136 km/h, como apontado pela Porsche.
Fernando teve sua prisão preventiva mantida e continua detido na Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo. Sua próxima audiência está agendada para as 16h do dia 2 de agosto, onde ele prestará depoimento por videoconferência diretamente da prisão, conforme solicitado por sua defesa.
O réu assistiu à primeira audiência do caso em 28 de junho através de um monitor de TV instalado em Tremembé. A sessão foi conduzida pelo juiz Roberto Zanichelli Cintra, da 1ª Vara do Júri, no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste de São Paulo.
Durante a audiência de instrução, foram ouvidas 17 das 25 testemunhas programadas, sendo dez de acusação e sete de defesa. Este procedimento serve para que a Justiça avalie se há indícios suficientes para levar o empresário a julgamento popular.
Novo inquérito
Após os novos desdobramentos, a Justiça de São Paulo determinou que a Polícia Civil abra um novo inquérito para investigar se parentes de Fernando Filho cometeram fraude processual no caso do Porsche. Testemunhas relataram ter visto familiares do motorista do carro de luxo retirando bebidas alcoólicas do veículo logo após o acidente e antes da chegada da perícia.