Em novos detalhes sobre a morte de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, a polícia informou que a mãe dela, Cleusimar Cardoso, tinha o costume de gravar a família sob efeito da cetamina. A Rede Amazônica, afiliada da TV Globo, obteve imagens de todos consumindo a droga, além de aplicá-la com seringas.
Os registros foram incluídos pela polícia na investigação sobre o caso. Segundo as autoridades, eles foram feitos na casa onde Djidja foi encontrada morta, na Zona Norte de Manaus. Em um dos trechos, Cleusimar mostrou a filha paralisada diante do espelho de um banheiro, enquanto tentava conversar com a ex-sinhazinha.
Pouco depois, Djidja surge deitada e o irmão dela, Ademar Cardoso, à beira da cama, está completamente paralisado. No mesmo vídeo, a mãe mostrou marcas de picadas nela e no filho, e exibiu um frasco da substância. Assista:
Mãe de Djidja Cardoso costumava gravar os filhos sob efeito de cetamina pic.twitter.com/8SvXrD05RG
— WWLBD ✌🏻 (@whatwouldlbdo) June 4, 2024
Em depoimentos à polícia, familiares informaram que Djidja, Ademar e Cleusimar ficavam o tempo todo dentro de casa, fazendo uso da cetamina. Eles também denunciaram as tentativas de ajuda à jovem para obter um tratamento contra a dependência química. No entanto, foram impedidos pela mãe e pelo irmão dela.
Os três já eram investigados há mais de um mês por envolvimento em um grupo religioso. Eles criaram a seita “Pai, Mãe, Vida”, que incentivava o uso da droga, que tinha como objetivo “alcançar uma falsa plenitude espiritual”.
Prisões
De acordo com as investigações, Verônica da Costa, gerente de um salão da família, era a responsável por comprar a substância ilegalmente, sem receita médica. Ela tinha apoio de Marlisson Vasconcelos e Claudiele Santos, que também eram funcionários da família Cardoso. Os três (Verônica, Marlisson e Claudiele) estão presos por ordem judicial.
Além deles, Cleusimar e Ademar também estão detidos preventivamente. A defesa diz que a mãe de Djidja, o irmão e a funcionária Verônica estão sofrendo com crises de abstinência dentro das unidades prisionais em que estão custodiados. Todos foram presos na última quinta-feira (30), dois dias após o falecimento de Djidja, em Manaus, no Amazonas.
A Polícia Civil também investiga se Ademar teve relação sexual com sua ex-namorada enquanto ela estava sob efeito da droga. Caso seja confirmado, o episódio se caracteriza como estupro de vulnerável. Conforme as autoridades, há indícios de que a mulher sofreu um aborto dentro da residência por conta do uso de cetamina.
Operação
Após a morte da ex-sinhazinha, a Polícia Civil deflagrou a Operação Mandrágora, que investiga a seita “Pai, Mãe, Vida”, supostamente liderada pela família dela. De acordo com os documentos, eles forçavam os participantes a usarem a cetamina em rituais. A droga é usada como anestésico em procedimentos cirúrgicos, mas também causa efeitos alucinógenos. Ela é utilizada, principalmente, para a realização de cirurgias em animais de grande porte.
Conforme a corporação, as investigações sobre a existência da seita e a prática de crimes começaram há 40 dias, antes da morte de Djidja. Nesse tempo, foi descoberto que o grupo obtinha a cetamina em uma clínica veterinária, sem qualquer tipo de receita ou controle, e distribuía entre os funcionários da rede de salões de beleza.
A defesa da família Cardoso, no entanto, alegou que não existia nenhuma prática de grupo religioso e que eram apenas discursos feitos enquanto os suspeitos estavam sob efeito da droga. “Não existia esse negócio de ritual e de que funcionários e amigos eram obrigados ou coagidos a usar a droga. Não existia isso. Eles ofereciam sob efeito de drogas, com aquele argumento, com aquela alegação da transcendência da evolução espiritual”, declarou.
Causa da morte de Djidja
De acordo com um laudo preliminar divulgado pelo Instituto Médico Legal (IML), nesta segunda-feira (3), Djidja Cardoso faleceu por conta de um edema cerebral, que afetou o funcionamento do coração e da respiração. A suspeita é de que o uso excessivo de cetamina tenha culminado na complicação, já que a família da jovem tinha a droga aliada aos rituais da seita religiosa que liderava.
O documento aponta “depressão dos centros cardiorrespiratórios centrais bulbares, congestão e edema cerebral de causa indeterminada”, que é uma condição caracterizada pelo inchaço no cérebro. No entanto, o IML não explicou o que poderia ter desencadeado o problema. O resultado final da necrópsia e o exame toxicológico deverão ser divulgados até o fim deste mês.