As tiktokers Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves viraram rés por injúria racial. Em maio do ano passado, mãe e filha foram acusadas de racismo ao aparecerem entregando um macaco de pelúcia e uma banana para duas crianças negras. Os vídeos foram postados no perfil da dupla, que, na época, alegou que os registros teriam sido “tirados do contexto”.
A juíza Simone de Faria Ferraz, titular da 1ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo, aceitou a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) no caso. Outros três processos ainda seguem em andamento. Em novembro do ano passado, a Delegacia de Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi) indiciou Kérollen e Nancy.
O Ministério Público do Rio de Janeiro ofereceu a denúncia à Justiça em 20 de janeiro. O g1 teve acesso às informações do processo e relatou o que a magistrada concluiu sobre o primeiro caso. “As denunciadas estariam buscando promoção pessoal e social, através das suas ações filmadas e postadas no aplicativo ‘Tik Tok’, sendo gravíssimo o fato de que a internet consiste num ambiente que não oferece nenhum controle de exposição e transmissão e que atinge ou pode atingir a população do mundo inteiro“, escreveu.
Em outro trecho, Simone apontou para a problemática racial. “Observa-se que o delito ora investigado não foi praticado mediante violência física. Contudo, a suposta prática criminosa envolve crianças, que foram atacadas em sua dignidade humana, pela cor da sua pele, mediante atitudes supostamente racistas. Tais atitudes, por si só, já representariam uma ofensa grave aos direitos constitucionais das crianças envolvidas. Entretanto, além de terem sido oferecidos brinquedos e frutas que poderiam ser utilizados com cunho racista, em detrimento das crianças, os atos das denunciadas ainda foram filmados e postados na internet, sem a autorização expressa dos responsáveis pelas crianças, que se encontravam nas ruas em situação de vulnerabilidade“, continuou.
Marcos Moraes, advogado dos responsáveis pelas crianças, também se manifestou sobre a decisão judicial. “Conseguimos finalizar a fase de investigação. Com o recebimento da denúncia, o escritório modelo da SACERJ atuará como assistente de acusação, a fim de colaborar, em juízo, para a condenação criminal das racistas“, disse ele, ao veículo.
Relembre o caso
Os vídeos de Kérollen e Nancy repercutiram em maio de 2023, devido a uma denúncia feita pela advogada Fayda Belo em suas redes sociais. Nas imagens, a mãe de Kérollen aparece perguntando para as crianças o que elas preferem ganhar, dinheiro ou um presente. Em ambas as ocasiões, os menores optam pelo embrulho. No primeiro vídeo, um menino recebe uma banana e fica chateado com a brincadeira. “Só isso?“, pergunta ele. “Gostou?“, questiona Nancy. Ao receber uma resposta negativa, ela dispara: “Mas foi você que escolheu“. Já no outro trecho, uma menina parece contente ao ganhar um macaco de brinquedo.
Depois da postagem chamar a atenção da web, Fayda afirmou que as influencers estavam praticando “racismo recreativo”, que ocorre quando alguém usa de “discriminação contra pessoas negras com intuito de diversão”. Na época, mãe e filha, que somam mais de 14 milhões de seguidores, também se pronunciaram sobre a polêmica através de comunicado. Elas alegaram que sempre promoveram inclusão, diversidade e igualdade em seus perfis e que “naquele contexto não havia intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias”.
A mãe do menino que recebeu uma banana também prestou depoimento na 74ª DP de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, e afirmou que a criança já havia sido abordada pelas criadoras de conteúdo. Os vídeos foram apagados da rede social. Se condenadas, elas podem receber pena de quase oito anos de cadeia.
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